Brasil dá cavalo de pau na busca por tecnologia contra corrupção
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O Brasil deu, nos últimos dias, um tremendo cavalo de pau na busca por tecnologia para combater corrupção e lavagem de dinheiro.
Durante um ano inteiro, servidores mapearam o uso em entidades públicas do blockchain, aquela tecnologia de registro descentralizado que nasceu com o bitcoin mas hoje em dia está mais em alta do que a moeda virtual. O passo agora seria massificar o uso dessa ferramenta, mas acharam por bem jogar o trabalho fora e começar do zero outra aposta.
A situação ocorreu durante a semana passada em reunião da Enccla (Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e Lavagem de Dinheiro). É um fórum que, da Polícia Federal ao Banco Central, passando por TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e diversos ministérios públicos estaduais, reúne 88 organizações focadas em detectar maus feitos financeiros. Acontece que:
- Das 12 ações conduzidas neste ano, uma delas detectou instituições que já usam blockchain para dificultar a corrupção. Isso é possível porque...
- ... Essa tecnologia obriga que todos os trâmites de um processo sejam registrados em um arquivo público impossível de ser corrompido. Trocando em miúdos...
- ... Fica bem difícil esconder qualquer falcatrua. E órgãos como BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Serpro, Receita Federal, BC e TCU (Tribunal de Contas da União) sabem disso e já usam ferramentas assim. Agora...
- ... A proposta deveria continuar provavelmente rumo a iniciativas para levar essa tecnologia a outros órgãos e à elaboração de ajustes legislativos em caso de entraves legais. Só que...
- ... Uma lida nas ações para 2021 mostra que não há menção a blockchain, substituído pelo foco em big data e IA (inteligência artificial).
Okay, os sistemas automatizados que reproduzem características cognitivas humanas são tidos como candidatos a protagonistas de uma revolução social no futuro. Isso inclui saltos de produtividade, mas não exclui hordas de desempregados.
Por isso, entender como a IA pode agir em várias áreas, inclusive no combate à corrupção, é crucial. Só que é bom ter em mente que o trabalho na Enccla não criará de cara um robô investigador capaz de flagrar mutretas. E olha que muita gente lá gostaria disso.
Combate à corrupção é assim: a gente não ganha todas, mas, quando ganha, dorme muito bem. É o sono dos justos
Lúcio Alves, encarregado das medidas anticorrupção da AGU e membro da Enccla
Coordenador da iniciativa do blockchain, ele explica que, no primeiro momento, haverá uma padronização do que os órgãos entendem por IA e depois uma pesquisa sobre quais entidades do poder público já usam tecnologias do tipo. O procedimento é similar ao que ocorreu com o agora defunto levantamento do blockchain. Quer dizer que a criação de uma IA anticorrupção a partir de ações da Estratégia ainda levará tempo —isso se deixarem a ação ganhar corpo.
A Enccla só toma decisões se todos os membros concordarem. Ou seja, um ou mais órgãos derrubaram a ideia de o blockchain ganhar corpo. A votação é secreta. O que Alves diz é que as ações poderiam seguir em paralelo.
Curiosamente, Tilt começou a contar nesta semana a história de cientistas brasileiros cujo árduo trabalho tem sido crucial durante a pandemia. Nada do que Marisa Dolhnikoff, Edison Durigon, Ester Sabino, Felipe Naveca, Marilda Siqueira, Ana Paula Fernandes, Patricia Rocco, César Victoria, Jorge Kalil e Amilcar Tanuri fizeram seria possível se seus estudos e pesquisas tivessem durado apenas um ano.
No campo da saúde, vimos o que uma pandemia é capaz de fazer. Os quase 180 mil mortos não estão mais aqui para contar a história. Há quem diga que a corrupção é endêmica no Brasil. O caso acima mostra como ações promissoras ficam pelo caminho sem ao menos ver a luz do dia. Sorte dos corruptos.
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