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Letícia Piccolotto

REPORTAGEM

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Pós-pandemia: o que mudou no mundo do trabalho

Pexels/Nataliya Vaitkevich
Imagem: Pexels/Nataliya Vaitkevich

26/12/2022 04h00

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Tomados pela rotina e por uma capacidade de adaptação que se mostrou impressionante, nós nos referimos à pandemia como um evento que ocorreu em um passado distante. No entanto, perto de completar três anos do surgimento dos primeiros casos registrados de COVID-19, quando analisamos os acontecimentos vivenciados nesse curto espaço de tempo, são nítidas as diversas mudanças em nossas vidas e em nossa sociedade.

O mundo do trabalho não ficou fora disso, sendo talvez uma das áreas que mais sofreram transformações e antecipação de tendências. Olhando agora com certo distanciamento, fica a pergunta: o que aprendemos depois dessa experiência?

A pandemia esvaziou os escritórios e levou muitos trabalhadores, das mais variadas especialidades e qualificações, a migrarem rapidamente para o trabalho remoto. Com isso, o ritmo e a rotina mudaram drasticamente a vida de milhões de funcionários.

Segundo o estudo da Fundação Getúlio Vargas "Como implantar o local de trabalho digital", o trabalho é composto não só por práticas gerenciais e ferramentas digitais, mas também por aspectos culturais ou comportamentais, como adaptação, liderança, comunicação, confiança e gestão por resultados.

Todos esses elementos foram diretamente impactados pela adoção do home office. A recente pesquisa "Microsoft Work Trend Index 2022", que entrevistou mais de 20 mil pessoas de 11 países (incluindo o Brasil), buscou mostrar a medida desse impacto.

Um dos primeiros achados é o chamado "paradoxo do híbrido", que consiste no desejo dos funcionários de se manterem desfrutando do conforto de trabalhar de suas casas e de sua flexibilidade, mas sentirem falta de se conectarem com outras pessoas, principalmente com os seus colegas mais próximos do trabalho.

Outro destaque apontado pelo estudo é a chamada equação do "vale a pena", em que o colaborador passou a avaliar os custos e benefícios do seu trabalho em relação ao seu bem-estar como um fator decisivo de permanência em seus empregos.

Agora considerados novas variáveis na conta final que mede a satisfação do funcionário com o seu trabalho, esses novos questionamentos eram muito menos presentes antes da pandemia. A partir dessa nova exposição de experiências e vivências, a pesquisa apontou que 53% dos colaboradores passaram a colocar na ponta do lápis e a priorizar a sua saúde e bem-estar sobre o trabalho. Além disso, 18% deixaram seus empregos, e 52% dos millennials e da geração Z estão pensando em mudar de emprego no próximo ano.

Tendo em vista essas movimentações, a pesquisa apontou três pontos urgentes para as lideranças alinharem e emponderarem os colaboradores para os novos caminhos e modelos disponíveis nos dias de hoje:

  • A "paranoia" da produtividade

Dos funcionários entrevistados, 87% se dizem mais produtivos com o modelo híbrido, enquanto apenas 12% dos gestores dizem ter plena confiança de que sua equipe é produtiva.

Há, portanto, um evidente descompasso entre o quanto as pessoas dizem que estão trabalhando e o quanto as lideranças pensam que elas estão trabalhando, o que denota a presença de uma cultura de controle das lideranças, contrastando com a cultura de performance e entrega de resultados.

Dessa forma, é importante que as lideranças sejam claras nas demandas e oportunidades para com suas equipes. Definir metas e apresentar objetivos claros, com ferramentas como OKRs, são alternativas para superar esses desafios.

  • Abraçar o fato de que as pessoas vão para o presencial para verem umas às outras

Segundo a pesquisa, 73% dos funcionários disseram que precisam de justificativas melhores para irem ao escritório do que apenas as expectativas da empresa.

A pesquisa apontou que as pessoas se motivam a ir para o escritório para recuperarem o que perderam durante a pandemia: a conexão social de estar com outras pessoas, principalmente com colegas mais próximos de trabalho.

É preciso que as empresas aproveitem esse capital e criem um ambiente que possibilite a criação de laços para que as pessoas possam se conectar.

  • Reconquiste o seu empregado

A pesquisa mostrou que 76% dos funcionários ficariam mais tempo na empresa se pudessem se beneficiar mais do suporte de aprendizado e desenvolvimento.

Organizações que conseguem criar uma cultura de aprendizado, mobilidade e um ambiente para que os colaboradores possam se desenvolver são as empresas que mais estão retendo e atraindo talentos.

  • A tecnologia como aliada do híbrido

A tecnologia tem sido uma forte aliada nessa jornada de trabalho remoto, especialmente com o uso da inteligência artificial, que busca aprimorar as habilidades e competências das equipes que foram privadas de encontros presenciais.

Um dos exemplos de tais ferramentas é o Speaker Coach, da Microsoft. Na ausência do time para dar feedbacks durante uma apresentação de trabalho, a ferramenta consegue analisar voz e imagem na câmera e produzir um relatório analítico sobre a exposição.

Outra ferramenta desenvolvida a partir dos desafios do trabalho remoto é a Language Interpretation, que também fazendo uso de inteligência artificial, identifica na hora de agendar uma reunião se há participantes falantes de outras línguas, habilitando a tradução automática e em tempo real durante as reuniões. Essa possibilidade não quebra apenas as barreiras dos idiomas, como também é um importante instrumento de inclusão para pessoas com deficiência auditiva e surdas no meio corporativo.

Transformação cultural

Passados quase três anos do início da pandemia, é possível analisar com mais nitidez os impactos desse desafio para a sociedade, especialmente para o mundo do trabalho. Fica evidente que uma revolução está em curso. Novas tecnologias surgem com o objetivo de facilitar a interação entre as pessoas, e o trabalho remoto (ou híbrido) tem sido cada vez mais adotado pelas diferentes organizações, embora ainda seja acessível a uma pequena parcela da sociedade.

No entanto, a maior transformação ainda está em curso - e é de ordem cultural: os trabalhadores, especialmente as novas gerações, têm novas expectativas e estão em busca de novos propósitos para sua atuação profissional. Precisamos acompanhar esse movimento com atenção para anteciparmos seus potenciais desdobramentos. A transformação no mundo do trabalho está só começando.