Comparei o novo MacBook Air com o modelo Pro de 2019 e me surpreendi
Os novos Macs equipados com chip da Apple já estão disponíveis no mercado há algumas semanas. Estou testando um deles esta semana e trago aqui as minhas primeiras impressões da nova máquina: um MacBook Air com chip M1 da Apple, 8GB de memória RAM e 512GB de SSD, modelo bem de entrada mesmo (a única coisa que não é padrão é o SSD, que aumentei para 512).
Como a experiência de cada usuário depende muito do tipo de tarefa executada no computador, vou descrever brevemente o que eu faço no Mac. Sou desenvolvedor de apps para iOS e Mac, portanto, uso bastante o Xcode (IDE da Apple).
Além disso, utilizo o Mac para algumas tarefas de audiovisual como gravar e editar podcasts, pequenas edições de vídeo, além das tarefas que a maioria dos usuários realiza: navegar na internet, assistir vídeos, editar planilhas, etc.
Performance
Vou comparar o MacBook Air M1 de entrada com meu MacBook Pro de 16 polegadas, modelo topo de linha lançado no ano passado. Pode parecer uma comparação injusta, afinal estamos comparando um computador de US$ 999 — o MacBook Air — com outro que custa lá fora US$ 2.999 — MacBook Pro na exata configuração que eu tenho.
Apesar da comparação parecer absurda, o nível de performance atingido pelo SoC M1 da Apple é tamanho que compará-lo com um modelo anterior equivalente — como o MacBook Air do começo do ano, com i3 da Intel — não tem graça, afinal o M1 faz o i3 da Intel parecer um processador de calculadora.
Ao abrir a tampa do novo MacBook Air pela primeira vez, já se percebe algo diferente, pois o Mac liga e o logo da Apple aparece na tela instantaneamente, antes mesmo de terminarmos de ajustar o ângulo da tela. O tempo de boot é muito rápido, similar ao de um iPhone ou iPad e o setup também é bastante rápido.
Mas é no uso do dia a dia que os ganhos de performance são ainda mais perceptíveis. A abertura da grande maioria dos apps acontece instantaneamente.
Sabe quando você clica em um app no Dock e ele vai dando pulinhos até abrir? Então, no novo MacBook Air a maioria dos apps não chega a completar um pulinho completo para estar aberto e pronto para o uso. Mesmo apps pesados como Photoshop abrem muito rapidamente.
Outra situação do dia a dia que ficou muito mais rápida foi ligar o computador após muito tempo em repouso, o que agora não é muito diferente de pegar seu iPhone na mesa e ver ele despertando e desbloqueando imediatamente. Ainda não temos Face ID no Mac, mas o Touch ID do novo MacBook Air é muito rápido e a opção de usar o Apple Watch para desbloqueio também atende muito bem.
A placa gráfica integrada no M1 também se mostrou bastante eficiente. Tarefas como mudar a resolução do display ou plugar um monitor externo acontecem instantaneamente e sem aquelas piscadas esquisitas que ocorrem nos Macs com processadores Intel.
Como a tarefa mais demorada que costumo fazer é compilar apps no Xcode, resolvi fazer um comparativo entre meu MacBook Pro de 16" e o novo MacBook Air, compilando meu app ChibiStudio do zero.
O MacBook Pro de 16" Intel demorou 43 segundos, o novo MacBook Air com M1 da Apple demorou 26 segundos. O modelo de entrada com processador da Apple levar praticamente a metade do tempo do modelo topo de linha Intel me surpreendeu.
Os 8 GB de memória RAM parecem pouco, mas até o momento não consegui perceber nenhum momento em que o Mac ficou lento por conta disso, mesmo em uma situação onde estava reproduzindo um vídeo do Youtube 4K em tela cheia no Google Chrome, usando Xcode, Slack, Mail, Fotos e Photoshop ao mesmo tempo. Apesar disso, recomendo optar pelo modelo de 16 GB de memória se possível, especialmente quando a ideia for usar o Mac como máquina principal de trabalho.
Aquecimento (ou a falta dele)
O design dos novos Macs com chip da Apple é basicamente o mesmo dos modelos que eles substituem. Uma diferença importante, apesar de interna, é que o novo MacBook Air não possuí ventoinha, portanto ele é completamente silencioso. Mesmo os modelos com ventoinha — os novos modelos do MacBook Pro e Mac Mini — raramente ativam a ventilação de forma audível.
Por conta dessa falta de resfriamento ativo com uma ventoinha, imaginei que o MacBook Air ficaria muito mais quente, mas tive uma surpresa positiva: o corpo dele raramente chega a ficar morno, na maior parte do tempo nem dá para perceber pela temperatura se ele está ligado.
Estas experiências foram em ambiente interno com ar-condicionado, mas meu MacBook Pro de 16 polegadas fica muito quente, mesmo nessas condições, então não acredito que o ar-condicionado tenha feito tanta diferença.
Bateria
No dia em que estou escrevendo este texto, comecei a utilizar o novo MacBook Air por volta das 10 da manhã e utilizei ele continuamente incluindo Xcode, navegação no Safari, playback de vídeos em 4K no Youtube no Chrome, videoconferência, Mail, Fotos, Mensagens, Slack, entre outras coisas. Agora são 15:40 e o MacBook Air ainda está com 72% de bateria. Ou seja, em pouco menos de 6 horas de uso variado, ele consumiu somente 28% de bateria.
Essa durabilidade absurda da bateria se deve à capacidade do chip M1 de utilizar os diferentes núcleos para tarefas que demandam potência diferente. O processador dentro dele tem 8 núcleos: 4 de alta performance e 4 de alta eficiência energética.
Além disso, a arquitetura em si permite que o chip desperdice menos energia na forma de calor, o que acontece muito nos chips da Intel usados até então.
Compatibilidade
Uma preocupação recorrente a respeito dos novos Macs, por conta da troca de arquitetura do processador, é quão preparados estão os apps para funcionar nesse novo ambiente.
A notícia aqui também é boa: a enorme maioria dos apps que você usa no dia a dia já está totalmente adaptada para rodar nativamente nos novos Macs com processador da Apple. Além disso, até mesmo os apps que ainda não foram adaptados para a nova arquitetura também funcionam normalmente graças à tecnologia Rosetta 2, que "traduz" apps Intel para rodarem no chip M1.
É normal esperar uma degradação de performance nesses casos, mas até aí o M1 impressiona: é muito difícil perceber se determinado app está rodando nativamente ou se é um app Intel "traduzido". A única forma de perceber isso de fato é olhando no Monitor de Atividade, que mostra quais apps estão rodando em "modo Intel" ou "modo Apple".
Como já mencionei em artigo anterior, o maior problema de compatibilidade no momento está em virtualização e dual-boot. Algumas pessoas já conseguiram rodar o Windows 10 através de virtualização nos novos Macs, mas outras ferramentas que dependem dela como Docker (muito usado por desenvolvedores) ainda não estão devidamente adaptadas, mas isso é só uma questão de tempo.
Apps do iOS no Mac
Uma novidade interessante dos Macs com processador da Apple é que agora é possível rodar aplicativos do iOS — tanto para iPhone quanto para iPad — no Mac sem que o desenvolvedor precise fazer nada. Basta procurar determinado app na App Store, selecionar a aba de apps de iPhone e iPad e instalar normalmente.
O único porém aqui é que os desenvolvedores podem optar por não deixar seus apps de iOS disponíveis no Mac, e, infelizmente, muitos resolveram fazer exatamente isso. Apps como Instagram, TikTok e Youtube não estão disponíveis na App Store do Mac.
Apesar disso, existe sim uma forma de instalar esses apps no Mac. Não vou entrar em detalhes aqui, mas qualquer app que você já tenha baixado alguma vez no seu iPhone ou iPad pode ser instalado nos Macs com processador da Apple através de side loading, utilizando um app como o iMazing para baixar o pacote do app. Foi através desse truque que eu instalei apps como Instagram, YouTube, iFood e outros no meu Mac.
A experiência de uso deles varia muito de acordo com o app. É óbvio que é um pouco esquisito usar um app de iPhone no Mac, por exemplo, mas apesar de ser estranho e do app não parecer ser para Mac — afinal ele não é — eu gosto de ter essa opção disponível, pois prefiro ter um app de iPhone na tela do meu Mac do que não ter.
Coisas como gestos nos apps podem ser feitas através de gestos no trackpad. Editando um story no Instagram, por exemplo, é possível usar o gesto de pinça no trackpad do Mac para redimensionar os elementos gráficos na tela. Apps que usam câmera automaticamente ligam a câmera FaceTime do Mac (após a devida permissão, claro).
Até mesmo apps que dependem de geolocalização funcionam, apesar do Mac não ter GPS. Outros recursos como autenticação via Touch ID, login com Apple, senhas salvas, galeria de fotos, notificações, links universais, todos funcionam muito bem.
Quando se está digitando em um campo de texto num desses apps, dá para usar a galeria de emojis do Mac, com o atalho Control + Option + Space.
Considerando que esta é a primeira versão que estamos vendo de apps iOS rodando no Mac sem nenhum trabalho por parte dos desenvolvedores, eu esperava uma experiência muito inferior, mas tive uma bela surpresa.
Conclusão
Muita gente pensa que é cedo demais para pular nesse barco dos Macs com chip da Apple, afinal é sempre bom evitar produtos de primeira geração pois tendem a apresentar mais problemas do que gerações futuras. Essas pessoas se esquecem de que a Apple vem fabricando seus próprios processadores para iPhones e iPads — usados por mais de 1 bilhão de pessoas — há bastante tempo.
Não considero estes Macs novos produtos de primeira geração, mas sim resultado de muitos anos de pesquisa, desenvolvimento e experiência no mundo real, obtida no trabalho com dispositivos móveis da Apple.
Para quem está em busca de um novo computador, fica muito difícil não recomendar algum desses novos Macs. A única ressalva é se você precisar rodar Windows, fora isso, recomendo ficar de olho neles quando chegar a hora de fazer um upgrade.
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