Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Empreender é difícil? Estes dados provam que para mulheres é ainda pior
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Em 19 de novembro, comemoramos o dia do empreendedorismo feminino. A data foi escolhida pelas Nações Unidas como símbolo de celebração e apoio a todas as mulheres que, ao redor do mundo, são responsáveis por liderar negócios nas mais diferentes áreas.
Em minha visão, esse dia é ainda mais fundamental para relembrar os desafios que ainda precisamos enfrentar para ampliar a participação de mulheres no universo do empreendedorismo.
A imagem de glamour, altos retornos e flexibilidade no trabalho quase nunca condiz com a realidade de quem deseja criar um negócio próprio. Tive a oportunidade de comprovar essa verdade ao acompanhar diversas trajetórias ao longo de minha atuação na Endeavor e na Fundação Brava, além de ser também uma empreendedora social, tendo fundado há 5 anos o BrazilLAB, único hub de aceleração govtech do país.
Empreender exige paixão, dedicação, resiliência e foco. As falhas são muito mais comuns do que os poucos acertos ao longo do caminho. Mas nessa difícil corrida em busca do sucesso, as mulheres precisam superar ainda mais obstáculos. O caminho está muito longe de ser igualitário.
Criação de negócios de base tecnológica, acesso a financiamento e desequilíbrio de papéis e responsabilidades. De longe, esses são os três principais desafios da mulher empreendedora.
Representamos a metade dos microempreendedores individuais (MEI) existentes no país (48%), totalizando 24 milhões de indivíduos, e contribuindo para que o Brasil possua a 7ª maior proporção global de mulheres em novos negócios.
Embora sejam numerosos, 44% dos negócios liderados por mulheres se caracterizam como empreendedorismo de subsistência —contra 32% no caso dos homens, segundo o relatório especial Empreendedorismo Feminino no Brasil do Sebrae.
E não há absolutamente nada de errado em empreender para superar o desemprego ou para proporcionar um incremento de renda. Esse, inclusive, é um dos principais trunfos do empreendedorismo: proporcionar transformação social e independência econômica para um grande número de pessoas.
O problema está em não reconhecer e dar oportunidades para que seja possível ir muito além: mulheres podem e devem buscar a construção de negócios tecnológicos, inovadores e que tenham escala suficiente para ampliar os retornos financeiros e sociais —como sempre discuto por aqui.
O financiamento é o segundo grande desafio. Apesar de microempreendedoras individuais apresentarem uma taxa de inadimplência menor (3,7%) se comparada àquela observada entre os homens (4,2%), as mulheres donas de negócios acabam pagando juros maiores ao ano (35%) do que os homens (31%).
No universo das startups, a situação se repete: de acordo com o Female Founders Report 2021, as startups lideradas só por mulheres receberam apenas 0,04% dos mais de US$ 3,5 bilhões aportados no mercado em 2020.
E não para por aí: dados do Banco Mundial apontam que a média de capital recebida por startups lideradas por mulheres é de cerca de 65% da média recebida por eles, um cenário que se agrava à medida que aumentam os valores investidos e se avança nas rodadas de investimento.
Por último e não menos importante: às mulheres ainda lhes é reservada a responsabilidade pela chamada economia do cuidado, ou seja, a manutenção de atividades para garantir o bem-estar dos filhos, de parentes ou da casa.
O resultado é que, muito embora 70% das empreendedoras tenham iniciado um negócio em busca de flexibilidade —como mostra uma pesquisa realizada pela Rede Mulher Empreendedora— o desafio de se desdobrar para administrar os tantos papéis que lhes são atribuídos faz com que as Donas de Negócio trabalhem menos horas em comparação aos homens (18% a menos).
Com isso, há uma redução massiva na conversão de "Empreendedoras" em "Donas de Negócios": ela é 40% mais baixa em relação aos negócios liderados por homens, segundo o Sebrae.
Os desafios são profundos e estruturais. A excelente notícia é que, nos últimos anos, testemunhamos o surgimento de numerosas ações dedicadas a fortalecer a atuação de mulheres empreendedoras.
Um primeiro exemplo é o Banco da Providência, organização que atua no combate à extrema pobreza no Brasil e que, em parceria com a Stone e o Instituto Phi, tem atuado para a formação de empreendedoras em todo o país.
Ou o Potência Feminina, uma realização do Instituto Rede Mulher Empreendedora (RME) com apoio do Google.org, que tem o objetivo de capacitar e impactar a vida de 50 mil mulheres, oferecendo formação nos temas de empregabilidade, empreendedorismo e programação.
A startup Carinos, que criou um programa de benefícios e apoio para pais e mães que trabalham, oferece uma rede de cuidados e conteúdos sobre a primeira infância —uma solução fundamental para reduzir o peso da economia do cuidado sobre as mulheres.
E a B2Mamy, organização que, desde 2016, já capacitou mais de 30 mil mulheres em conhecimentos sobre o universo da tecnologia e inovação.
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O empreendedorismo feminino pode ser uma ferramenta fundamental para a redução das desigualdades, para a promoção da justiça e da igualdade social.
Ele se tornará ainda mais importante no contexto pós-pandemia, quando os países precisam colocar em prática planos de recuperação econômica que garantam o bem-estar da população.
Mas para que isso seja verdade, enfrentar os desafios que ainda hoje, em pleno século 21, persistem, demandará uma mudança de cultura e ação: garantir a equidade de gênero deve ser preocupação e uma pauta sempre presente nos mais diferentes espaços da sociedade.
Não há segredo ou caminho mais fácil: quando muitos têm a ganhar, todos precisam contribuir para que a transformação aconteça.
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