Por que sistema operacional líder na China não é Android ou iOS?
O Alibaba divulgou números parciais do festival de vendas "11.11", o maior do mundo em volume de bens transacionados, que é até oito vezes superior à Black Friday norte-americana. Uma das conclusões reveladoras é que, pela primeira vez nos últimos nove anos, o smartphone mais vendido nesta data promocional na China não foi um iPhone. E mais incrível: o líder em vendas também não foi um Android.
O celular mais vendido foi o Mate 60 5G, um dos modelos topo de linha da Huawei, que roda Harmony OS. Esse foi o sistema operacional criado pela fabricante de Shenzhen que, desde 2018, é alvo de múltiplas sanções dos Estados Unidos.
As vendas do Mate 60 registraram alta de 66% em relação à mesma data, em 2022. Já o iPhone anotou recuo de 4%, segundo o Alibaba.
O sucesso de vendas motivou a Huawei a declarar que pretende, a partir de 2024, não mais dar suporte a apps de Android.
A corporação chinesa está proibida de usar qualquer tecnologia de empresas americanas, o que a impede de embarcar Android em seus smartphones.
Na prática, a medida impede a Huawei de ser um player relevante no mercado internacional de smartphones. Afinal, o que um consumidor americano, europeu ou brasileiro faria com um aparelho que não roda Android ou iOS?
A mesma lógica, porém, não vale para o mercado doméstico chinês, o maior do mundo, com mais de 400 milhões de novos aparelhos comercializados todos os anos.
Também nesta semana, os desenvolvedores da suíte de produtividade DingTalk anunciaram que redesenharam completamente seus aplicativos para rodar de forma mais fluida no Harmony OS.
Para que entendamos o impacto disso, o DingTalk é, para os chineses, o que os serviços do Google são para o mercado Ocidental, com serviços como Docs, Sheets e Drive ou, numa outra comparação, o equivalente ao Office 365, da Microsoft.
Estes eventos nos permitem compreender como os bloqueios à China estão influenciando o mercado de tecnologia ao promover a ascensão de um terceiro sistema operacional móvel e bagunçar uma disputa que já parecia resolvida entre Andoid e iOS.
Por outro lado, o instituto Global Data Figures mostrou que o volume de venture capital (VC) investido em startups chinesas caiu 29% neste ano até novembro em comparação com igual período de 2022. Em relação ao número de negócios feitos por VCs, a redução foi de 15,7%.
Uma tradução em bom português é: os donos de fundos estão mais temerosos para investir nas empresas inovadoras chinesas.
As razões para isso são muitas, como a desaceleração do crescimento chinês, mas certamente há grande influência da instabilidade causada pela competição comercial com os EUA.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.