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Opinião

Fiocruz salva 2 milhões de vacinas do lixo com uso inédito do 5G

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Durante a fabricação de uma vacina, cada segundo conta muito para definir se uma dose vai para o lixo por ser defeituosa ou se irá para salvar vidas em clínicas de imunização e postos de saúde.

A Bio-Manguinhos/Fiocruz implantou um método inédito de monitoramento online usando uma modalidade pouco explorada do 5G.

A tecnologia foi elaborada por um programa de inovação conduzido pela ABDI, em que multinacionais rivais se predispõem a sentar e dialogar para solucionar desafios críticos de outras empresas. No caso da Fiocruz, a tecnologia evita o desperdício de 2 milhões de doses para caxumba e sarampo.

O que rolou

Polo de inovação em biofármacos, o Bio-Manguinhos (Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos), da Fiocruz, não só garante as vacinas para o calendário básico do SUS, mas também exporta o que sobra para 70 países. Mas há problemas que nem a Fiocruz dava conta, como:

  • Detectar de forma rápida se máquinas destinadas a processar insumos de imunizantes pararam de funcionar. E isso...
  • ... É mais crucial ainda na rotação de garrafas roller, que contém material biológico, e precisa ser movimentada a velocidades constantes:

Quando a rotação é interrompida por qualquer motivo, toda a produção de vírus destinada a uma determinada vacina é comprometida, resultando em queda de rendimento, prejuízos financeiros, perda de matéria-prima e até mesmo de lotes inteiros
Leandro Ramos, especialista em tecnologias em Bio-Manguinhos/Fiocruz

  • ... O jeito foi acionar o MetaIndústria, projeto da ABDI e SPI Integração de Sistemas que faz empresas darem um salto de produtividade ao empregar elementos do metaverso industrial, como 5G, realidade virtual e automação. No caso da Fiocruz...
  • ... A tecnologia escolhida foi o 5G privativo, uma modalidade da quinta geração de banda larga móvel que apenas 10 empresas no Brasil têm autorização para usar e funciona mesmo em regiões onde o 5G não chegou comercialmente. Com ele...
  • ... Foi estabelecida uma conexão forte o suficiente para transpassar o revestimento de aço inox das estufas onde estavam os equipamentos. Depois...
  • ... Os aparelhos dentro do ambiente foram atualizados para receber e emitir informações. A partir daí...
  • .... O status das máquinas (indicadores de produção, qualidade e de manutenção) passou a poder ser checado em computadores ou smartphones. Além disso...
  • ... O sistema foi interligado com a área de manutenção da Fiocruz.
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Por que é importante

Apesar do nome, o Metaindustria não tem muito a ver com a ideia de metaverso empregada por Mark Zuckerberg, que está na gênese da mudança de Facebook para Meta.

Sai o plano de que todos viraríamos avatares em um mundo digital. Entra a estratégia de replicar no mundo virtual plantas industriais, minas, escritórios e por aí vai. Não para seus funcionários trabalharem por lá. Mas, sim, para simular nesses ambientes o que será aplicado depois fisicamente.

Este, porém, é o horizonte. Até chegar lá muita automação e digitalização precisa ser feita. Casos da Fiocruz mostram que conectar equipamentos analógicos ou de difícil sincronização remota já adiciona vantagens ou soluciona problemas complexos para qualquer negócio.

O MetaIndústria vem como modelo para acelerar a inovação tecnológica nas empresas, por meio de um processo de avaliação, capacitação, demonstração e prototipação de soluções 4.0, considerando um ecossistema com mais de 30 empresas fornecedoras de tecnologias, universidades e demais instituições, com o foco na melhoria de eficiência do processo produtivo
Isabela Gaya, gerente da Unidade de Difusão de Tecnologias da ABDI

Não é bem assim, mas está quase lá

Se o caso da Fiocruz mostra que o 5G pode ser usado internamente, poucas empresas se arriscaram. Apenas uma dezena acionou a Anatel em busca de autorização para uso. De Globo e Siemens a John Deere, Jacto, Vale e Fundação parque tecnológico Itaipu.

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Diante do tamanho do buraco em que está a indústria brasileira, o orçamento de pouco mais de R$ 5 milhões do projeto MetaIndústria é um soluço. A ABDI aposta mesmo é no fator replicador das tecnologias desenvolvidas no projeto: o que foi feito para a Fiocruz e outros atendidos vira ferramenta de prateleira; assim, interessados podem implantar em suas realidades. Se há tecnologia disponível e soluções comprovadas, mas a transformação digital não deslancha, o desafio mesmo é fazer a conta fechar no fim do mês.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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