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'Atrasados': plano de Lula para IA exige mais que 'inteligência humana'

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Eu estou cansado de ouvir teoria, de ouvir falar nesse bicho de inteligência artificial. Num país que tem tanta gente inteligente, para que precisa de inteligência artificial? Por que não usamos a inteligência humana que temos aqui?
Luiz Inácio Lula da Silva

Dita durante um almoço em homenagem ao Dia Internacional das Mulheres, a frase imediatamente virou meme. Não sem razão. Encantado com a galhofa, o noticiário rasteiro não viu a notícia. O presidente estava cansado de tanta tese e queria algo prático. Algo para fazer o Brasil sair da incômoda posição de espectador assustado com os rápidos desdobramentos da IA no mundo. E, de cara, já largamos mal.

Se nós não estamos na dianteira, nós estamos atrasados. Mas nós também não temos as capacidades que os Estados Unidos e a China têm. Agora, temos que situar nossa capacidade de desenvolvimento científico nessa disputa com outros países. Temos a décima terceira produção científica mundial, temos centro de processamento consolidado. Há algumas vantagens que nos caracterizam e temos que explorá-las para nos inserir bem nessa disputa
Luis Manoel Rebelo Fernandes, secretário-executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, em entrevista à coluna

Mas o que o plano de Lula vai atacar? Conversei sobre isso com o Diogo Cortiz durante o Deu Tilt desta semana, mas vamos lá.

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Imagem: Arte/UOL

Nos dias anteriores ao almoço que virou meme, Lula pediu aos integrantes do Conselho de Ciência e Tecnologia que elaborassem um plano para fomentar a IA no Brasil. Esse colegiado já estava revisando a EBIA (Estratégia Brasileira de Inteligência Artificial), concebida no governo Bolsonaro. Só que...

  • ... O presidente deu prazo curto: queria o documento na Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia de Inovação, que iria ser em junho, mas foi para agosto devido à tragédia climática no Rio Grande do Sul. Também...
  • ... Pretende tratar dele em seu discurso na Assembleia Geral da ONU, em setembro, e na reunião do G20, que será no Rio em novembro. Está apertado?...
  • ... Para integrantes do governo com quem conversei, sim. A sensação de urgência nasceu por dois motivos...
  • ... Primeiro, a inegável vitrine internacional conferida por esses dois eventos. Segundo...
  • ... Para condensar os vários movimentos para criar ações voltadas à IA que surgiam dentro do governo federal e no seu entorno. Lembra do "Eu estou cansado de ouvir teoria"? Era sobre isso. E o plano...
  • ... Vai trazer ações que girem em torno de quatro eixos, como...
  • ... Investimento em infraestrutura, de pesquisa, desenvolvimento e processamento. Perguntei se seria comprar GPU da NVIDIA:

Sim. É o horizonte. Isso implica investimentos em supercomputadores e elevação da capacidade de processamento para poder gerar as aplicações", responde o secretário do MCTIC
Luis Manoel Rebelo Fernandes

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  • ... Também terá formação de pessoal qualificado para produzir inteligência artificial. Além disso...
  • ... Proporá a incorporação da IA à inovação empresarial para elevar produtividade. E por último...
  • ... Apostará na governança internacional e regulação da IA.
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Imagem: Arte/UOL

Criar política pública para inovação tecnológica com vistas a elevar a produtividade é coisa rara no Brasil. Mais raro será se ela tiver continuidade. Por si só, esses são dois desafios gigantes. O outro obstáculo é jogar em um campo em o Brasil entra atrasado, contra equipes mais bem treinadas e com recursos para lá de abundantes.

E esse é um esporte em que a barreira de entrada vai subindo a cada segundo, já que:

  • Em 2023, os investimentos em IA cresceram quase oito vezes ao atingir os US$ 25,2 bilhões, segundo o Artificial Intelligence Index 2024, da Universidade de Stanford.
  • A estimativa é que a OpenAI gastou coisa de US$ 78 milhões para treinar o GPT-4, lançado em março de 2023, enquanto o Google gastou US$ 191 milhões para treinar o Gemini Ultra, lançado oito meses depois.

Talvez a pressa não seja despropositada. Mas sobram perguntas

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Imagem: Arte/UOL

A primeira delas: de onde vai vir o dinheiro? Segundo o secretário-executivo do MCTI me contou, é possível que irriguem as ações do plano os recursos do FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e do BNDES dentro da Nova Indústria Brasil.

A segunda: estamos falando apenas de fazer do Brasil uma potência em AI?

Não parece ser o caso. Lula quer fazer do plano mais uma plataforma de promoção da liderança internacional. Levar as ideias para G20 e ONU tem esse papel. Mas, além disso, as ações promoverão uma integração entre os países do Sul Global, principalmente quando se fala da formação e formação de infraestrutura.

Pode dar certo? Isso é algo que só as inteligências humanas do Brasil podem responder.

Deu Tilt

Toda semana, Diogo Cortiz e Helton Simões Gomes conversam sobre as tecnologias que movimentam os humanos por trás das máquinas. O programa é publicado às terças-feiras no YouTube do UOL e nas plataformas de áudio. Assista ao episódio da semana completo aqui.

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Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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