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Meta revive reconhecimento facial após ação bilionária e onda de críticas

A Meta voltará a usar reconhecimento facial em ao menos duas de suas plataformas. A retomada ocorre três anos após a dona de Instagram e WhatsApp abandonar a tecnologia sob uma chuva de críticas e depois de pagar mais de US$ 2 bilhões para encerrar processos judiciais nos Estados Unidos que faziam sérias acusações contra o serviço.

A nova tecnologia funcionará no Facebook e Instagram com propósito diferente do passado. Por um lado, servirá para derrubar anúncios fraudulentos que usem o rosto de celebridades sem autorização —isso incluirá imagens feitas com inteligência artificial. Por outro lado, permitirá a usuários comuns reaverem o acesso a contas.

Anunciada nesta segunda-feira (21) ainda em fase, as funções serão liberadas paulatinamente em escala global. Isso incluirá o Brasil, mas não a União Europeia.

Entidades regulatórias brasileiras e europeias barraram a última grande novidade da Meta, a IA da Meta, um assistente que permite a usuários de WhatsApp, Instagram e Facebook interagirem com uma ferramenta de IA sem sair dos aplicativos. No caso do Brasil, a ANPD (Agência Nacional de Proteção de Dados) liberou o uso após ajustes da empresa de Mark Zuckerberg.

A coluna apurou que a empresa compartilhou com a ANPD os planos do novo uso de reconhecimento facial no Brasil antes de anunciá-los.

Em conversa com jornalistas nesta segunda, Monika Bickert, vice-presidente da Meta para política de conteúdo, afirmou que as novas ferramentas de reconhecimento facial não usarão os dados biométricos dos rostos das pessoas para nada além das funções propostas.

Golpe com famosos e contas perdidas

No caso dos anúncios fraudulentos, a Meta usará imagens já publicadas por celebridades em suas plataformas para comparar com a propaganda em análise. Se não for um uso autorizado, a peça será derrubada. Os testes com os famosos começaram em outubro e serão ampliados em dezembro. A expectativa é abrir para o restante da base em 2025.

As fraudes e esquemas que vemos hoje são um problema de toda a indústria (...) Eles [criminosos] usam a imagem de celebridades ou de alguém que se tornou famoso para fazer uma pessoa clicar nesse anúncio e, a partir daí, pedir informação, dinheiro ou tentar enganá-la de outra forma
Monika Bickert, vice-presidente da Meta para política de conteúdo

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O reconhecimento facial será ainda uma possibilidade a que poderão recorrer usuários que tiverem perdido o acesso a suas contas. Se escolherem essa opção, terão que enviar um vídeo frontal em que movimentem o rosto. Esse método é similar ao que bancos brasileiros têm usado no ato da abertura de contas digitais. Também neste caso, a Meta tenta conter o avanço de golpes. O roubo de contas é o primeiro passo de criminosos que usam a confiança depositada em alguém próximo para convencer seguidores a embarcar em fraudes.

A Meta diz que, neste caso, o material será criptografado assim que for enviado, não vai aparecer no perfil do usuário e será descartado assim que a operação é realizada.

Longe de comparar se dois rostos em fotos diferentes são iguais, o que a tecnologia de reconhecimento facial faz é checar se as características faciais batem. Para isso, considera os formatos dos elementos faciais (tamanho de olhos, nariz, boca etc) e as distâncias entre eles. O resultado geralmente é uma porcentagem de similaridade.

Meta tinha 1 bilhão de dados biométricos em 2021

Segundo Bickert, a Meta voltou a usar reconhecimento facial após dialogar com governos, especialistas em privacidade e segurança e organizações sociais. A empresa afirma manter a mesma opinião sobre a tecnologia, que deixou de usar em 2021.

Em 2021, desativamos o sistema de reconhecimento facial que era usado para habilitar recursos úteis e opcionais, como sugestões de tags. (...) [Deixamos] de usar o reconhecimento facial para recursos que envolviam ampla identificação em direção a formas mais restritas de autenticação pessoal. Fomos claros em nossa opinião de que o reconhecimento facial continuava apropriado para um conjunto restrito de casos de uso.
Meta, em comunicado

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Em 2021, o recurso era usado por um terço dos usuários. Ou seja, 1 bilhão de pessoas tiveram seus dados biométricos coletados.

Na época, funcionava só no Facebook e servia para identificar indivíduos marcados em vídeos e fotos. Isso permitia duas funções: notificar os usuários quando fossem publicadas imagens em que eles aparecessem e identificar conhecidos de pessoas com deficiência visual durante áudio-descrições.

Quando nasceu, em 2011, a tecnologia não era mais que um escaneamento do rosto das pessoas e contava com a ajuda dos usuários, convidados a assinalar para o sistema do Facebook se um determinado rosto pertencia a algum amigo.

No mesmo ano em que desistiu de usar a tecnologia, a Meta aceitou pagar US$ 650 milhões para encerrar uma ação coletiva contra o reconhecimento facial movida pelo estado norte-americano de Illinois.

Um ano depois, o estado do Texas processou a empresa e a acusou de violar a lei estadual "não centenas, ou milhares, ou milhões de vezes—mas bilhões de vezes". Cobrava US$ 10 mil para cada violação. O procurador-geral Ken Paxton acusou a Meta de coletar dados biométricos de milhões de texanos sem consentimento informado, algo que infringia uma lei texana que regula o uso de biometria. Para solucionar a questão, a Meta concordou em pagar US$ 1,4 bilhões em julho de 2024.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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