É ano do Dragão: para a China, significa mais grana para tecnologias verdes
Quando o tema é China, os números são sempre superlativos. Nesta semana, o país entra em seu mais importante feriado, o Ano-Novo lunar, quando mais de 500 milhões de chineses viajam das cidades onde vivem, para os municípios e vilarejos onde nasceram. O gasto energético com esta movimentação é descomunal.
O país, maior emissor de gases de efeito estufa do mundo, é também o maior consumidor mundial de carvão e o segundo maior consumidor de petróleo, dados que fazem da China um vilão ambiental, certo? Não exatamente. Para observar a responsabilidade chinesa pela poluição no mundo é recomendável levar em conta dois fatores: emissão per capta e taxa de exportações.
Com 1,4 bilhão de habitantes, a China é "apenas" o 91º emissor de CO2 do mundo, bem atrás de países como Chile, México, Portugal, França ou Espanha. Ou seja, para viver, se alimentar e se aquecer, um chinês polui muito menos que seus equivalentes latino-americanos ou europeus.
Mais, o consumo de petróleo na China é menor que nos Estados Unidos, mesmo o país americano tendo quase um quinto da população chinesa.
É relevante notar que grande parte da emissão chinesa se deve ao fato de o país ter o maior parque industrial do mundo e ser o maior exportador de itens industrializados do planeta. Em outras palavras, a emissão que é contabilizada como chinesa, na verdade, é para produzir carros, celulares, roupas, computadores e brinquedos que são utilizados por europeus e americanos, por exemplo.
Para além disso, a China fechou 2023 como o país que mais investiu em energias não fósseis, aí contabilizadas tecnologias eólica, solar, hidráulica e nuclear. Os gastos, de acordo com a Bloomberg, foram de US$ 132 bilhões, mais do que a soma dos investimentos dos países da União Europeia e Estados Unidos em energias limpas.
De acordo com o planejamento de Pequim para o próximo triênio, o objetivo é rebalancear a matriz econômica do país para atividades que demandem menos energia. Leia-se, menos indústria pesada e mais soluções de alta tecnologia, como inteligência artificial.
A razão para a elevação nos investimentos em energias verdes bem como para atividades econômicas que demandem menos energia pode ter menos a ver com a preocupação com o meio ambiente, embora certamente o aquecimento global seja uma preocupação real. O motivo mais premente pode ser apenas geopolítico, o de diminuir a dependência chinesa da importação de petróleo, uma commodity que já levou o mundo a muitas guerras.
A grande contribuição chinesa para a geração de energia sustentável, no entanto, pode vir de seu projeto de fusão nuclear, testado em um laboratório na cidade de Hefei, leste do país. O método de fusão, em que o núcleo de dois átomos se funde em um, mais pesado, liberando grande quantidade de energia é considerado uma inovação de grande impacto, testada por pesquisadores em várias partes do mundo.
Em Hefei, no último ano, os cientistas chineses conseguiram manter um reator de energia por fusão funcionando de forma estável por mais de sete minutos. Pode parecer pouco, mas é o mais longo período de um reator deste tipo em funcionamento.
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