Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Como a pandemia e o trabalho remoto impactaram os servidores públicos
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A pandemia de covid-19 acelerou diversas transformações em nossa sociedade. Tendências como educação à distância, bancarização da população, compras onlines e o trabalho remoto se tornaram mudanças sociais que prometem ser duradouras.
Segundo membros da Emerging Multinationals Research Network (EMRN), rede internacional de pesquisadores, a pandemia acelerou a digitalização das empresas em 10 anos.
E o cenário dentro dos governos não foi diferente, já que em todo o mundo, o setor público precisou promover de forma acelerada a digitalização dos serviços públicos, medida fundamental para apoiar a população em um período de isolamento social cercado de incertezas.
Diversas carreiras migraram para o trabalho remoto e híbrido. A forma de fazer a gestão e o acompanhamento das equipes se transformou.
O People in Government Lab, centro de pesquisa global e interdisciplinar, focado em inovações na gestão de pessoas no governo, tem buscado identificar os diferentes impactos dessa transformação. Ele faz parte da Blavatnik School of Government da Universidade de Oxford.
Uma das iniciativas foi a "Conferência Internacional Perspectivas globais sobre o futuro do serviço público", realizada no último dia 15 de julho, com o apoio da Fundação Brava, Fundação Lemann, República.org e Instituto Humanize.
Neste evento foram apresentados os resultados dos dois principais projetos de pesquisa do People in Government Lab: o Voices of People in Government e o Remote Work Project. Ambas as pesquisas discutem como a pandemia de covid-19 transformou o serviço público em todo o mundo, quais lições foram aprendidas e como os governos devem se preparar para o futuro em temas como, trabalho híbrido e remoto, comunicação, liderança e adoção de novas tecnologias.
Do lado das lideranças públicas, os principais resultados obtidos com as pesquisas apontaram para a percepção de um duplo imperativo relacionado aos serviços públicos durante este período de inflexão: houve a necessidade de uma maior velocidade, flexibilidade e descentralização nas tomadas de decisões, por um lado, mas uma maior necessidade de coordenação e colaboração, por outro.
Estas demandas levaram lideranças de diversas partes do mundo a realizarem uma série de mudanças em torno das estruturas e normas tradicionalmente hierárquicas de suas instituições —que variaram desde a adoção de formas ágeis de trabalho, a criação de novos mecanismos de coordenação, a incorporação de novos estilos de liderança e sistemas de treinamento intensificados com foco em um escopo mais amplo de habilidades— e a ampliação do uso da tecnologia como uma facilitadora.
Do lado das equipes de servidores e gestores públicos, os resultados do relatório sugerem que a transição generalizada para o trabalho em modalidade remota devido a pandemia teve um forte impacto positivo no bem-estar e na produtividade dos servidores públicos, embora também destaquem os desafios trazidos por esse novo desenho de trabalho.
O relatório "Remote Work Project" reuniu respostas de organizações públicas do Reino Unido, Brasil e Chile e coletou as opiniões de 1.350 funcionários públicos. As principais descobertas com a pesquisa foram:
- Em primeiro lugar, a maioria dos entrevistados está satisfeita com o trabalho remoto e híbrido, mas os desafios relacionais e de equilíbrio entre vida pessoal e profissional surgiram de forma muito evidente.
- Em segundo lugar, os entrevistados de organizações públicas que já possuíam estruturas regulatórias e políticas de teletrabalho tinham mais familiaridade com o trabalho remoto e tiveram uma experiência mais positiva com o home office durante a pandemia.
- Em terceiro lugar, dentre os entrevistados, aqueles com menos escolaridade, mulheres e/ou profissionais que não estão em cargos de gerência possuíam substancialmente menos experiência de trabalho remoto e esses grupos precisaram se adaptar mais rapidamente.
- E em quarto, gestores e servidores públicos mais jovens enfrentam mais desafios ao teletrabalho durante a pandemia do que 'não-gestores' e servidores públicos mais velhos.
Os especialistas e as lideranças públicas ao redor do mundo não são unânimes em suas opiniões sobre quais dessas mudanças provavelmente serão permanentes.
No entanto, já está evidente que a pandemia transformou a gestão de pessoas no setor público.
Como já discuti aqui, sem os servidores públicos responsáveis por implementar os mais distintos serviços essenciais durante a pandemia, seus efeitos seriam ainda mais catastróficos.
Há, portanto, uma nova visão sobre a importância desses atores para os serviços públicos.
E há também a certeza de que a transformação digital das organizações públicas passou a não ser mais uma opção, mas sim uma necessidade urgente para ampliar a oferta, a transparência e a qualidade das políticas públicas.
Mas todos os avanços e impactos positivos trazidos pelas tecnologias só serão possíveis se colocarmos os gestores e os servidores públicos no centro da transformação do governo.
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