Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Aposta da Apple em VR deve ser bem diferente do metaverso do Facebook
O ano mal começou (Feliz Ano Novo!) e os primeiros rumores sobre produtos da Apple já chegaram para deixar os fãs da marca ansiosos. Se os rumores estiverem corretos, tudo indica que 2022 será finalmente o ano que marcará a entrada da empresa no mercado de hardware para realidade virtual ou realidade aumentada (VR/AR).
Este assunto tomou conta da mídia nas últimas semanas após a mudança de nome do Facebook para Meta e da apresentação do "metaverso", termo que já foi cooptado por inúmeras empresas e pessoas que querem pegar carona no trem do hype.
No entanto, é importante ressaltar que o metaverso do Facebook como foi apresentado não existe, é apenas um conceito. Eu tenho sérias dúvidas da viabilidade do que Mark Zuckerberg apresentou, mesmo no longo prazo, muito menos daquilo se tornar realidade pelas mãos de uma empresa que nunca lançou nenhum hardware de sucesso.
Sim, eu sei que o Facebook comprou a Oculus. Comprar uma empresa que tem produtos de sucesso não a torna uma empresa que lançou produtos de sucesso. Pelo contrário: a diluição do talento vindo da Oculus no óleo sujo da máquina que chamamos de Facebook (me recuso a chamar de Meta) tende a reduzir a capacidade da empresa de criar bons produtos de hardware.
Já comentei em outras oportunidades o que penso sobre realidade virtual e realidade aumentada. Sou muito mais simpático à segunda. Não acredito que a maioria das pessoas irá querer passar a maior parte do seu tempo numa realidade inteiramente virtual, que bloqueia a visão do mundo externo e substituí todo o seu campo de visão por conteúdo fabricado.
A realidade inteiramente virtual é excelente para experiências pontuais como jogos, exposições de arte, visualização de projetos de arquitetura, talvez até aquela reunião de meia hora (que poderia ter sido um email).
Agora, passar mais de algumas (poucas) horas no metaverso me parece um futuro distópico que eu espero jamais presenciar, muito menos vindo de uma empresa como o Facebook.
O futuro que eu consigo imaginar é um no qual dispositivos que externamente parecem muito simples —quase como óculos normais — são na verdade óculos de realidade aumentada, adicionando à visão do usuário informações pontuais e úteis.
Consigo imaginar um grande número de pessoas utilizando tal dispositivo por longos períodos de tempo, talvez até mesmo o dia inteiro.
É aí que voltamos para os rumores que mencionei no início desta coluna: sabe qual empresa já lançou mais de um produto bem-sucedido sobre o qual eu poderia falar esta última frase? Apple.
Caso você não tenha entendido que produtos são esses, me refiro ao Apple Watch e os diversos modelos de AirPods. Eles não são dispositivos de realidade aumentada, mas são aparelhos que substituem versões "clássicas" de produtos da mesma categoria (relógios e fones de ouvido), com design e recursos que permitem aos usuários "vestirem" o produto confortavelmente por longos períodos de tempo.
Poderia até argumentar que os modelos mais recentes de AirPods com o recurso de áudio espacial são sim dispositivos de realidade aumentada, afinal essa funcionalidade realmente dá a impressão que o som está vindo de outro lugar no espaço, não dos fones que estão no seu ouvido.
Embora esse seja o futuro no qual eu acredito, não creio que veremos nada parecido ainda em 2022. Ainda é muito cedo para os "Apple Glasses" que muita gente sonha em ter. A tecnologia ainda não está avançada o suficiente para óculos que parecem comuns fornecerem uma experiência de realidade aumentada convincente.
Então, seguindo os rumores dos últimos anos e estes rumores mais recentes, tudo indica que em 2022 a Apple deve lançar um headset de realidade virtual. Segundo o analista Mark Gurman, as intenções da Apple não têm absolutamente nada a ver com as intenções do Facebook com seu metaverso.
Em resposta à pergunta "você acredita que o headset da Apple terá um metaverso ou focará apenas em experiências de VR/AR", Gurman respondeu (tradução livre):
Uma palavra que eu ficaria chocado em ouvir na apresentação da Apple seria metaverso. Me disseram de forma bastante direta que a ideia de um mundo totalmente virtual para o qual os usuários possam fugir, como na visão de futuro da Meta/Facebook, está totalmente fora de questão para a Apple.
Os altos executivos da empresa atualmente (e no passado, Jony Ive) não querem que o headset de realidade virtual seja um produto para ser usado o dia inteiro, mas sim para momentos específicos como jogos, comunicação e consumo de mídia.
Os óculos de realidade aumentada são a real prioridade porque o usuário poderá vesti-los o dia inteiro, sem que sejam removidos do seu ambiente real."
Como podem ver pela última frase, Gurman dá a entender que a intenção real da empresa é de fato um produto de realidade aumentada que possa ser utilizado confortavelmente durante todo o dia, sendo o headset de realidade virtual apenas uma etapa no processo de desenvolvimento desse futuro, que ainda deve demorar vários anos para virar realidade.
Essa situação me lembra um pouco a história do desenvolvimento do iPhone, que completou 15 do seu anúncio no domingo (9). A Apple tinha em seus laboratórios protótipos enormes de mesas que pareciam algo como um iPad gigante, para teste e desenvolvimento da tecnologia multitouch, utilizada na tela sensível ao toque.
A intenção era criar o iPad, mas devido a limitações da tecnologia e outros fatores mercadológicos, a empresa optou por fazer o iPhone primeiro, deixando o iPad para depois.
Me parece ser o que está acontecendo agora com esses produtos de realidade virtual/aumentada.
A ideia da empresa é lançar óculos de realidade aumentada que possam ser utilizados o dia inteiro assim como um Apple Watch ou AirPods, mas como a tecnologia ainda não está avançada o suficiente para um produto do tipo, a empresa pretende lançar um headset de realidade virtual.
Lançando esse produto este ano, a Apple conseguirá não apenas testar seu software, mas também criar experiência no mundo real fabricando e distribuindo o hardware.
O produto também atrairá o interesse dos desenvolvedores de apps, que poderão criar experiências para a realidade virtual que serão um excelente treinamento para o futuro, quando a empresa finalmente conseguir lançar os óculos de realidade aumentada.
Sobre como seria esse headset de realidade virtual, temos apenas os rumores. Ele teria um design com elementos dos AirPods Max e do Apple Watch, uma tela curva na parte frontal com dois displays de 8K de resolução, diversos sensores capazes de detectar objetos na cena e gestos manuais dos usuários e rodaria um sistema operacional chamado rOS.
Com todos esses recursos, o preço deve ser salgado, com algumas estimativas chegando a absurdos US$ 3 mil.
Se o preço for realmente algo próximo desse valor, a impressão que tenho é que esse produto seria mais voltado ao uso profissional e para desenvolvedores, quase como um kit de desenvolvimento, já que a maioria dos consumidores domésticos não iria querer gastar tudo isso.
De qualquer forma, acredito que a Apple esteja muito bem posicionada para entrar no mercado de hardware para realidade virtual/aumentada e vejo com bons olhos (sem trocadilho) o suposto futuro de realidade aumentada almejado pela empresa, bem diferente da distopia do metaverso.
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