Startups têm potencial para inovar na vacinação contra covid-19 no Brasil
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Nos últimos dias, tivemos notícias promissoras sobre um tema acompanhado por bilhões de pessoas ao redor do mundo: quatro vacinas em desenvolvimento contra a covid-19 apresentaram avanços.
São elas, a vacina produzida pela parceria entre Oxford e o Laboratório AstraZeneca, que após dúvidas sobre os resultados irá passar por novos testes, o imunizante da Pfizer e Moderna, a russa Sputnik V e, finalmente, a vacina Sinovac.
Embora dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontem para 212 vacinas em desenvolvimento globalmente, onze destas estão na fase 3 de análise clínica, considerada a mais avançada, ou seja, quando o composto está sendo testado em seres humanos.
Esse resultado é absolutamente surpreendente. Em um tempo recorde, laboratórios, instituições de pesquisa e governos conseguiram avançar na produção de vacinas para um vírus descoberto no final do ano passado.
Um excelente exemplo de como a cooperação entre vários atores pode trazer maior agilidade e efetividade às soluções. E de como a participação do terceiro setor e da filantropia se torna cada vez mais fundamental no contexto brasileiro —por exemplo, a Fundação Brava, em parceria com as Fundações Lemann e Telles, apoiaram a realização dos estudos clínicos, no Brasil, da vacina produzida por Oxford e AstraZeneca.
As chances de sucesso, bem como as possibilidades de atendimento de um maior número de pessoas, se multiplicam em um cenário no qual há mais de uma alternativa disponível.
E mais: todo esse esforço tem sido alcançado ao mesmo tempo em que são mantidos os requisitos e o rigor científico necessários para garantir que as vacinas possam ser eficazes e também seguras —não por acaso, os estudos foram interrompidos sempre que identificados eventos adversos entre os voluntários.
Há muitos motivos para celebrar, sem dúvida. Ainda assim, como discuti aqui há algumas semanas, por mais que a descoberta de uma vacina seja a notícia que todos e todas nós esperamos depois de um ano tão desafiador, ela é o primeiro passo de uma longa jornada que ainda teremos que trilhar.
E dois passos seguintes me parecem ser cruciais: como garantir um plano de vacinação estruturado e como convencer mais e mais pessoas a se vacinarem.
De RNA ao planejamento
Ao longo dos últimos meses desenvolvemos diversas habilidades e conhecimentos fundamentais para acompanhar o avanço das descobertas científicas.
Estamos acompanhando o desenvolvimento de uma vacina "ao vivo", nos familiarizando com todas as etapas e requisitos envolvidos nesse processo.
Não só deciframos a sua real função, que é desencadear uma resposta imunológica que "provoque" o corpo a produzir anticorpos contra a doença, mas também entendemos que há diferentes "tipos" de vacina.
Algumas são produzidas a partir do vírus inativado, ou seja, sem a capacidade de causar qualquer dano a pessoa, mas com suas estruturas preservadas a ponto de provocar uma resposta do organismo.
Outras se utilizam da estrutura de outro vírus, combinada ao material genético da covid-19, caso das vacinas de vetor viral não-replicante.
E há também a inovadora técnica trazida pelas vacinas genéticas, que utilizam material do vírus —o chamado RNA— para estimular a produção de anticorpos pelos seres humanos.
As diferentes técnicas são fundamentais quando pensamos em um plano de vacinação que envolve uma dezena de decisões estratégicas: qual será o público-alvo prioritário, qual o cronograma das aplicações, quantas equipes estarão dedicadas, em quais locais será disponibilizada e também como se dará a logística de produção, armazenamento e distribuição da vacina.
Algumas das vacinas em teste, por exemplo, demandam um tipo de refrigeração específica e bastante custosa; a maioria delas se provou eficaz quando aplicada mais de uma dose; enquanto outras podem ser mais eficazes para determinados grupos etários.
Todos esses fatores e especificidades devem ser considerados porque influenciam o plano de vacinação, especialmente considerando os desafios impostos por um país com dimensões continentais como o Brasil.
Diversas nações já estão avançadas nesse esforço de planejar como será realizada a vacinação.
No Reino Unido, por exemplo, já há definição de fases da imunização. Na primeira, que deve cobrir 99% da população em grupo de risco, serão vacinados trabalhadores da saúde, residentes e trabalhadores de casas de repouso, além de pessoas de 80 anos ou mais.
Há ainda outros oito grupos prioritários, que correspondem às pessoas de 50 a 75 anos, antes que a vacina possa ser disponibilizada para a população em geral —pessoas com menos de 50 anos e também crianças.
O plano também prevê a estruturação de centros de vacinação para imunizar até cinco mil pessoas diariamente —em espaços como shoppings, prédios comerciais e estádios de futebol.
Esse é um esforço que o Brasil sequer parece ter iniciado. Até o momento não temos clareza sobre qual será o plano de imunização do país e, esta semana, a questão passou a ser judicializada, já que o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que o governo federal apresente o plano de vacinação em até 30 dias —mais um movimento no xadrez político da vacina no Brasil.
E a complexidade da tarefa abre espaço para a incorporação de tecnologias que possam trazer a agilidade e precisão tão necessárias.
Nos últimos meses, o BrazilLAB tem testemunhado o desenvolvimento das healthtechs —startups que atuam na área da saúde— e não há dúvidas de que essas soluções —desde uma plataforma para georreferenciamento, como um aplicativo que permite diálogo entre paciente e serviço de saúde— podem ser aplicadas ao esforço de vacinar milhões de brasileiros.
Ter um plano de vacinação é algo urgente. Sem a perspectiva de sua publicação —e da qualidade de suas propostas— só podemos confiar que o Brasil seguirá fazendo jus à sua histórica atuação como um país que é referência nos programas de imunização.
Comunicação
A eficácia da vacina coloca como urgente pensar e implementar um plano de imunização da população brasileira.
O caminho ainda é longo, mas os próximos passos serão fundamentais. Como nação, estamos em uma posição privilegiada, temos parcerias estratégicas com as propostas mais promissoras e plena capacidade de ser uma referência para outros países.
Mas neste momento, além de um plano estruturado, precisamos também investir em estratégias de comunicação sobre a segurança, eficácia e importância da vacina junto à população.
Combater a epidemia de desinformação que nos assola será igualmente importante e fundamental. O bem-estar de todos e todas dependerá disso.
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