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Óculos de realidade virtual são moda passageira ou vieram para ficar?
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Marcelo Coelho, em sua coluna de 29 de setembro, vaticina que os óculos de realidade virtual (que ele não sabe dizer se experimentou ou não num shopping, tempos atrás) entrarão para a coleção de bobagens que a humanidade experimenta e abandona, como caçar pokémons ('atividade' que gerou US$ 1,2 bilhão só em 2020) ou aventurar-se pelo hoje ultrapassado Second Life— enfim, mais uma tecnologia que não pegou.
Nós, que temos os tais oculus e começamos a investigar suas possibilidades, não somos tão taxativos.
E imaginamos qual teria sido a reação de Coelho diante do aparelho que fazia videochamadas apresentado pela AT&T numa feira de tecnologia em 1964 e que começou a ser vendido em 1970. Ou ao usar o primeiro telefone celular, em outubro de 1983.
Era o "tijolo", como foi apelidado: o DynaTAC da Motorola pesava quase um quilo. Custava o equivalente a US$ 10 mil de hoje e as chamadas eram cobradas a 50 centavos o minuto.
Como em outros equipamentos tecnológicos, os celulares diminuíram de tamanho, peso e preço e aumentaram absurdamente suas aplicações. Depois do ano 2000, passaram a ser conectados à internet móvel pelo 3G.
Hoje, 4,88 bilhões de pessoas possuem celulares no mundo. E 3,8 bilhões são smartphones. Em vários países, as redes 5G começam a se expandir rapidamente, apesar da guerra tecno-comercial mundial travada por China e Estados Unidos.
O caso do Picturephone é diferente: como mostra a reportagem da BBC News, a AT&T estava certa de que as empresas comprariam aquele híbrido de TV com telefone, por ser muito mais barato usar o equipamento do que fazer com que seus executivos viajassem só para reuniões de negócios.
A geringonça não foi bem aceita e a empresa abandonou o projeto depois de perder o equivalente a US$ 3,3 bilhões, em valores atuais.
Em 2021, o WhatsApp ultrapassou a casa dos dois bilhões de usuários; o Facebook Messenger, por volta de 1,3 bilhão e o Skype, 1,8 bilhão. Atente: são bilhões. E os três aplicativos permitem chamadas de vídeo, de qualquer smartphone ou computador.
Como dissemos na coluna de estreia, tudo indica que os oculus são a mais nova aposta das grandes empresas para nossa interface com o mundo digital.
O oculus do Facebook, em sua terceira encarnação, chamada Quest 2, pesa meio quilo e sua bateria dura cerca de duas horas, o que faz que esteja longe de ser um dispositivo que permite uma imersão intensiva e permanente no mundo virtual —está mais para o "tijolo" de 1983.
Esse escafandro visual e auditivo custa US$ 300. Vende cada vez mais, mas numa escala muito distante de outros dispositivos digitais.
Envergando a engenhoca, você se aparta do entorno e parece estar em outra dimensão, podendo passear ou conviver em ambientes virtuais, assistir filmagens em 360, jogar todo tipo de game ou assistir a uma missa ou a um interrogatório brutal na cela de uma prisão iraniana, no papel de algoz.
Mas os grandões da tecnologia já não apostam todas as fichas num só número. Há poucos dias, Mark Zuckerberg, o dono do Facebook, fez questão de apresentar o novo projeto, em parceria com Rocco Basilico, CEO da Essilor Luxotica, empresa italiana dona de marcas famosas como Ray-Ban e Oakley .
À primeira vista não há como distinguir o Ray-Ban Stories de qualquer outro Ray-Ban, embora tenham câmeras duplas, alto-falantes e uma variedade de microfones que permitem tirar fotos, gravar vídeos curtos, reproduzir música ou atender ligações. Tudo com muito respeito a privacidade dos usuários, promete a empresa americana já escaldada por embates anteriores.
Os Ray-Ban Stories não fazem streaming ao vivo, não sobem nada para a nuvem automaticamente, contêm um pequeno led de alerta e contam com uma chave física capaz de ligar e desligar o sistema.
Ainda assim, parece insuficiente dado que a câmera agora vai estar posicionada no seu olho em tempo integral, mas Zuckerberg afirma que essas medidas são, na prática, barreiras maiores que as oferecidas hoje por nossos celulares.
O próximo passo será incorporar dispositivo para acessar a realidade aumentada, como já promete o 'Smart Glasses' da Xiaomi, multinacional chinesa que vem crescendo cada vez mais no mercado brasileiro, que além de ser capaz de tirar fotos e fazer ligações como o produto do Facebook, utiliza um sistemas de microleds para projetar diretamente nas lentes, criando uma camada de informação com mapas, mensagens e notificações sem impedir a visão do usuário.
Os Smart Glasses, em seu vídeo de demonstração, já permitem ter um Waze na frente dos olhos ao dirigir, caminhar ou pedalar, traduzir o menu no restaurante em outro país e receber notificações de redes sociais.
Em grande medida isso já existe e é oferecido por uma porção de aplicativos do seu smartphone, mas fazer com que essa interface esteja integrada permanentemente no seu campo de visão abre uma série de novas possibilidades.
Não é impossível imaginar que, em breve, quando um turista estiver passeando pelo Coliseu, por exemplo, acionará um botão no seu oculus e poderá ter acesso a informação oferecida a partir de um selo de QRcode ou que aliando essa tecnologia com os avanços de reconhecimento facial que seja possível levantar os últimos posts da rede social daquele seu encontro no Tinder.
Há outros sinais: a Snap, responsável pelo Snapchat, tem seu modelo, Spetacles, já em sua terceira versão, que captura imagens 3D. No ano que vem, Sony e a Apple planejam lançar também seus produtos.
Na fala de apresentação de Zuckerberg fica claro que, a partir de caminhos distintos, as duas modalidades de oculus —realidade virtual e realidade aumentada— acabarão por convergir, mais cedo ou mais tarde.
A Microsoft já se antecipou e batizou essa confluência de 'realidade mista'.
Se isso será capaz de substituir os smartphones, ou se algum deles vai ser o novo Picturephone, só o futuro dirá, mas até lá, daremos para vocês uma palhinha desse novo mundo, aqui neste canal.
Na nossa próxima coluna, embarcamos numa jornada virtual para conhecer a VR Church, uma igreja que já existe em diferentes mundos virtuais como AltspaceVR, VRChat e Recroom.
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