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Felipe Zmoginski

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

China aposta em mais intervenção do Estado para criar sua indústria 5.0

Fábrica de baterias de carros elétricos em Tangshan, na China - Xinhua/Yang Shiyao
Fábrica de baterias de carros elétricos em Tangshan, na China Imagem: Xinhua/Yang Shiyao

28/07/2023 04h00

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É muito comum ouvirmos especialistas de diversas áreas se referirem à China como "fábrica do mundo". De fato, o país detém sozinho 30% da produção industrial global. O valor é impressionante, sobretudo se pensarmos que o 2º e 3º colocados neste ranking, respectivamente Alemanha e Estados Unidos, detêm cada um pouco mais de 8% da produção industrial do globo.

O fato novo é que, desde o início da guerra comercial com os Estados Unidos, a indústria chinesa vem enfrentando progressivas dificuldades em expandir-se.

Nos primeiros cinco meses deste ano, por exemplo, a riqueza gerada pela indústria local cresceu 4,8% sobre igual período do ano anterior.

Pode parecer um número elevado, mas, para os padrões chineses, não é. Em um passado recente, a indústria, motor da economia local, expandia-se sempre em ritmo superior à média da economia nacional, sempre acima dos 6% anuais.

Há um evidente esforço, por parte dos Estados Unidos, em limitar o avanço da indústria chinesa em segmentos mais sofisticados, como a fabricação de novos materiais, semicondutores, equipamentos para produção de energia renovável e, claro, soluções de inteligência artificial.

Com um modelo de desenvolvimento muito peculiar, a China anunciou uma série de medidas para fortalecer o que chama de "indústria 5.0", definido como a interação das máquinas já existentes (indústria 4.0) e sua operação por algoritmos de inteligência artificial.

A primeira medida foi o anúncio, na última semana, de um plano de US$ 29 bilhões dedicados a financiar a modernização das plantas fabris do país e financiar pesquisas em inovação industrial.

O fundo conta com recursos de 20 entidades diferentes, inclusive de grupos internacionais e agentes privados chineses. A maior parte do capital (cerca de 15% do total), no entanto, será aportada pelo MOFCOM, como é conhecido o ministério do Comércio no país.

Além de colocar dinheiro à disposição das indústrias locais, o país está colocando mais representantes governamentais dentro das empresas privadas de tecnologia. O método é apelidado de "double engine", em que governo e setor privado colaboram para o desenvolvimento econômico.

Também na última semana, foram anunciados os nomes de 100 agentes do governo da província de Zhejiang que vão "participar ativamente" do trabalho nas corporações privadas de Hangzhou, cidade conhecida por concentrar muitas das empresas mais brilhantes do país, como o grupo Alibaba.

Ao que tudo indica, ao contrário do discurso hegemônico em boa parte do Ocidente, na China acredita-se que "mais intervenção do Estado" é o que permite crescimento e desenvolvimento. A conferir.