Presidente da Claro critica ação que ampliou concorrência: 'esculhambação'
José Félix, presidente da Claro, criticou a estratégia da Anatel (Agência Nacional das Telecomnunicações) de ampliar a competição na banda larga e a possibilidade de abrir espaço para mais empresas oferecerem serviço de celular.
Qual é o ponto ideal da concorrência? Vemos países voltando atrás em algumas decisões, porque, dependendo do tipo de concorrência, você estraçalha o setor
José Félix, presidente da Claro
O executivo deu as declarações durante o Painel Telebrasil, evento da Conexis, associação das empresas de telecomunicação, em Brasília.
Durante sabatina conduzida pelo jornalista Samuel Possebom, Félix comentava como foi proveitoso o processo de transformação digital enfrentado pelas teles (saltou de um Ebitda de até 20% para 43%), mas ao mesmo tempo doloroso (no fim das contas, as empresas embolsam apenas US$ 2 em pacotes pré-pagos).
As críticas começaram quando ele relatava o nível de investimento exigido das teles para manter o serviço. Começou com uma brincadeira:
"Os nossos patrocinadores —Huawei, Ericsson e Nokia— garantem que o investimento tem que ser feito todo ano", afirmou. As três maiores fabricantes de equipamentos de infraestrutura também patrocinam o Painel Telebrasil. Mudanças no padrão tecnológico das máquinas delas obrigam as teles a atualizar o parque instalado.
Depois, Félix passou a mirar as ações da Anatel que promoveram a entrada de novas empresas na banda larga fixa. "Me preocupa ver a precarização das redes e os postes (...) É um resultado da liberação total do setor. Porque hoje com R$ 9 mil você faz telecomunicação. Pode ser que parece bom, mas daqui a alguns anos pode significar a obsolescência da rede do país."
Possebon tentou ponderar e afirmou que a maior competição derrubou o preço da banda larga no país. Félix rebateu. Argumentou que essa queda decorria, na verdade, do aprimoramento da tecnologia e que "[o preço] cairia de todo jeito".
Os comentários de Félix chegaram ao ápice quando ele comentou um artigo escrito por Aníbal Diniz, ex-membro do Conselho Diretor da Anatel, que defendeu a adoção de uma estratégia de ampliação da competição também para as operadoras de celular.
"Era mais ou menos assim: 'ah, vamos ter 20 mil operadores de celular como fizemos na [banda larga] fixa, que tem 20 mil provedores'. Vão acabar com o setor de telecom se fizer isso. Não existe isso. Os nossos legisladores, os nossos formuladores de política têm que ter uma visão de setor, de país. Que país a gente quer? A gente quer uma esculhambação, os postes que a gente têm hoje? Ou a gente quer uma plataforma moderna, eficiente, disponível, que gere empregos e pague impostos --razoáveis e não a exorbitância que se paga hoje, porque o que sobra é o que eu falei: US$ 2."
José Félix
O executivo completou o discurso afirmando que é preciso "uma visão de fato de país". "O resto a iniciativa privada faz, e eu não tenho dúvida."
A crítica do executivo tem como alvo as chamadas políticas de assimetria regulatória da Anatel, que abriu espaço para a atuação de pequenos provedores. Juntos, os mais de 20 mil provedores de serviço de internet respondem por mais de 50% dos acessos de banda larga no Brasil e empurram a fronteira digital para o interior do país com internet de altíssima velocidade. Em algumas regiões, eles já começam a inocomodar as grandes em grandes centros com preço competitivo e rede própria de última geração.
*o jornalista viajou a convite da Conexis
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