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Em show em realidade virtual, subimos no palco e 'caímos' várias vezes
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Esta coluna desrespeitou uma regra —não escrita— básica e deixou de ser publicada no domingo passado, mas por um bom motivo: nós resolvemos experimentar um show "ao vivo" da famosa banda inglesa Muse, programado para o último domingo (24) às oito da noite, hora do Brasil.
"Simulation Theory" é o nome da turnê realizada pela banda em 2019 para divulgar o oitavo álbum do grupo, lançado no ano anterior. O espetáculo já tinha se transformado em um filme dirigido por Lance Drake, lançado no formato IMAX em agosto de 2020.
Mas a apresentação do último domingo é outra coisa: uma experiência imersiva em realidade virtual, no Stageverse, uma nova plataforma social que escolheu o Muse para entrar em cena.
A plataforma permite que vários espectadores experimentem o concerto juntos por meio de imagens 3D de 360° capturadas de vários ângulos ao redor do local. Além do Oculus Quest, o Stageverse também suporta dispositivos iOS e Android.
Fundada em 2017, a Stageverse recebeu um aporte de US$ 7,5 milhões em capital de risco para construir um aplicativo que alia entretenimento e interatividade social, voltado basicamente para eventos ao vivo.
Nesse sentido, o "ao vivo" do concerto é um eufemismo —trata-se de um streaming programado e gratuito, em algumas datas e horários— o primeiro em 21 de setembro e o último, domingo passado.
O show aconteceu com lotação esgotada no estádio Wanda Metropolitano de Madri, onde foram capturadas as imagens com câmeras 360 em 16 pontos distintos.
Em "Simulation Theory" o tema é mais uma vez, a ficção científica. A capa do disco foi feita pelo artista Kyle Lambert, que trabalhou na série "Stranger Things", e os videoclipes foram dirigidos por Miike Snow e Twin Shadow, com toques futurista-retrô e de ficção, com uma temática anos 80, prestando homenagens a filmes como "De Volta para o Futuro" e "O Garoto do Futuro", o personagem Max Headroom e o clipe de "Thriller" de Michael Jackson.
Para acompanhar o show —que pode ser visto em grupo— é preciso baixar o aplicativo no computador, criar uma conta e validar seus dados com um código enviado por email, o que obriga o espectador a por e tirar os Oculus algumas vezes (isso ainda é a regra nesse tipo de experiência).
A nossa aventura teve lá seus percalços. Minutos antes de começar o show, Paulo derrubou um dos controles —esquecera de colocar a alça de segurança no pulso e saiu do aplicativo.
Mas afinal, nós entramos no Stageverse Stadium a tempo.
Ali é possível escolher um modelo de avatar para usar durante a apresentação e obter camisetas da banda, bem como alguns acessórios como uma pistola laser que remete a clubes de techno e uma caneta cintilante capaz de escrever em pleno ar.
Sem combinar, nós escolhemos um vestido quase psicodélico criado pela Balmain de Paris. Só descobrimos que estávamos com o visual idêntico —e feminino— quando nos encontramos no grande lobby do estádio.
Pedro resolveu então trocar de avatar, para o que replica a jaqueta que o líder da banda, Matt Bellamy, usa no palco.
No lobby, cruzamos com outros fãs. Pelos nomes pareciam latinos, indicando que o sistema provavelmente agrupa os participantes por geolocalização: Lock Dog, José Numeritos, Sergio Paparicos.
Finalmente, saltamos para um círculo neon roxo, que é por onde se entra no estádio mesmo.
Ali, acionando um menu colocado no nosso pulso esquerdo, é possível escolher um ponto de vista para acompanhar o show ou simplesmente optar por "seguir a ação".
Os pontos de vista disponíveis mudam ao longo de cada música na performance com base em onde a ação ocorre.
Pulando de um ponto de vista para outro, nós estivemos ao lado do baterista, juntinhos do vocalista ou encostados no baixista.
Girando em torno de nossos eixos, acompanhamos a vibração dos fãs, os efeitos especiais, o estádio lotado vibrando com o rock da banda.
Mas nós não pudemos aproveitar a experiência como os fãs do Muse gostariam.
A Stageverse recomenda uma conexão de internet superior a 30 Mbps para uma experiência ideal, que nós até tínhamos, mas estávamos compartilhando na mesma conexão de fibra ótica, num sítio nos arredores de São Paulo.
Resultado: seja por isso, ou por outro motivo, ambos nos deparamos uma dúzia de vezes com a mensagem: algo deu errado e você precisa entrar novamente no Stageverse.
Mas, opa, se pai e filho estão compartilhando a mesma conexão, isso quer dizer que ambos estão juntos depois de dois anos separados pela pandemia.
Sendo assim, nós tiramos os Oculus e fomos tentar pedir uma pizza. Pela internet, localizamos meia dúzia de fornecedores num raio de 15 quilômetros.
O WhatsApp garantiu o contato com as pizzarias, mas ninguém se dispôs a entregar uma margherita na zona rural do sítio.
Prova de que o mundo digital ainda precisa avançar bastante - e não só em megaeventos como o do Muse e do Stageverse.
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