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Opinião

O monopólio do Google e os celulares fora da escola no Brasil

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Em decisão histórica, a Justiça dos Estados Unidos considerou que o Google usa seu monopólio nas buscas online para impedir a concorrência. A empresa pagava uma grana violenta para ser o buscador padrão dos celulares de empresas como Apple e Samsung.

O caso é o mais emblemático desde que o governo dos EUA quase dividiu a Microsoft ao meio após vencer uma batalha na Justiça. No fim dos anos 1990, a empresa do Bill Gates levou do supermercado para a tecnologia o conceito de venda casada: exigia que o Windows, software líder na época, só fosse vendido juntamente com o Internet Explorer, que tomava uma surra do Netscape na área dos buscadores.

Essas não são só estratégias para sobreviver em um mercado competitivo, mas ações para esmagar rivais. Sobreviver talvez não seja problema para elas. Nunca uma indústria teve tanto sucesso para cativar as próximas gerações. E uma pesquisa sobre conexão na educação do Brasil mostra isso.

O que rolou?

A pesquisa TIC Educação, do CGI.br (Comitê Gestor da Internet no Brasil), mostrou que:

  • Apenas 17 anos depois do lançamento do iPhone, os esforços das escolas para conter o celular na sala de aula começam a aparecer. Acontece que o ritmo é lento, pois...
  • ... Só 28% das escolas passaram a proibir alunos de usar smartphones em suas dependências. Além disso...
  • ... Outras 64% só liberam o celular em espaços ou horários pré-definidos. Surpreende, porque...
  • ... O número de escolas que proíbam não seja 100%, uma vez que...
  • ... Os efeitos do celular sobre a atenção das pessoas já estão bastante documentados. Mas aí vai um resumo:
  1. A cada vez que a tela brilha, sua atenção vai para o saco: como as notificações geram uma espectativa de satisfação instantânea, é só uma delas chegar e seu olhar ser atraído para o celular; como ver aula assim?
  2. Destravar o aparelho é caminho sem volta: o conteúdo rápido fornecido pelo algoritmo das redes sociais dispara no cérebro um "loop da dopamina", neurotransmissor associado à sensação de bem-estar; como prestar atenção na aula assim?
  3. Não dá para ver um vídeo curto só: o algoritmo descobre conteúdos que atingem uma região cerebral ligada à empatia, autoconhecimento e realização de tarefas para reforçar o comportamento de assistir a vídeos; como entender uma aula assim?

Por que é importante

Os efeitos do celular são evidentes, mas para lá de difíceis de serem revertidos. Ainda assim, pesquisas científicas não conseguiram detectar a dificuldade que é desintoxicar alguém que caiu nas amarras do "loop da dopamina".

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Como remediar é complicado, a saída tem sido evitar. E, nessa onda, as iniciativas vão das moderados às mais radicais. No primeiro grupo, estão aquelas que pretendem ou já proíbem o celular nas escolas. A cidade do Rio de Janeiro faz isso. Na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), vai na mesma direção o projeto de lei da deputada estadual Marina Helou (Rede).

No segundo grupo, está, por exemplo, o psicólogo Jonathan Haid, autor do Best Seller "The Anxious Generation". Ele afirma que o celular possui mais de 10 formas diferentes de interferir no desenvolvimento social e neurológico. O que ele sugere é que celular não chega à mão de um ser humano durante a infância e pré-adolescência:

  • Proibir smartphones antes dos 14 anos
  • Vetar redes sociais antes dos 16 anos
  • Barrar smartphones nas escolas
  • Estimular a autonomia e o livre brincar na infância

Não é bem assim, mas está quase lá

Não custa lembrar, mas celulares possuem sistemas operacionais e rodam aplicativos populares. Poucas e poderosas empresas se engalfinham para fazer suas plataformas prevalecerem sobre as dos rivais.

Os capítulos da briga entre elas viram caso de Justiça. É o que ocorreu com o Google.

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Os acordos de distribuição assinados pelo Google (...) impedem seus rivais de competir
Amit Mehta, Juiz distrital em decisão

Nenhuma empresa está acima da lei, e o Departamento de Justiça continuará aplicando nossas leis contra as práticas contrárias à concorrência
Merrick Garland, procurador-geral dos EUA

O buscador é parte central do modelo de negócios do Google. Representou mais de US$ 175 bilhões em receita publicitária em 2023 (cerca de R$ 847 bilhões) dos US$ 307 bilhões totais (R$ 1,48 trilhão).

Como o mundo não gira, mas capota, a empresa lesada pela prática do Google era, vejam só, a Microsoft. Demorou quase duas décadas para a dona do Windows ir de monopolista para atingida por um monopólio.

Os ventos sopram rápido, mas chegará um dia em que discutiremos o peso de monopólios não sobre outras empresas, mas sobre nós e nossas crianças?

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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