Gasto militar é o maior desde 1945, e salto tech chinês é aviso ao Ocidente
O IEE (Instituto Internacional de Estudos Estratégicos), entidade com sede em Londres, anunciou esta semana que os gastos militares, no mundo, são os maiores desde o final da 2ª Guerra Mundial, em 1945. Em termos proporcionais à riqueza dos países, gastou-se mais ao longo de 2023 que em qualquer outro período pós 1945, incluídos aí as décadas de Guerra Fria.
Há diversos fatores que justificam o gasto global recorde. O mais importante deles é a guerra na Ucrânia, que está drenando recursos da Rússia e dos países que apoiam a defesa ucraniana.
Ao observar o crescimento dos gastos militares em perspectiva, no entanto, os números que despertam mais a atenção são os chineses.
Segundo o IIEE, a China multiplicou por dez seus investimentos militares ao longo dos últimos 20 anos e é, atualmente, o 2º país que mais investe em defesa no mundo. Está atrás só dos Estados Unidos.
Ao todo, os gastos globais com defesa em 2023 foram de US$ 2,2 trilhões, o equivalente ao PIB de um ano inteiro do Brasil. A liderança desde ranking é, de longe, dos americanos, que investiram US$ 905 bilhões em gastos militares em 2023. Logo depois, aparece a China, com US$ 219 bilhões, mais do que o dobro do terceiro colocado no ranking, a Rússia, com gastos de US$ 108 bilhões.
A maior parte dos investimentos chineses esteve concentrada na construção de um sistema próprio de geolocalização, o BDS, que é uma versão nacional do GPS, usado no mundo todo.
Também há recursos destinados a armamentos para conflitos no mar. A China é o país que mais investiu em embarcações de guerra e submarinos nos últimos cinco anos, diz o relatório.
O estudo do IIEE afirma ainda que o recente avanço tecnológico da China, como a construção de infraestrutura 5G, centrais de armazenamento de dados e a fabricação nacional de semicondutores impulsionou os gastos militares do país. Os equipamentos tiveram de ser renovados para que estivessem atualizados com os padrões tecnológicos que a própria China vem impondo à indústria de telecomunicações e de eletrônicos em todo o mundo.
A repercussão do relatório publicado pelo IIEE fez Pequim se manifestar. O governo chinês afirmou ser um país pacífico e que a alta nos gastos nas últimas décadas acompanha o crescimento do PIB, que também cresceu muito. Em sua defesa, a China lembrou investe "apenas" 1,7% de seu PIB em despesas militares.
Para especialistas, no entanto, os dados informados pelo governo chinês podem não ser 100% verdadeiros e até ocultar outras verbas que, secretamente, estariam sendo aplicadas em tecnologia militar.
O país não tem contencioso relevante com seus vizinhos terrestres. Ainda assim, a presença militar dos Estados Unidos no Mar da China é uma questão central para a segurança chinesa — os americanos possuem bases fixas no Japão e na Coreia do Sul.
Ainda mais sensível é a "Questão Taiwan", ilha que desde os anos 1950 reivindica autonomia em relação a Pequim, que nunca aceitou abrir mão deste território. É justamente com o objetivo de "dissuadir" Taiwan de anunciar independência ou aproximar-se mais de aliados Ocidentais que a China fez crescer seus investimentos, especialmente em sua marinha. A julgar pelo planejamento da China, os gastos militares globais devem continuar em alta nos próximos anos.
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