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Só faz cópia? Fábrica do mundo, cidade chinesa agora quer criar tecnologia
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"Designed in California; assembled in China". A icônica frase registrada nos aparelhos da Apple define uma realidade que fica, a cada dia, mais esmaecida. Maior polo fabril da China, Shenzhen é sede das megafábricas da Foxconn, empresa que integra iPhones e iMacs, mas também onde se produz telas LCD usadas pela Samsung e motores elétricos utilizados pela Tesla.
Dados da prefeitura local indicam que no início dos anos 2000 90% de todos os eletrônicos vendidos no mundo ou foram fabricados ou têm algum componente feito no município. Quem visitou a cidade no início deste milênio e retornou nos últimos anos, no entanto, pode reparar sua prodigiosa transformação.
As fábricas continuam lá, ao menos a maioria das que existiam há 20 anos, mas mudaram-se para a periferia. Saindo do distrito de OCT, um dos bairros chiques e centrais da cidade, é preciso dirigir por mais de 50 minutos para chegar às plantas que produzem carros, computadores e painéis de energia solar.
Nos bairros centrais, empresas de software e serviços ocupam os espaços mais nobres. Símbolos digitais da China, como a Tencent, a desenvolvedora do WeChat e sua onipresente (ao menos na China) ferramenta de pagamentos tem sede em Shenzhen, assim como as áreas de pesquisa da Huawei e Lenovo, por exemplo.
No início de outubro, o governo municipal, que desfruta de autonomia especial podendo regular impostos e tarifas de forma independente de Pequim, anunciou um audacioso plano para estimular suas empresas de tecnologia a abrir capital e atraírem sócios internacionais.
A cidade planeja ser sede também de startups estrangeiras que buscam uma porta de entrada no multibilionário mercado chinês.
O fenômeno é relevante porque marca a transição de uma China que "executa tarefas" ("assembled in") para outra que "cria as novas tecnologias" ("designed in").
O país, que já não desfruta do bônus demográfico que viveu há 20 anos (milhões de jovens dispostos a trabalhar por baixos salários nas novas cidades) luta agora contra o desafio da "renda média".
Há alguns anos, fabricar na China já não é tão barato quanto antigamente. Fábricas internacionais de produtos com menos valor agregado —como as indústrias têxtil e de brinquedos, por exemplo— estão se mudando para Indonésia, Filipinas ou Vietnã, onde paga-se menos aos trabalhadores.
Mesmo as marcas que fabricam para o mercado doméstico têm buscado mudar-se para o Oeste da China, região mais pobre do país e, consequentemente, com custos operacionais menores.
O plano de Shenzhen, a cidade mais moderna e brilhante da nova China, é atrair para si empreendedores de setores como biomedicina, energias renováveis, robótica e semicondutores, este último um segmento totalmente prioritário para a economia local, que sofre com a falta de chips desde que os Estados Unidos apertaram as restrições comerciais contra o país.
Se, nos anos 80, a "Zona Econômica Especial de Shenzhen" mostrou ao mundo a face de um país que deixava de lado o marxismo clássico e buscava a transição para "uma economia industrial de mercado", agora a história se repete, revelando a China que inova —e não a que copia.
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