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Pedro e Paulo Markun

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Pornô em realidade virtual dá sensação de estar em outro corpo durante sexo

Atriz contracena com câmera em formato de cabeça em produção pornô de realidade virtual da VR Bangers - VR Bangers
Atriz contracena com câmera em formato de cabeça em produção pornô de realidade virtual da VR Bangers Imagem: VR Bangers

27/02/2022 04h00

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O pornô e sua indústria multimilionária sempre foram fontes de inovação. Basta notar que o início do cinema, com os irmãos Lumière e seus trens, datam de 1895, os registros do primeiro filme pornô remontam a pouco tempo depois, em 1908.

No desenvolvimento da internet, a industria da pornografia também esteve na vanguarda e os sites de vídeo surgiram antes da popularização do YouTube.

E se trabalho, esportes, comércio, arte, jogos já estão dando as caras na realidade virtual (RV) e no metaverso, por que o sexo iria ficar de fora?

Nos Estados Unidos, os vídeos pornô são a terceira maior indústria de realidade virtual, logo atrás da NBA, a liga de basquete profissional, e da NFL, de futebol americano.

Desde 2016, a indústria pornô tem produzido vídeos de realidade virtual mundo afora. A plataforma mais bem-sucedida, Pornhub, chegou perto do milhão de views diários já em dezembro de 2016. (Por alguma razão não explicada, a audiência para esse tipo de conteúdo cresce muito no período do Natal).

Em 2020, diz a empresa, 130 milhões de pessoas visitaram diariamente a plataforma. Os adeptos do pornô não são a maioria, claro. Uma pesquisa realizada na França, para dar exemplo de um país desenvolvido e supostamente liberal, revelou que 77% dos entrevistados disseram jamais ter frequentado sites do gênero.

Ainda assim, os 23% restantes são muita gente.

O Pornhub tem uma média de meio milhão de visualizações por dia dos 3.000 vídeos gratuitos de RV que oferece. Um de seus diferenciais é justamente essa ampla oferta de vídeos caseiros, grátis. Uma salada mista estética, etária, de gênero e comportamentos capaz de atender nove entre dez preferências.

Pesquisa realizada com adultos norte-americanos entre 18 e 65 anos, pelo Kinsey Institute constatou que:

  • 18% assistem a transmissões online;
  • 13% jogam games de sexo explícito;
  • 10% já assistiram vídeos pornô de realidade virtual;
  • 9% já tiveram encontros sexuais virtuais (os chamados teledildônicos);
  • 8% relataram ter feito sexo com chatbots, isto é, com máquinas que simulam o comportamento humano em conversas online.

Para quem não se contenta em olhar apenas e completar o serviço por conta própria, digamos, há equipamentos de última geração.

Por US$ 289 é possível adquirir uma engenhoca dupla: Kiiroo Onix e Pearl 2. É a conjunção de vibrador com tecnologia sensível ao toque com um masturbador masculino que pode proporcionar até 140 vibrações por minuto graças a um motor rotativo que realiza um movimento para cima e para baixo.

O dispositivo pode ser controlado à distância, o que permite comandar, digamos, a alegria do parceiro. Combinado com os óculos de realidade virtual, dizem, simula muito fortemente um ato sexual.

Demora quatro horas para carregar e oferece uma hora de uso contínuo. Haja energia!

A lista de plataformas que oferecem pornô de realidade virtual é grande. Além do Pornhub, estas são algumas das mais conhecidas:

  • SexLikeReal, que reúne 50 estúdios de filmagem, é considerado o mais aclamado site de pornografia VR do momento. A assinatura mensal custa US$ 29,99, mas há um sistema de pay per view, em que se pode comprar cada um dos 50 mil títulos disponíveis, um a um.
  • VR Bangers é conhecido por apresentar os maiores talentos da categoria em filmes interativos de longa duração desde 2010. Os preços variam, de acordo com o interesse do usuário - de um fee diário a um pacote para a vida toda, por US$ 250.
  • Virtual Taboo, um site europeu dedicado aos mais variados fetiches. Um vídeo a 7,95 euros e a assinatura mensal por 12,95 euros.

A realidade virtual tem lá suas particularidades. Ao colocar o espectador diretamente na ação é preciso travar a câmara na perspectiva dele. Bem diferente de assistir a uma ação entre outras pessoas.

Além disso, como a câmara está literalmente grudada nos atores, o amadorismo desse pessoal,—para além da mecânica e de uma ação normalmente frenética e exaustiva— fica mais evidente.

Esta coluna passeou ligeiramente pelas produções. Existem alguns formatos já consagrados, apesar do pouco tempo de desenvolvimento, mas experimentos surgem a todo momento.

Vídeos de orgias, onde múltiplas pessoas fazem sexo simultaneamente, funciona particularmente bem quando o campo de visão deixa de estar restrito ao enquadramento da câmera.

Vídeos 'POV' (point of view), como são chamadas as obras onde a câmera está no lugar da cabeça de um dos participantes, fazem com que você tenha a curiosa sensação, ao olhar para baixo, de estar em um corpo que não é o seu. Esses vídeos são de longe o formato mais comum.

O mais curioso, pareceu-nos, foram vídeos 360 em que moças desnudas parecem estar diretamente na sua frente. Elas apenas olham para a câmera, isto é, para você e movem-se naturalmente, em silêncio. Coçam a cabeça, ajeitam o penteado, olham para o lado, em total silêncio.

A industria pornô é alvo de muitas críticas, em particular a de que a estética e a representação de como o sexo deve ser e como é o comportamento de homens e mulheres em cena criam um imaginário irreal e tóxico que contribui significativamente para a manutenção de uma sociedade machista e que objetifica as mulheres.

Nesse sentido, a realidade virtual não traz necessariamente boas respostas - ou propostas. Pelo contrário, traz uma série de novas problemáticas éticas e estéticas.

Mas como quase tudo nesse novo mundo, a sensação é de que estamos diante do inevitável e, portanto, a melhor estratégia é entender esse novo mundo e pensar de que maneira queremos, como sociedade, nos relacionar com essa nova tecnologia.