Até despejar Trump, redes sociais esqueceram regras para abrigar absurdos
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Facebook, Instagram, Twitter e YouTube viram o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, usar suas plataformas para mentir, incitar violência e até incentivar uma tentativa de golpe, anunciado com dias de antecedência por vários de seus apoiadores por meio de suas contas nas redes sociais.
Após quatro anos de um morde e assopra sem fim, resolveram ser mais incisivas e obrigaram Trump a remover tuítes, tiraram vídeos dele do ar e até suspenderam seus perfis — no Facebook, por tempo indeterminado. Tudo isso, porém, chegou tarde demais, afinal, analistas de mercado já veem Trump como um "pato manco". As consequências, no entanto, vão perdurar durante muito tempo, como mostro abaixo.
Desde que assumiu a Casa Branca, Trump estabeleceu uma política de teste diário das instituições. As Big Tech não são os freios e contrapesos da democracia norte-americana, mas também entraram na dança por controlarem canais de comunicação direta com a população. Vimos isso quando:
- Trump se elegeu empregando uma máquina de marketing político que recorreu a dados roubados do Facebook para manipular as intenções de votos dos eleitores. Uma vez na cadeira...
- ... Ele quebrou regra atrás de regra, todas, diga-se, estipuladas pelas próprias redes sociais. Exemplo foi quando ameaçou ao vivaço o presidente do Irã pelo Twitter. Apesar de a rede social proibir essas condutas...
- ... O post ficou lá, a título de registro histórico. Em outra situação, a rede até removeu a publicação em que o presidente conclamava que forças policiais atirassem em manifestantes do Black Lives Matters. No mesmo caso, o Facebook deu de ombros. Só que...
- ... A essa altura, as mentiras do presidente já corriam soltas, mas só passaram a ser rotuladas como falsas quando trataram de eleições. Até mesmo...
- ... Jair Bolsonaro teve posts removidos por espalhar bobagens sobre o coronavírus, mas Trump, apesar de adepto de teses similares, não teve o mesmo tratamento. Antes e após a eleição...
- ... As redes sociais passaram a restringir os posts de Trump alegando fraude por eles não terem qualquer base factual. Ainda assim...
- ... Permitiram que ele continuasse lá, mesmo endossando supremacistas brancos barrados por elas. Foi por meio delas que ele convocou os protestos contra a validação de Joe Biden na presidência e insuflou a invasão ao Congresso dos EUA.
Ao longo do mandato, as redes sociais flexibilizaram suas regras quando o infrator era Trump. Era meio assim: "elas estão lá, valem para todo mundo, mas se for o presidente dos EUA a infringi-las, bem, aí pensamos melhor no que fazer".
No caso do Facebook, seu CEO, Mark Zuckerberg, chegou a ser confrontado por funcionários insatisfeitos com a inação da rede social. Vira e mexe, ele justificava que os posts eram mantidos no ar para os próprios usuários decidirem se eram bons ou não. O raciocínio, porém, valia para comentários banais ou para incitação a violência.
As concessões ao discurso preconceituoso de Trump começaram em 2015, quando ele era apenas candidato, detectou o Washington Post. E não pararam mais.
Uma vez empossado, o em breve ex-presidente dos EUA esticou a corda o quanto pode. Fez isso usando o poder de sua caneta, ora ameaçando investigações, ora instituindo inquéritos de fato, ora reduzindo impostos para elas e outras gigantes.
Trump forneceu diversas gotas d'água para ser expurgado de vez dessas plataformas, mas só foi removido agora que está prestes a ser colocado para fora também da Casa Branca. Pacientes, elas até esperaram ele insuflar os manifestantes e a posterior invasão do Capitólio para tomar qualquer decisão. Poderiam ter checado o feed da turma, que alardeou durante tempos que faria o que fez.
As redes sociais entenderam que as revoluções deixaram de ser apenas televisionadas e passaram a ser tuitadas, instagramadas e até tiktokeadas. Por que não também os golpes? O problema a partir de agora é que Trump estabeleceu um precedente: tudo bem fechar os olhos para uma infraçãozinha ou outra desde que seja um mandatário poderoso e com uma grande base de fãs. Mas e se ele também estiver disposto a quebrar outras coisas, como o regime democrático de seu país? Mau sinal para os países que tiverem seus futuros definidos nos próximos anos.
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