A ligação entre o apagão cibernético e a rejeição aos US$ 23 bi do Google
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É enredo de filme. Anota aí. Em um dia, os aviões não decolam, correntistas não podem movimentar o dinheiro guardado no banco, pacientes não são submetidos a cirurgias agendadas há meses e TVs saem do ar. O mundo vive um apagão cibernético.
No outro, uma empresa criada há menos de cinco anos enxota a oferta bilionária de uma das Big Tech mais poderosas do mundo.
Aparentemente desconexas, as histórias estão ligadas. Não são só irmãs nascidas da mesma família de eventos que tornaram nossa sociedade fortemente conectada —e, por isso mesmo, frágil a erros tão previsíveis quanto inevitáveis. Também simbolizam as transformações que nos trouxeram até aqui. E, daqui para frente, só vão se intensificar.
O que rolou
Estava tudo certo para o Google protagonizar a maior aquisição de sua história. Depois de pagar US$ 12,5 bilhões pela Motorola, a Big Tech ofereceu US$ 23 bilhões pela Wiz. Nunca ouviu falar dela? Sem crise, afinal:
- A startup de Nova York trabalha com cibersegurança, uma área invisível e só lembrada quando algo dá errado. Só que...
- ... Ela não tem nada de discreta: presta serviço para 40% das 100 companhias com maior faturamento dos Estados Unidos, acabou de ter seu valor de mercado avaliado em US$ 12 bilhões e...
- ... Disse "não" para o Google --equiparável apenas à recusa do Snapchat, que mandou o Facebook e seus US$ 3 bilhões passearem em 2013. Naquela época...
- ... Parecia delírio, afinal não pingava nada na conta do Snapchat, cujo objetivo era ter mais usuários. Nada próximo do que ocorre agora, já que...
- ... A Wiz fatura US$ 350 milhões por ano, tem quatro fundadores experientes --três dos quais já fizeram fortuna vendendo uma startup para a Microsoft-- e...
- .... Tem planos: atingir faturamento de US$ 1 bilhão, segundo afirmou o CEO Assaf Rappaport em carta aos funcionários publicada pelo TechCrunch:
Dizer não a uma oferta tão desconcertante é dureza, mas, com uma equipe tão excepcional, sinto-me confiante em fazer essa escolha
Assaf Rappaport, CEO da Wiz
A companhia ainda é muito jovem, e Rappaport acredita que tem grande margem para um crescimento exponencial em receita, na demanda pelos serviços e aumento de contratos. Diante dessa perspectiva positiva, acredita que o 'valuation' da empresa será maior nos próximos anos do que os US$ 23 bilhões que o Google quis pagar neste momento
Junior Borneli, CEO da StartSe (escola internacional de negócios e inovação para a nova economia)
Por que é importante
A confiança da Wiz não é à toa. O negócio dela é vasculhar os sistemas de empresas para identificar e solucionar riscos à infraestrutura de nuvem. Também compreensível é o interesse do Google, grande provedor de computação em nuvem, de ter essa habilidade dentro de casa. Ainda mais agora.
Apesar de haver um esforço para recursos de inteligência artificial rodarem no próprio aparelho sem recorrer à internet, vários dos superpoderes mais incríveis dessa tecnologia só rolam mesmo se acessarem servidores na nuvem.
O Google quer pagar esse valor na Wiz por um motivo simples. Assim como o 'Mobile First' era uma tendência [na época da Motorola], agora é a vez do 'AI First'. A grande questão é: quanto mais as empresas usam IA, mais precisarão de segurança. O crescimento da IA exige o crescimento de outras coisas ao redor: nuvem, serviços de segurança e consumo de energia
Junior Borneli, CEO da StartSe
Nuvem. Big Tech onipresente. Cibersegurança. Empresa aparentemente desconhecida, mas tentacular. Se ligou? Essas também foram as protagonistas do apagão cibernético. Troque Google e Wiz por Microsoft e CrowdStrike.
Uma atualização problemática do software de segurança da CrowdStrike afetou computadores com Windows, da Microsoft, conectados na madrugada de sexta-feira (20). O update defeituoso foi distribuído apenas durante o intervalo de pouco mais de uma hora. Foi o suficiente para 8,5 milhões de PCs darem "tela azul". Nas contas da Microsoft, não chega a 1% do total de máquinas com seu sistema embargado.
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Quero receberResultado: 5.171 voos cancelados e 46 mil decolagens atrasadas, segundo o FlightAware, que monitora serviços aéreos. Se o estrago foi grande, imagina se ocorresse o mesmo às 13h (horário de Brasília) de uma quarta.
Não é bem assim
Brincadeira à parte, o mundo em que vivemos tem tudo para repetir o apagão cibernético, já que só aumentam:
- a interconexão entre sistemas e;
- a concentração da infraestrutura tecnológica na mão de poucos provedores.
Na sexta, o problema foi com a Microsoft. Em 2012, uma falha na AWS tirou boa parte da internet do ar, da Netflix ao Instagram.
Nossa dependência de serviços na nuvem e esses fornecedores fornecidos serem um punhado de empresas colocam o mundo à beira de um novo apagão a cada nova atualização, a cada reconfiguração. O caminho é a redundância — mas soa até estranho falar nisso, já que a alternativa padece dos mesmos males.
Os sistemas são mais frágeis do que imaginamos. Uma pequena mudança em uma atualização de um software causa um apagão em cadeia em várias outras indústrias. Isso mostra como a questão de segurança é importante e precisa ser tratada com mais cuidado de agora em diante. Qualquer invasão ou ataque que possa prejudicar o funcionamento dos sistemas gera prejuízos gigantes e coloca muitas coisas em risco.
Junior Borneli, CEO da StartSe
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