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Holograma e transmissão do toque: o que vai dar para fazer com o 6G?

Comunicação pessoal, conexão turbinada para transmitir vídeos em 4K, baixa latência, alta velocidade e internet das coisas. Esses foram atributos das últimas cinco gerações de telefonia celular. O 6G, que só chega em 2030, será diferente. Terá tudo o que as outras redes trouxeram, mas será também uma plataforma de soluções.

Se eu quero fazer uma cirurgia remota, pego meu bisturi virtual e faço um corte no paciente que está longe de mim. Eu tenho que enxergar com alta precisão o que estou fazendo. A imagem do que estou operando tem que ser 3D ou holográfica, e preciso ter a sensação tátil do quanto estou cortando. Essa é uma mudança que a gente já percebeu que o 6G vai trazer
Luciano Leonel, professor do Inatel (Instituto Nacional de Telecomunicações)

Leonel é o líder do Centro de Competência em 5G e 6G, representante do Brasil nas discussões globais para estabelecer um padrão do que será a sexta geração de telecomunicação. A iniciativa é financiada por Embrapii e Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

Segundo o professor, cirurgias remotas em que o médico vê imagens 3D ou hologramas do paciente e faz gestos executados por máquinas do outro lado do mundo só serão possíveis graças ao aprimoramento de capacidades que o 5G já possui. A alta vazão de dados permitirá a transmissão de imagens complexas, e a baixa latência (tempo de resposta online entre um comando e sua execução) garantirá que cirurgião e robôs se movimentem quase que simultaneamente.

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O 5G tem como principal característica uma flexibilidade jamais vista em comunicações móveis. Não é uma rede só para vender dado, mas para comunicação massiva de máquinas, com baixa latência e robustez. A rede se reorganiza de acordo com a demanda. Só que, daqui a 10 anos, a gente não vai precisar ter alta vazão ou baixa latência. Vai precisar dos dois

Já as soluções surgirão de novos poderes do 6G, como:

  • localização por meio de sensoriamento: sensores em tudo para permitir que máquinas e pessoas saibam onde cada coisa está em uma realidade que mesclará mundo físico e virtual;
  • processamento de imagens: máquinas capturando fotos e vídeos do mundo para compreendê-lo por meio de visão computacional.

"Se quisermos ter robôs coexistindo com pessoas, seja na estrada, na fábrica ou dentro da sua casa, as coisas precisam ser muito bem definidas no espaço", comenta Leonel.

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O professor explica que a combinação dessas duas novas características permitirá uma digitalização profunda da sociedade. Isso poderá mudar o jeito como políticas públicas são feitas.

A partir dos dados captados, cidades inteiras poderão ganhar "gêmeos digitais". Essas réplicas digitais reproduzem no virtual as dinâmicas observadas fisicamente. Elas já existem hoje, mas em dimensões menores, para reproduzir fábricas, por exemplo. Com isso, continua Leonel, um governante que queira mudar uma regra, a do rodízio de carros, por exemplo, pode simulá-la digitalmente antes de mudar a vida de milhares de pessoas.

"Você pega o 'gêmeo digital' da sua cidade, aplica a regra no mundo virtual e projeta o comportamento das pessoas para o futuro. Melhorou? Beleza, aplica no mundo real. Não foi positivo? Volta para a prancheta", explica Leonel.

Parecem aplicações de outro mundo. Mas é o que uma tecnologia como essa terá de entregar para ser viável, já que sua implantação não deve sair barata. Equipamentos de telecomunicação com capacidade robusta para as mágicas do 6G sairão caro. Tanto é que já há uma corrida entre países para liderar essa corrida.

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Imagem: Marcelo Ferraz/UOL
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A Coreia do Sul destinou R$ 2,5 bilhões para ter o melhor 6G. Estudos indicam que a China já possui 40% das patentes de tecnologias essenciais para o 6G. O Japão reservou sozinho R$ 2,9 bilhões para financiar pesquisas na área e tem parceria com os EUA no valor de R$ 23 bilhões.

O celular do futuro, especula Leonel, talvez nem seja um celular.

Estamos na era do dedo. Para ser cool tenho que esfregar o dedo lá na tela do celular várias vezes por dia. Quando me perguntam como imagino o smartphone, digo que vislumbro um momento em que o aparelho ficou obsoleto e eu interajo com a rede além da imagem e da fala. Estamos trabalhando para incluir as comunicações hápticas [no 6G], transmitir toques e sensações através da rede. É o mundo do 'Minority Report', do 'Blade Runner'
Luciano Leonel

A decisão em torno da definição de padrões de telecomunicações é difícil e demora anos. Ela é feita em conjunto pela UIT (União Internacional das Telecomunicações) e por uma organização chamada 3GPP. A UIT é o órgão ligado à ONU que aprova requisitos básicos para cada geração de internet móvel, como o 5G e o 6G, e avaliza a adição de novos recursos. Já o 3GPP é um grupo formado por empresas, institutos de pesquisa e governos, que debate e elege quais aspectos técnicos remeter à UIT. Só passa o que for unânime. O Inatel, na figura do centro liderado por Leonel, atua nesse âmbito.

A missão é emplacar no padrão do 6G atributos técnicos que atendam lacunas específicas do Brasil, como levar conexão a áreas remotas com maior facilidade e menor custo.

O agronegócio e a mineração e exploração de recursos naturais estão nessas regiões e têm impacto enorme na nossa economia. Mas não só. Se você andar 10 km a partir de Santa Rita do Sapucaí, no Vale da Eletrônica, vai encontrar criança que não sabe o que é email, WhatsApp. Isso é um aspecto da segregação digital
Luciano Leonel

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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