Topo

Letícia Piccolotto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Devemos ter medo do ChatGPT? Não, mas seu uso exige a nossa vigilância

ChatGPT pode substituir humanos? Ainda não temos respostas e pode demorar muito tempo até que as tenhamos - Gerd Altmann/ Pixabay
ChatGPT pode substituir humanos? Ainda não temos respostas e pode demorar muito tempo até que as tenhamos Imagem: Gerd Altmann/ Pixabay

07/02/2023 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

O debate sobre o ChatGPT segue acalorado e sem previsão de terminar.

Você deve ter acompanhado o tema nas últimas semanas, mas me permita fazer uma breve recapitulação: em novembro de 2022, a OpenAI, organização que tem como missão "garantir que a inteligência artificial beneficie toda a humanidade", lançou o chamado ChatGPT, um robô virtual que responde a perguntas variadas, gerando grandes quantidades de conteúdos sobre, basicamente, qualquer tema.

A princípio essa descrição pode soar modesta e até comum, afinal, estamos bastante acostumados a dialogar com os chamados chatbots —seja em chamadas telefônicas, WhatsApp ou mensagens instantâneas.

No entanto, especialistas asseguram que o ChatGPT é altamente disruptivo —alguns o consideram o melhor chatbot já inventado— por possuir uma alta performance na criação de conteúdos que se assemelham muito a materiais produzidos por seres humanos.

A criatividade, um reino antes só ocupado por seres humanos, parece ter novos habitantes.

O sucesso da tecnologia, que pertence ao grupo das chamadas "generative AI", foi imediato e uma verdadeira febre digital. Após poucos dias de lançamento, a plataforma, que é gratuita, já reuniu um milhão de usuários que testaram as funcionalidades da inteligência artificial das mais distintas formas —seja para elaborar poemas, pedir orientações ou fazer questões existenciais sobre a própria tecnologia.

E como não podia ser diferente, o sucesso, amplo uso e a análise preliminar das diferentes aplicações do ChatGPT têm preocupado especialistas.

Assim como observamos em casos anteriores —como a deepfake, por exemplo— o desenvolvimento acelerado da inteligência artificial suscita questões muito pertinentes sobre o uso ético da tecnologia.

Se fosse possível sintetizar todo esse debate, diria que são três as principais preocupações:

  • Soluções com o ChatGPT podem substituir humanos em diferentes tarefas relacionadas à produção de saberes, conteúdos e criatividade?
  • A inteligência artificial representa um perigo ao reconhecimento da verdade dos fatos e da identidade de seres humanos?
  • Estamos prontos para acompanhar, de maneira ostensiva, o desenvolvimento de tecnologias de inteligência artificial de modo a garantir que elas tragam benefícios reais à coletividade, ao invés de danos irreversíveis?

Ainda não alcançamos respostas para essas perguntas e pode levar muito tempo até que as tenhamos.

Isso não significa, definitivamente, que devemos parar nossa busca por elas, que são tão fundamentais.

É preciso que estejamos vigilantes, compreendamos que o desenvolvimento da tecnologia não é inerentemente ruim, e possamos pactuar princípios e limites claros para a aplicação da inteligência artificial —falei sobre o tema aqui.

Há inúmeras —e altamente positivas!— possibilidades para aplicação de soluções com o ChatGPT. Cabe a nós, especialmente às lideranças em tecnologia, definir as bases de sua utilização de forma ética para que esses benefícios possam ser colhidos por todos e, mais importante, não gerem como externalidades riscos a ninguém —sem exceção.

Com isso, quem precisa ter medo da ChatGPT? Por enquanto, ninguém. E é inegociável que se continue assim.