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Big techs apresentam mais uma novidade na China: benefícios ao trabalhador
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Um dos temas mais sensíveis no debate sobre a ascensão econômica da China é a superexploração da mão de obra local, historicamente submetida a más condições de trabalho.
Na década de 2010, por exemplo, escandalizou o mundo o fato de 23 funcionários da Foxconn, companhia contratada pela Apple para produzir os reluzentes iPhones, terem cometido suicídio nas plantas fabris de Shenzhen.
À época, os trabalhadores cumpriam jornadas de até 66 horas semanais, para cumprir metas de produção impostas pela Apple. Frente ao escândalo global, muitas práticas foram alteradas na Foxconn, que passou a oferecer, por exemplo, assistência psicológica preventiva a seus trabalhadores.
Em 2012, tive a oportunidade de visitar o campus da Foxconn, em Shenzhen e causou-me surpresa a instalação de redes de proteção nos dormitórios dos trabalhadores. O objetivo era evitar que eles se jogassem das janelas.
Maior espanto tive, porém, quando entrevistei os operários. Eles se queixavam de, em função da repercussão internacional do caso, as horas extras excessivas terem sido proibidas. As jornadas, no momento das minhas entrevistas, estavam limitadas a 48 horas semanais.
O razão da queixa residia no fato de serem justamente as horas extras as responsáveis por elevar seus ganhos e permitir que fizessem alguma poupança.
Em uma década, no entanto, muita coisa mudou na China.
Os salários cresceram enormemente, ainda que menos que a média da economia chinesa, o que significa dizer que os trabalhadores tiveram sua renda elevada, mas em ritmo menor que a de seus empregadores.
Um estudo publicado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), organismo das Nações Unidas, atestou em 2018, que os trabalhadores chineses já ganhavam mais que seus congêneres na América Latina (com exceção do Chile) e tinham renda "similar" a operários de países menos desenvolvidos da Europa, como Grécia ou Portugal.
De fato, se você observar as etiquetas de produtos têxteis ou eletrônicos simples à venda aqui no Brasil mesmo, notará que muitas delas registram "Made in Bangladesh" ou "Made in Indonesia". Com a elevação do custo de mão de obra na China, estas indústrias que agregam menos valor à matéria-prima, deslocaram-se para hubs mais baratos, como os países do sudeste da Ásia.
O que o estudo da OIT não diz é que, se a renda do chinês é equivalente a de um trabalhador português, sua jornada de trabalho, por outro lado, é muito mais extensa. E esta característica se verifica até mesmo (ou sobretudo) em cadeias produtivas de elevado valor agregado, como a indústria de tecnologia, das pequenas startups às big techs.
Neste segmento, tornou-se célebre a expressão "996", que define as jornadas das 9 da manhã, às 9 horas da noite, seis dias por semana.
Trabalhar em excesso é visto na cultura local —como em muitas outras, aliás— como algo positivo, um símbolo do comprometimento com o progresso individual, da empresa e do país.
As consequências sociais deste hábito, porém, não são as melhores. Uma delas é a queda na taxa de natalidade do país, que envelhece rapidamente. Afinal, a que horas vamos cuidar das crianças?
Outro desdobramento óbvio é o adoecimento precoce dos trabalhadores chineses que —surpresa— não são máquinas!
Recentemente, menos por generosidade e mais por um misto de pressão governamental e dificuldade de fazer os jovens talentos aceitarem ritmos de trabalho tão acelerados, muitas corporações chinesas estão tentando reduzir o tempo de seus colaboradores dentro da empresa.
A ByteDance, por exemplo, empresa que controla o TikTok, anunciou que além das férias anuais de duas semanas e dos feriados nacionais, já previstos em lei, cada trabalhador poderá tirar 10 dias adicionais de descanso... para "cuidar da própria saúde ou da saúde de familiares".
As folgas programadas podem ser usadas, por exemplo, para visitas a médicos, check-ups de saúde ou para cuidar de algum amigo ou parente que enfrente dificuldades médicas.
Note que o descanso não vale para fins como ir à praia ou maratonar no streaming. Há uma clara preocupação em criar um tempo para o cuidado com a saúde.
O episódio não é isolado e acompanha medidas já anunciadas por outras big techs chinesas, como Tencent, Alibaba e Baidu, que disputam entre si os profissionais mais qualificados desta indústria.
Ao se globalizar, as techs chinesas também precisam ser atraentes para trabalhadores internacionais, que as ajudem a conquistar novos mercados. Se as mesas de pingue-pongue e comida à vontade encantam os talentos que mandam CVs para Google e Facebook, por exemplo, as techs chinesas precisam oferecer algo semelhante para ter a seu lado as melhores mentes. E, nem sempre, oferecer um bônus mais gordinho —tradicionalíssimo apelo chinês— é suficiente.
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