Topo

Felipe Zmoginski

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

IA made in China: como big techs chinesas podem levar tecnologia ao povão

Funcionária apresenta vídeo sobre inteligência artificial em feira de tecnologia em Guizhou, na China - Ou Dongqu - 26.mai.2022/Xinhua
Funcionária apresenta vídeo sobre inteligência artificial em feira de tecnologia em Guizhou, na China Imagem: Ou Dongqu - 26.mai.2022/Xinhua

12/05/2023 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

As três grandes corporações chinesas que iniciaram a construção do ecossistema digital da China —Baidu, Alibaba e Tencent— anunciaram isoladamente, esta semana, planos para tornar mais acessíveis produtos e soluções baseados em inteligência artificial.

Como é comum sempre que uma nova tecnologia surge, o custo pago pelos "early-adopters" —aqueles que abraçam cedo as novidades de mercado— é alto e, à medida que tal tecnologia ganha escala, vai caindo gradativamente.

Este é o caso da maior parte das soluções e produtos que usam inteligência artificial: eles ainda têm custo elevado (e são imperfeitos) para serem adotados em massa por pessoas ou empresas.

O Baidu informou que seu serviço Ernie (equivalente ao ChatGPT) apresentou uma evolução —em termos de acurácia e eficiência— 10 vezes superior à exibida há apenas um mês.

Em outras palavras, isto significa que o ganho de "aprendizagem" destes serviços ocorre de maneira exponencial, o que nos permite projetar o poder colossal que tais soluções terão em alguns (poucos) anos.

O grupo Alibaba, por sua vez, divulgou que "alterações na arquitetura de programação" estão fazendo os custos de uso de seus serviços de inteligência artificial (IA) caírem em ritmo veloz.

Comunicado similar fez a Tencent, ao anunciar a criação de "produtos populares" para o uso de suas soluções de IA.

Estes anúncios são relevantes pois a capacidade computacional destas três big techs é, de fato, enorme e seu uso para fins de popularização da IA tem peso decisivo.

Esta é, aliás, uma característica muito própria da China. Em outros momentos da história da indústria de tecnologia, soluções de alto custo só se massificaram graças à atuação de grandes companhias chinesas.

Tomemos o exemplo dos carros elétricos.

Os lindos, modernos e tecnológicos Tesla são caros para o público de massa, mas os veículos da Nio ou BYD cabem no bolso de taxistas, motoristas de aplicativos e da classe média popular. Não à toa, a China tem a maior frota deste tipo de carros no mundo.

Até mesmo a Tesla, para oferecer seus veículos com custo e margem de lucro que deixem Elon Musk feliz, escolheu a China para implantar suas maiores fábricas.

O mesmo raciocínio pode ser aplicado para muitos outros setores.

As redes 5G, por exemplo, só estão chegando a países emergentes, como as nações da África e do Sudeste da Ásia, graças aos preços "competitivos" da Huawei.

Neste sentido, a prioridade que as big techs chinesas vem dando à IA é um sinal inequívoco de que tal tecnologia deve se massificar e ser oferecida a custos módicos graças ao selo "made in China".