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Bilionário chinês propõe 'hackear o cérebro' para acabar com sofrimento
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Chen Tianqiao resume em si a trajetória de muitos chineses que ficaram bilionários com o boom da indústria de tecnologia digital na China. Em 1999, quando sequer tinha 25 anos completos, Chen deixou uma juventude modesta para trás e começou a enriquecer ao receber seguidas séries de investimentos para a Shanda, então uma startup de social games.
Em 2004, quando a Shanda realizou seu IPO, Chen tornou-se oficialmente um bilionário um mês antes de completar 30 anos de idade. Casado e pai de filhos que ele define como "amorosos e saudáveis", Chen afirma que tinha tudo o que poderia desejar: uma família feliz, pais vivos e com saúde e uma conta bancária com mais de US$ 4 bilhões, segundo cálculos da Forbes.
"Apesar de tudo isso, eu não era feliz. Tinha depressão e crises e pânico", contou Chen ao jornalista americano e ex-editor da Time, Brian Walsh, em 2018.
Chen deixou os negócios, a rotina estafante e mudou-se com a família para Cingapura, a idílica ilha-Estado que, graças ao status de "paraíso fiscal", é o destino de nove entre dez bilionários chineses.
Lá, o ex-CEO da Shanda Games não se livrou das crises de pânico, taquicardia e súbito medo da morte. A resposta para seu sofrimento interior, Chen afirma ter encontrado no budismo.
Chen, que não era religioso até então, afirma ter se convertido ao deparar-se, em 2017, com um ensinamento de Buda que explica a vida como um período de sofrimento, com o qual devemos saber conviver.
Desde então, Chen faz doações sistemáticas para institutos de estudo do cérebro e da mente humana que pesquisam redes neurais, doenças do cérebro e os mecanismos que causam dor e sofrimento aos seres humanos.
De acordo com Chen, se a ciência foi capaz de interferir no funcionamento do cérebro das pessoas, poderá libertá-las da sensação de sofrimento e angústia excessivos e liberar mais momentos de felicidade nas vidas dos seres humanos.
No total, Chen já colocou US$ 1 bilhão de sua fortuna pessoal à disposição de pesquisas sobre o cérebro.
Alguns progressos, efetivamente, foram alcançados graças a suas doações. O instituto Richard Andersen, na Califórnia, descobriu formas de conectar o cérebro de uma pessoa com paralisia nas pernas (ou nos braços) a células nervosas da pele dos membros "paralisados". Assim, uma pessoa tetraplégica, por exemplo, que não tem estímulos nos membros superiores ou inferiores, pode voltar a sentir cócegas, ter sensação de calor e frio nestes membros ou mesmo do toque ou carinho feito por alguém em sua pele.
Outro avanço conquistado com financiamento de Chen é um estudo, publicado pela CalTech (o renomado instituto de tecnologia da Califórnia, que recebeu US$ 115 milhões de Chen) que revela como agem e se comunicam micróbios e bactérias que atuam em contato com as células de nosso sistema nervoso.
A vontade de Chen, no entanto, é descobrir maneiras de interferir nas reações químicas que ocorrem em nosso cérebro, criando um modo natural —livre de drogas, como os antidepressivos— de criar uma sensação de bem-estar durável e aliviar o sofrimento psicológico humano.
Para Chen, o avanço em pesquisas nesta direção poderia contribuir também para a superação de outras graves doenças que afetam a mente humana, como a demência, o Alzheimer ou a esquizofrenia.
A ambição de Chen, naturalmente, desperta inúmeras reflexões éticas. Qual sentido da memória e dos sentimentos humanos? Ser feliz graças a uma interferência que "torne mais normal" seu cérebro, é uma felicidade desejável?
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