Com 'morte' do X no Brasil, para onde vão usuários do ex-Twitter?
(Esta é a versão online da newsletter de Tilt enviada hoje. Quer receber a newsletter completa, apenas para inscritos, na semana que vem? Clique aqui e se cadastre)
Quem acessa a internet há tempo suficiente para lembrar como um vídeo da modelo Daniela Cicarelli quase tirou o YouTube do ar no Brasil já está acostumado com o roteiro: plataforma descumpre ordem judicial, Justiça insiste, plataforma dobra a aposta, Justiça manda tirar tudo do ar, plataforma volta atrás.
Ou não. No caso do X (ex-Twitter), Elon Musk deixou claro que vai até o fim na conveniente queda de braço com Alexandre de Moraes. Pega bem: cola no ministro do STF a imagem de censor, enquanto veste a túnica de paladino da liberdade de expressão.
No entanto, o bloqueio do X no Brasil devido ao embate entre Musk e Moraes criará uma insólita situação para a plataforma, a de morte em vida. Morta aqui. Vivinha da Silva no resto do mundo. E isso afetará os ainda usuários do ex-Twitter de ao menos três formas diferentes.
O que rolou?
Se você não prestou atenção apenas ao que circula no X, deve saber que:
- O embate entre Musk e Moraes esquentou em abril, quando o jornalista norte-americano Michael Shellenberger publicou o "Twitter Files Brazil". Com a promessa de conteúdo explosivo...
- ... Os documentos não passavam de uma compilação de emails entre funcionários do Twitter reclamando de decisões judiciais para excluir posts alvos de investigações de combate a fake news. Só que...
- ... A situação escalou a ponto de os arquivos serem citados em audiência no Congresso dos EUA e motivarem críticas de censura a Moraes. Por essa época...
- ... O representante do X no Brasil renunciou ao cargo. Segundo apurou a coluna, Diego Gualda, então diretor jurídico, pediu demissão por temer ser preso. De lá para cá...
- ... Musk foi incluído no inquérito das milícias digitais do STF; criticou --mas cumpriu depois de receber multas-- pedidos de remoção; viu a representante do X no Brasil ser ameaçada de prisão por desobedecer a Justiça ao cumprir suas ordens; e, por fim, decidiu encerrar as atividades do escritório no país.
Por que é importante
Com a suspensão da rede social, os usuários no Brasil (estimados entre 20 e 25 milhões) serão afetados de três forma, avalia Francisco Cruz, diretor do InternetLab.
1) Migração dos casuais
As pessoas que estão lá casualmente, seja para comentar jogos de futebol ou reality shows, terão de encontrar outra esquina para papear.
A gente sabe que as pessoas não querem ter trabalho na internet. Se ficar difícil, elas vão para outro lugar
Francisco Cruz, diretor do InternetLab
É possível que encontrem guarida no Threads, da Meta, já que as contas estão associadas ao Instagram, que tem grande penetração no Brasil. É bom saberem que a ferramenta replica o formato de microblog do Twitter, mas deixa de fora os trending topics, foca em postagens recomendadas, esconde a de amigos e ignora notícias.
2) VPN para os fiéis
Vai disparar o acesso remoto via VPN ao X, que ainda estará disponível em outros países. Mas isso deve ocorrer entre os usuários para lá de fiéis. Como a plataforma vem se tornando um reduto de discursos extremistas, é possível que vire de vez uma plataforma de nicho.
Newsletter
Um boletim com as novidades e lançamentos da semana e um papo sobre novas tecnologias. Toda sexta.
Quero receberQuem usa para coisas que não são politicamente carregadas vai em busca de um lugar mais fácil de acessar
Francisco Cruz
3) Menos diversa
Como o custo para acessar será maior, apenas gente muito engajada deve continuar por lá. Isso deve diminuir o número de usuários brasileiros e tornar a conversa mais uniforme.
Não é bem assim, mas está quase lá
Muita gente construiu seu ganha-pão no Twitter e teve de permanecer no X por sobrevivência. Não só usuários comuns mas também essas pessoas serão duramente impactadas pelos desdobramentos do embate entre Musk e Moraes.
Entre analistas e advogados que acompanham as Big Tech, a avaliação é que a série de eventos que deve culminar no bloqueio é resultado de uma canalização da atenção das pessoas para poucas plataformas, que, por sua vez, são dirigidas por um número ainda menor de poderosos. Tanto é que ouvi a seguinte avaliação de uma pessoa está acostumada a contribuir com regras que envolvem tecnologia, da campanha eleitoral à inteligência artificial, mas que não quis se identificar:
A gente está tão na mão de poucas plataformas a ponto de uma pessoa só trucar a suprema corte de um país, que não é qualquer um, porque o brasil é mercado relevante para todas elas
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.