Apesar da pandemia, 2020 trouxe avanços e inovações que precisamos celebrar
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2020 chegou ao fim. O ano esperado por marcar uma nova década, no futuro será lembrado por um evento inesperado e memorável: todas as nações do mundo enfrentaram a pandemia de coronavírus, uma doença que foi descoberta em dezembro de 2019 e transformou a realidade, adiou planos e trouxe mudanças profundas nas mais diferentes dimensões da vida.
Se é certo que ainda estamos entendendo a extensão do que a pandemia nos trouxe, não há dúvidas sobre uma delas: a tecnologia, antes tão fundamental, passou a ser imprescindível.
Sem as soluções tecnológicas que permitiram, em alguma medida, a continuidade das aulas, do trabalho e da atenção à saúde, as marcas do coronavírus teriam sido ainda mais graves, profundas e irreversíveis.
Ao longo do ano, toda a semana, pude explorar aqui na coluna como esse legado tecnológico se desenvolveu e firmou. E hoje, compartilho o que chamo de "balanço da agenda govtech em 2020".
São cinco pontos nos quais temos muito a celebrar e ainda a trabalhar.
1. Fake news e combate à desinformação
Nunca se falou tanto sobre fake news e combate à desinformação. E embora seja muito otimista dizer que, em 2020, vencemos a batalha contra esse mal, é preciso reconhecer as pequenas vitórias. E elas foram muito significativas.
Primeiro, refinamos o próprio conceito de fake news, passando a falar em desinformação, por entender que o fenômeno é absolutamente complexo e sutil, indo além de só o compartilhamento de notícias falsas.
Tivemos o surgimento de influenciadores conscientes —como discuti aqui—, pessoas que são referências em suas áreas de atuação e assumiram o compromisso de disseminar evidências para orientar o debate público.
E tivemos mudanças fundamentais na justiça eleitoral, que criou regras e estruturas para combater a desinformação desde a sua raiz, impactando as eleições municipais de 2020.
Ainda há muito o que fazer, especialmente incorporando soluções tecnológicas para enfrentar as ações de quem deseja espalhar desinformação. Esse tema continuará sendo importante mas, ao menos agora, temos mais pessoas dispostas a discuti-lo e a agir contra ele.
2. Pauta govtech dentro do governo
Nas mais diversas áreas, políticas públicas e instâncias governamentais, o uso de tecnologias se consolidou como uma questão de primeira ordem. Mudanças que, em qualquer outro contexto, levariam anos, se tornaram realidade em questão de dias ou semanas.
Os exemplos são inúmeros. No Poder Legislativo, a digitalização das câmaras municipais, assembleias estaduais e do Congresso Nacional permitiu que as deliberações continuassem e que medidas emergenciais fossem aprovadas —discuti aqui como o legislativo brasileiro é referência mundial nesse esforço.
As tecnologias também foram aplicadas para garantir a continuidade das aulas, ainda que de maneira muito desigual entre as regiões do país e também entre educação pública e privada.
E essas soluções foram cruciais para garantir uma das principais medidas tomadas durante a pandemia: o pagamento do auxílio emergencial. Mesmo com todos os desafios, sem o desenvolvimento de um aplicativo, o pagamento do benefício que atendeu 60% da população brasileira seria impossível.
Termino o ano de 2020 com a certeza de que, se antes a transformação digital do setor público era uma tendência, hoje ela se tornou uma realidade inadiável, essencial e urgente.
Mas esse é só começo: será preciso direcionar a energia, os aprendizados e o entusiasmo atuais em projetos concretos de digitalização dos governos. O trabalho apenas começou.
3. Lideranças e participação feminina
Com tantas crises e um contexto de grandes incertezas, o ano de 2020 nos mostrou a importância das lideranças públicas. E mais ainda: o quanto a participação feminina na vida política é uma potência para um governo mais eficiente.
As evidências foram abundantes. Os países que tiveram melhores resultados no combate à pandemia foram liderados por mulheres. Todas elas compartilham traços da liderança adaptativa e combinam elementos como o foco em resultados, a capacidade de adaptação e a comunicação transparente e direta com a população.
Também discuti aqui e em minhas redes o quanto precisamos avançar para ampliar a participação de mulheres nas áreas de tecnologia. E, mais recentemente, sobre a necessidade de elegermos mulheres para os cargos públicos —embora os resultados das eleições não tenham sido animadores e o desafio persista, como refleti aqui.
Mesmo assim, o saldo do ano me parece positivo: todos e todas queremos lideranças que possam inspirar, trazer confiança e nos guiar nos momentos de crise —mas também para além deles— no caminho da prosperidade.
4. Transparência e uso dos dados
Não é exagero dizer que, sem a transparência das instituições públicas e a disponibilização de dados, seria impossível implementar qualquer tipo de ação para o combate à pandemia de coronavírus.
Cidades de todo o país se mobilizaram para garantir o acompanhamento de informações como ocupação de leitos, número de infectados e óbitos, mobilidade de pessoas, e que garantiram a possibilidade de traçar as estratégias para contenção da doença.
Mas esse esforço não esteve restrito somente ao setor público. Na verdade, o mais interessante foi observar como a pauta de dados foi apropriada pela sociedade de maneira geral.
Afinal, não me lembro de ter vivido uma experiência semelhante: em todos os lugares, nas conversas familiares, no trabalho e na vida cotidiana, mostramos um domínio de conceitos complexos —taxa de mortalidade, média móvel, nível de eficácia— e sabíamos, quase sempre, "na ponta da língua", os principais indicadores para acompanhamento da doença.
O avanço para a construção de uma cultura de uso estratégico de dados certamente será um legado de 2020. Mas é preciso que ela permaneça e vá além: um bom diagnóstico, baseado em evidências, é a chave para o sucesso de qualquer política pública.
5. Ecossistema govtech cresce
Termino com o que, para mim, é o principal avanço de 2020. O ano foi marcado pelo amadurecimento do ecossistema de startups que oferecem soluções para apoiar governos a enfrentar seus desafios, as govtechs.
Primeiro, as startups deram exemplo de resiliência e capacidade de respostas frente à crise.
Empreendedores de diversas áreas adaptaram suas soluções em dias ou semanas e, com isso, puderam ser aliados estratégicos no enfrentamento aos desafios de saúde e assistência social —os mais urgentes e que impactavam milhões de pessoas no país. Neste artigo e também aqui pude apresentar várias dessas experiências e seus resultados.
Uma delas foi especialmente marcante: a startup Gesuas, responsável por criar o primeiro prontuário eletrônico da Assistência Social, adaptou e disponibilizou gratuitamente seu software para que mais de 100 municípios do país pudessem manter os atendimentos às famílias em situação de vulnerabilidade.
Soluções como essas, por exemplo, contribuíram para que ações como o auxílio emergencial pudessem ser implementadas.
O BrazilLAB, primeiro hub govtech do país, e que é uma startup social, também contribuiu para esse processo. Nossa equipe adaptou o programa anual de aceleração de startups e lançou o Força-Tarefa Covid-19, iniciativa que buscou soluções que pudessem ser aplicadas para enfrentar os desafios de educação, inclusão produtiva e digitalização do governo.
Recebemos mais de 350 cadastros de 18 estados e 5 países e o melhor, startups com grande maturidade e atuação consolidada junto ao setor público. Ao final do programa, 30 govtechs foram aceleradas e três eleitas como as grandes vencedoras.
E em 2020 também tivemos a oportunidade de analisar o ecossistema govtech. Lançamos o relatório inédito "As Startups GovTechs e o futuro do governo no Brasil", realizado em parceria com o Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) e demonstramos o potencial deste setor: 1500 startups do país poderiam modular suas soluções para atender às demandas dos governos.
As govtechs deixaram uma marca este ano e as perspectivas são cada vez melhores.
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Embora a crise trazida pela covid-19 seja o principal marco do ano de 2020, meus registros atuais e as memórias futuras não deixarão que ela seja a única. Nos despedimos de 2020 com marcas profundas, mas receberemos o novo ano com muito mais do que os efeitos negativos da crise que nos assolou. Que venha 2021!
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