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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

'Permacrise': sente que tudo está ruim e pode piorar? Você não está só

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Imagem: Unsplash

28/02/2023 04h00

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Guerras, eventos climáticos extremos, desabastecimento, crise energética, pandemias, fake news, inflação em alta? Se você tem a sensação de estar presenciando de forma ininterrupta diversas crises, saiba que não está sozinho.

Em novembro, o dicionário britânico Collins selecionou "permacrise" como a expressão do ano de 2022 no Reino Unido. A expressão se refere a "um período extenso de instabilidade e insegurança" e retrata exatamente o sentimento de estar desnorteado, lançado de um problema para outro, sem ter tempo para respirar, além de manter constantemente o pensamento de que o pior ainda está por vir.

O conceito de permacrise não é novo. A palavra foi usada pela primeira vez em 1970 no ambiente acadêmico e voltou a ser empregada reiteradamente nos últimos meses.

Para o diretor-geral da Collins Learning, Alex Beecroft:

Permacrise resume, de maneira sucinta, o quão realmente horrível 2022 foi para muita gente"

No Brasil, a sensação é de que compartilhamos desse sentimento há muito tempo.

De desastres ambientais a escândalos políticos, assistir a diversos eventos negativos ocorrendo de forma concomitante já fazia parte do nosso cotidiano mas, nos últimos anos, lamentavelmente, esses acontecimentos têm se mostrado mais extremos e recorrentes.

Somente nessas primeiras semanas de 2023, os noticiários pareciam uma exposição constante e ambígua de eventos.

As cenas de euforia das festas de fim de ano e do Carnaval representavam um claro contraste frente a eventos graves e profundamente trágicos, como:

  • Os ataques antidemocráticos em Brasília;
  • A tragédia humanitária da população yanomami;
  • O triste evento climático extremo no litoral norte de São Paulo, em que as fortes chuvas e deslizamentos deixaram mais de 2.500 desabrigados e mais de 60 pessoas mortas.

Crises, desastres e tragédias que parecem ser uma constante nos tempos atuais produzem mudanças comportamentais muito concretas na população, como a diminuição crescente do interesse em se manter informada.

Esse é o fenômeno que nos mostra o relatório anual sobre o consumo de notícias, do Reuters Institute for the Study of Journalism, da Universidade de Oxford.

A pesquisa, feita com mais de 93 mil leitores em 46 países, aponta que, em média, 38% dos entrevistados disseram que frequentemente ou às vezes evitam buscar informações sobre certos assuntos —sobretudo quando se trata de temas como política ou pandemia.

O Brasil lidera o ranking da pesquisa: em nosso país, 54% dos entrevistados afirmam "evitar" o noticiário de propósito.

Os impactos da permacrise também estão presentes na saúde mental.

Para a psicóloga e especialista Katia da Silva Wanderley, além do cenário externo, os problemas internos e pessoais também são um importante fator nessa equação.

Segundo a psicóloga:

Quanto maior o tempo de permacrise, mais o equilíbrio psíquico se desgasta possibilitando o agravamento de doenças mentais que já existem, bem como o aparecimento de doenças que ainda não se faziam presentes na vida da pessoa, como depressão, síndrome do pânico, crises de ansiedade e outras"

Como o problema é complexo, não existe resposta simples de como sair ou lidar com a permacrise.

Cada indivíduo precisa encontrar caminhos para o equilíbrio emocional, combinando intervenções focadas no corpo, na mente e na coletividade.

Redes de apoio, conversas com amigos e familiares são fundamentais para garantir o acolhimento de sentimentos tão complexos e compartilhados, afinal, ninguém está só.

Acima de tudo, é fundamental manter uma visão otimista e pragmática sobre a realidade, tendo como base fatos e a perspectiva de que, a despeito de todos os desafios, a sociedade está em evolução.

No livro "21 Lições para o Século 21", o professor Yuval Noah Harari explica que a inteligência artificial (IA), a biotecnologia e a tecnologia da informação provocam, cada vez mais, mudanças rápidas e constantes na humanidade, o que contribui para a existência de momentos de crise.

Para o pesquisador, o equilíbrio emocional e o autoconhecimento são fundamentais para a adaptação a um mundo em excessiva mudança, como a realidade que vivemos hoje. Que possamos, todos, alcançar esse complexo e necessário equilíbrio.

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