Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Assédio no metaverso: vamos tolerar violência no mundo que estamos criando?
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Em meu último texto, falei sobre as principais tendências para a agenda govtech em 2022. Uma delas tem sido amplamente discutida nos últimos meses: o metaverso.
Como entusiasta da inovação e da tecnologia, entendo que o metaverso pode ser o maior ponto de inflexão de nossa geração. As possibilidades que se abrem com essa tecnologia são infinitas e podem transformar profundamente diversas instâncias da nossa vida.
Com ela, a relação dos seres humanos com o digital passa a um novo patamar, em que não somente estaremos conectados virtualmente pelos diversos aplicativos existentes, como também seremos capazes de criar novos mundos e povoá-los com nossas réplicas no ambiente virtual —os famosos avatares.
Em resumo, há muitos motivos para sermos otimistas, mas também cautelosos. Afinal, o metaverso pode ser permeado por práticas grotescas presentes no mundo físico. É o que mostra um recente e triste evento: uma usuária foi assediada nesse espaço.
O que é o metaverso?
O metaverso é um ambiente virtual imersivo construído por meio de diversas tecnologias, como realidade virtual, realidade aumentada e hologramas.
O potencial dessa tecnologia é tão grande que fez até o Facebook mudar seu nome para Meta. Para se ter uma noção, o grupo de Mark Zuckerberg vai investir US$ 10 bilhões em seu projeto ligado à realidade virtual e aumentada.
E em dezembro de 2021, a Meta lançou a versão beta de sua realidade virtual, a Horizon Worlds. Nesse espaço, até 20 avatares podem se reunir para interagirem no espaço virtual.
E foi em um desses encontros que o caso de assédio aconteceu: uma usuária do ambiente relatou a experiência no grupo de testes no Facebook, descrevendo que havia sido apalpada por um estranho. E o pior: os demais avatares não esboçaram qualquer reação para ajudar a vítima.
Vivek Sharma, vice-presidente da Horizon, descreveu o incidente como "absolutamente infeliz", enquanto que a análise técnica da Meta indicou que a mulher poderia ter acionado o recurso chamado safe zone, uma espécie de "bolha protetora" que impede outros usuários de tocar, falar ou interagir com quem a aciona.
Esse é o caminho?
O assédio, especialmente contra mulheres, é algo estrutural. Por isso, não é necessariamente surpresa que ele pudesse acontecer no ambiente virtual, sendo ele uma extensão do que vivemos no mundo físico.
Isso em nada diminui a gravidade do ocorrido ou altera uma verdade absoluta: casos de assédios são inaceitáveis e precisam ser combatidos ativamente.
O que surpreende é que os desenvolvedores da Meta —e de outros metaversos, como o QuiVr, que também já enfrentou casos de assédio em 2016— não tenham desenvolvido soluções efetivas para prevenir que esses episódios aconteçam.
Sim, os mecanismos de segurança que impedem o contato físico entre os avatares seguem sendo fundamentais, mas eles também perpetuam uma mensagem cruel e que conhecemos bem: a de que cabe aos próprios indivíduos a garantia de sua segurança contra assédios.
Mais do que ensinar as vítimas a se cuidarem, é preciso responsabilizar os agressores.
Sim, o assédio, ainda que virtual, é uma agressão, e é fundamental que o percebamos assim.
Isso vale para outras tantas violências que possam, infelizmente, acontecer no metaverso.
Sendo ele uma extensão de nossa vida, é fundamental garantir que nesse espaço tenhamos direito ao bem-estar, à segurança e ao respeito.
Como já discuti por aqui diversas vezes, estamos diante de um momento singular na história da humanidade e de sua relação com a tecnologia.
Somos nós, seres humanos, os responsáveis por decidir os parâmetros éticos que deverão ser adotados pelas novas tecnologias e novos mundos —interplanetários ou digitais— que serão povoados.
E cabe a nós a garantia de que essas novas criações não sejam a repetição do que vemos no mundo físico. Temos a chance de criar algo novo, melhor e justo para todos.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.