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Felipe Zmoginski

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Com temor de uso militar, EUA querem cortar grana para startups chinesas

Startups chinesas de tecnologia oceanográfica viram alvo americano - Naval Open Source
Startups chinesas de tecnologia oceanográfica viram alvo americano Imagem: Naval Open Source

21/04/2023 04h00

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Um órgão do governo americano apresentou uma proposta para impedir empresas americanas de investir, comprar ações ou ajudar financeiramente startups de tecnologia chinesa. A medida foi apresentada por técnicos da USCC, siga em inglês para "Comissão de Revisão Econômica e de Segurança", órgão ligado ao departamento de Defesa dos Estados Unidos, na semana passada.

De acordo com a USCC, há muitos fundos de investimento americanos ajudando o ecossistema chinês de inovação em tecnologia a se desenvolver.

Entre os fundos de "capital de risco", como são chamados as entidades que investem em pequenas startups (com grande potencial de crescimento, mas risco elevado de não fazer sucesso) citados pelo governo americano está a Sequoia Capital, um dos mais famosos do mundo, com sede na Califórnia.

O argumento principal é que pequenas empresas de tecnologia da China podem estar se beneficiando destes acordos para criar soluções que, ao final de seu ciclo de desenvolvimento, possam ajudar o país asiático a sofisticar suas forças armadas.

O caso remete a um intrincado problema em que os americanos veem sua vantagem econômica, comercial e, agora, militar sobre a China diminuir ano a ano.

A USCC afirma que todo investimento americano em empresa tech da China deveria ser revisado por autoridades americanas e só autorizado caso a caso.

No raciocínio da comissão, existem muitas tecnologias "pacíficas" que têm ótima aplicação em uso civil e comercial, mas há casos em que elas podem servir para fins militares.

Um dos exemplos citados foi o de startups chinesas de inteligência artificial que se decidam a desenvolver tecnologias para pesquisar os oceanos, a topografia do fundo do mar e o comportamento das correntes marinhas. Para a USCC, o esforço não tem a ver com uma "legítima" vontade de conhecer melhor a natureza, mas sim criar soluções para uma eventual guerra submarina.

Há muitos anos os Estados Unidos são —sozinhos e com enorme vantagem— o país que mais investe em segurança e gastos militares.

Segundo o Lawy Institute, só em 2022, o tesouro americano gastou US$ 854 bilhões em defesa. Para efeito de comparação, o segundo colocado, a China, investiu US$ 377 bilhões, no mesmo período. Coincidentemente, os gastos em defesa chineses são majoritariamente concentrados no desenvolvimento de sua Marinha.

O debate levantado pela USCC é mais um capítulo da longa luta estratégica que os dois países vêm travando ao longo dos últimos anos, em que americanos se esforçam para "chutar a escada" de ascensão chinesa e manter-se como potência hegemônica.

Na última semana, por exemplo, por ocasião da visita do presidente Lula à China, discutiu-se que os dois países poderiam fazer comércio entre si sem usar o dólar como moeda de intermediação.

Se isto se concretizar, se enfraquece mais um tijolinho do Lego de vantagens americanas, a de controlar a moeda-padrão usada em transações internacionais e "sancionar" países que os desagradem de fazer livre comércio com o mundo.