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Felipe Zmoginski

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Uso de robô autônomo chinês mostra como empregos vão sumir no varejo

Robô autônomo da Geek+ trabalha em centro de distribuição - Divulgação/ Geek+
Robô autônomo da Geek+ trabalha em centro de distribuição Imagem: Divulgação/ Geek+

21/07/2023 04h00

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A história se repete. Ascende uma nova tecnologia e milhares de empregos são destruídos. O fato novo, agora, é que este processo deve ocorrer em ritmo inédito, seja pelo avanço da inteligência artificial, seja pela automação progressiva de diferentes indústrias.

A China é um caso emblemático para este tipo de análise pois, em diversos setores, o país lidera o avanço tecnológico global.

Na indústria de varejo, por exemplo, a China é o país mais digitalizado do mundo. Por lá, 51% de todas as vendas ocorrem em canais digitais, como o e-commerce —os demais 49% estão nas lojas físicas, shopping centers, centros comerciais, enfim, o mundo offline.

Para efeito de comparação, os países mais avançados —depois da China— como Estados Unidos, Coreia do Sul e Reino Unido, têm só 30% de seu varejo digitalizado, de acordo com dados da consultoria eMarketer.

Se as pessoas deixam de ir às lojas e passam a comprar quase tudo o que precisam em apps de celular, está entendido que os empregos nas lojas vão morrer, não é?

O raciocínio óbvio é que outros empregos serão gerados na indústria de logística, armazenamento e transporte.

Não exatamente.

Na última semana, por exemplo, a startup chinesa Geek+ anunciou ter vendido mais de 300 mil robôs que operam o manuseio, embalagem e separação de pedidos em "warehouses", os centros de distribuição.

A empresa, cujo valor de mercado é de US$ 2 bilhões, vende seus robôs para marcas internacionais como Nike, Walmart e Decathlon.

Como os robôs trabalham 24 horas por dia, 7 dias por semana, o uso destas máquinas, além de reduzir custos trabalhistas, melhora enormemente a eficiência logística. Ou seja: as encomendas chegam mais rápido até o consumidor.

A empresa é a segunda maior fabricante deste tipo de robôs no mundo. A primeira é a Amazon Robotics, que já fabricou 500 mil unidades.

Há de se registrar que os robôs da Amazon ficam todos presos no ecossistema da companhia americana, que não revende e não repassa sua tecnologia a terceiros, ao passo que a Geek+ o faz para qualquer um que tenha dinheiro para contratá-la.

Também na China, cidades como Pequim, Shenzhen e Xangai autorizam, em diferentes níveis, a circulação de pequenos veículos autônomos para entregas de última milha. Mais uma vez, foi-se o emprego do motorista e do entregador.

Estes temas não são triviais e não se compararam a outros momentos da história, como aquele em que o condutor de bondes perdeu o trabalho para o motorista de ônibus. Ou a fabricante de vitrolas que faliu ante a ascensão dos players de "compact disc".

Trata-se de uma perda de postos de trabalho em ritmo inédito na história, como robôs e algoritmos capacitados a exercer potencialmente qualquer atividade humana, mesmo aquela feita por profissionais altamente qualificados.

Em um mundo dominado por máquinas e desemprego em massa, quem poderá consumir os produtos e serviços que estas mesmas máquinas nos proverão?