Android 15 terá tecnologia antirroubo de celular inspirada no Brasil; veja
O Android 15, a próxima versão do sistema operacional da maioria dos celulares do mundo, será recheada de recursos contra fraudes, golpes e para reduzir os danos de furtos e roubos de smartphones.
Quando a plataforma chegar, um usuário da Índia ou dos Estados Unidos que tiver o telefone afanado, mas não vir a conta bancária zerada terá de agradecer ao Brasil. Muitas das ferramentas para frustrar os planos de bandidos nasceram da insegurança pública enfrentada por usuários brasileiros, afirma Dave Burke, vice-presidente de engenharia do Android.
As novidades foram anunciadas nesta quarta-feira (15) durante o Google I/O, conferência em que a Big Tech mostra mudanças em seus produtos. Presente no ano passado, a inteligência artificial dominou de novo e está presente em boa parte das mudanças, da busca ao Gmail. No caso do Android, ela foi misturada a uma boa dose da realidade das ruas brasileiras.
Aí vão algumas estatísticas preocupantes. Em São Paulo, um celular é roubado a cada cinco minutos. Em Londres, isso ocorre a cada 6 minutos
Dave Burke, vice-presidente de engenharia do Android
Em seguida, o executivo comentou a estratégia de ladrões no Brasil: de moto ou bicicleta, o criminoso furta o aparelho de alguém distraído e rapidamente abre a câmera para o celular não ter a tela bloqueada; assim, pode acessar contas de bancos e redes sociais.
Compreender ações criminosas como essa está na base das novas habilidades do Android 15 voltadas à segurança pública. O sistema operacional passará a fazer o seguinte:
- detectar roubos para bloquear a tela: assim que nota mudanças de comportamos característicos a um roubo, o celular dispara um sistema que trava a tela, somente liberada com as credenciais de acesso do dono, seja a senha ou via dados biométricos;
- flagrar ligações telefônicas fraudulentas: o sistema do Android ouvirá a chamada em busca de sinais fortes de que se trata de uma fraude, a exemplo de pedidos urgentes de transferência de dinheiro, pagamentos com cartões-presente ou solicitação de informações sensíveis, como senhas. Uma vez identificados padrões ligados a golpes, surgirá na tela um aviso. Segundo o Google, é o usuário que decidirá ativar a função ou não.
- criar espaço privado: essa é outra função nascida de um comportamento de muitos brasileiros, que possuem dois celulares, um para andar na rua e outro para fazer operações sensíveis, como fazer um PIX ou assinar documentos digitais. Ela cria um ambiente restrito dentro do celular, somente acessível com senha diferente da usada para destravar o celular e que pode passar. Assim, pode abrigar aplicativos que os usuários querem manter longe de olhos alheios;
- travar remotamente: permite ao dono do celular travá-lo apenas usando o número de telefone e respondendo a um desafio usando qualquer aparelho;
- dificultar reset de celular: como alguns ladrões querem mesmo é roubar ou furtar o celular e reconfigurá-lo para vender, o Google vai dificultar a operação. A partir do Android 15, será preciso que o dono antigo autorize uma nova configuração do aparelho;
- enviar notificações escondidas automaticamente e senhas que funcionam uma vez só: essa habilidade dupla é um artifício para evitar golpistas que enganam usuários ao aplicar técnicas de engenharia social, ou seja, táticas que dependem menos da tecnologia e mais de alguma habilidade social.
- segurança avançada para celular: os celulares Android passarão a caprichar na forma como se conectam a estações de rádio-base para evitar antenas falsas, disponibilizadas com o único intuito de simular uma conexão para roubar os dados que trafegam no smartphone.
Boa parte do segredo por trás desses recursos são modelos de inteligência artificial. De forma resumida, o que fazem é:
- aprender os padrões de comportamento do usuário em situações normais;
- detectar com os vários sensores do celular quais movimentações ocorrem durante ações maliciosas;
- analisar se há indícios que mostram que a situação de calmaria virou um cenário compatível a uma das ações maliciosas;
- se for o caso, a função em questão --o travamento remoto, por exemplo-- é disparada.
A detecção de roubo para bloquear a tela funciona exatamente dessa forma. O modelo de IA por trás desse superpoder aprendeu como os celulares se comportam no momento do furto —por exemplo: há uma mudança repentina no caminhar e há um pico repentino no acelerômetro, o sensor que mede o nível de movimento do dispositivo; as duas medições ocorrem muito provavelmente porque o ladrão sai correndo com o aparelho.
Burke não descarta que esses fatores podem ocorrer em situações distintas de um roubo. Nesses casos, porém, é possível simplesmente desbloquear o celular.
A percepção de que a falta de segurança é um aspecto importante para donos de smartphones foi reforçada durante uma viagem ao Brasil em setembro de 2023. Capitaneada por Sameer Samat, presidente de Android, uma grande equipe de desenvolvedores do sistema operacional encontrou seus colegas brasileiros para discutir a realidade de usuários da plataforma.
Durante a semana em que ficou no país, o grupo tomou conhecimento do grande volume de roubos de celulares e dos prejuízos decorrentes do crime, de contas correntes esvaziadas a empréstimos volumosos contratados. A partir daí, algumas soluções começaram a ser amadurecidas para combater essas táticas.
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Quero receberNem só de precaução com a segurança dos usuários é feita a nova versão do Android 15.
O sistema operacional será equipado com um modelo de inteligência artificial generativa fundacional, o Gemini Nano. Ficou complicado? Isso quer dizer que ele virá com uma IA não só capaz de gerar conteúdo, mas também apta a atuar para solucionar diversas e complexas tarefas. Será a primeira vez que isso ocorre em uma plataforma voltada para celulares.
Essa é a uma oportunidade única que temos em gerações de pensar o que mais seu celular pode fazer por você
Sameer Samat, presidente de Android
É graças ao Gemini Nano que alguns processamentos serão realizados dentro do smartphone sem a necessidade de levar dados do usuário para um servidor externo. A detecção de ligações fraudulentas funcionará assim.
Outra das novidades é o "circule para pesquisar". Criada pelo Google e que estreou na linha Galaxy S24, a função será liberada para os celulares compatíveis com Android 15. Ela permite buscar informações na internet sobre quaisquer imagens ou palavras exibidas na tela do celular. Ao apertar o botão de início, o display congela o que está sendo exibido. A partir daí, basta circular o que será pesquisado. Só não vale para documentos com sigilo protegido, como imagens de uma só exibição no WhatsApp, vídeos de serviços de streaming ou extratos bancários.
*o jornalista viajou a convite do Google
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