Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Trabalho remoto derruba mito da baixa produtividade, mas desgaste preocupa
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Este ano, o noticiário brasileiro está repleto de notícias aterrorizantes. O caos tem sido tão grande que, por vezes, nos resignamos diante daquilo que parece imutável
Mas, por vezes, as boas notícias chegam e nos trazem um sopro de esperança e animação. Uma delas, em especial, foi muito celebrada por aqui: até outubro, o Brasil terá 100% de sua população adulta completamente vacinada.
O futuro que tanto desejávamos, no qual a covid-19 teria seus impactos reduzidos, finalmente, parece que se tornará realidade muito em breve.
Não sem o custoso saldo da pandemia, que foi extremamente duro no país em que quase 600 mil pessoas perderam suas vidas —não nos esqueçamos nunca disso.
Com o avanço da vacinação, surge também a perspectiva de que poderemos retornar para atividades que antes eram comuns à nossa rotina, especialmente, o trabalho.
Após mais de 18 meses de atividades remotas —para aqueles que dispõem dessa opção— muitas empresas já discutem a volta ao escritório.
O experimento não planejado de home office deve ter fim e retornaremos todos ao escritório, tal qual o deixamos em março de 2020.
Esse deve ser, de fato, o caminho a ser seguido?
A volta ao modelo antigo não parece ser o desejo da maioria.
Recente pesquisa realizada pela Faculdade de Economia e Administração da USP (FEA/USP) aponta que 78% dos entrevistados desejam permanecer no modelo de trabalho remoto pós-pandemia.
A satisfação e a produtividade parecem ter aumentado ou, ao menos, se mantido similar àquelas obtidas no modelo presencial.
Estando à frente da Fundação Brava, observo que esses elementos estão, de fato, muito presentes. Mas as vantagens desse modelo não se restringem somente a eles.
O trabalho remoto rompeu barreiras geográficas em um Brasil que tem dimensões continentais e que possui talentos distribuídos nas mais diferentes regiões.
Neste ano tivemos a oportunidade de contratar membros para a nossa equipe em cidades como Caruaru (PE), algo que seria impensável há um ano e meio.
Dados do Linkedin para o ano de 2020 reforçam que esse movimento acontece em escala global. A plataforma observou um aumento de 357% nos anúncios de vagas com a possibilidade de trabalho remoto.
O home office também trouxe novas possibilidades para o reskilling e upskilling —e conhecemos ainda muito pouco sobre o impacto dessa transformação.
Cursos que antes eram presenciais, absolutamente custosos e pouco acessíveis à imensa maioria de pessoas que não residem em grandes centros urbanos, podem ser realizados através da tela do computador.
E não menos importante: a experiência de trabalho remoto durante a pandemia põe por terra o mito da improdutividade.
Uma pesquisa publicada pela Fundação Dom Cabral em parceria com a Grant Thornton e a Emlyon Business School aponta que mais de 58% dos respondentes afirmam ser mais produtivos ou significativamente mais produtivos em home office. O mesmo índice foi de aproximadamente 44% em 2020.
Mas nem todos os resultados são positivos e os desafios já começam a surgir.
De burnout a cultura organizacional
O aumento da produtividade no trabalho online pode esconder um perigoso lado: as pessoas produzem mais, ao custo de trabalharem por mais horas.
Você já deve ter passado por algo semelhante: reuniões consecutivas sem um intervalo para o café; mensagens e e-mails que chegam tarde da noite; ou a incômoda sensação de nunca estar desconectado do trabalho.
Os dados são realmente alarmantes: de acordo com a mesma pesquisa da FEA/USP, 23% dos entrevistados afirmam trabalhar entre 49 e 70 horas por semana.
O trabalho online também impacta o contato humano e direto entre os integrantes dos times. Com isso, a distância física pode comprometer um aspecto fundamental: a presença de uma cultura organizacional forte e compartilhada entre as pessoas.
Não há solução única para esses dois importantes desafios, mas há boas experiências para se inspirar.
Em todas as conversas que já tive a oportunidade de ter com outras lideranças, fica a clara mensagem de que a transparência, o diálogo e a avaliação frequente das práticas são bons princípios para se adotar em um cenário no qual o modelo remoto ou híbrido possa ser uma realidade que veio para ficar.
———
Como liderança, estou entusiasmada com a possibilidade de retorno ao ambiente presencial e a todas as vantagens que ela nos traz. Anseio pela retomada de eventos, viagens e, sobretudo, pelo contato com o time.
Mas também entendo a responsabilidade que esse momento impõe.
Se, em março de 2019, tivemos de nos apressar e avançar —de maneira não planejada— alguns anos na revolução do trabalho, temos, agora, a oportunidade de promover um retorno orientado por evidências, que possa contribuir com o engajamento dos times e também permitir que os resultados positivos do modelo online —que são tantos— continuem a ser uma realidade no mundo pós-pandemia.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.