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Web3: por que a revolução da internet ainda não é tudo isso
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Se você chegou até essa coluna, provavelmente já ouviu falar sobre a tal da Web3 - e se interessa por ela -, ainda que não tenha certeza do que isso significa realmente. Esse é um daqueles termos muito falados, mas não tão bem compreendidos assim.
Resumindo, a tecnologia Web3 corresponde à terceira geração da internet, que promete revolucionar a forma como as pessoas se conectam, compartilham e interagem com a rede. Baseada em uma arquitetura descentralizada, permite a seus usuários o acesso a serviços e aplicações diretamente do blockchain, sem a necessidade de intermediários.
Nesse sentido, é bem diferente da Web2, a versão atual da internet tal como conhecemos, caracterizada por ter uma estrutura centralizada, com muitas informações e transações sendo armazenadas e controladas por grandes empresas ou instituições.
A Web3 tem sido apontada como uma solução para muitos dos problemas que afligem a atual internet, como a privacidade, a segurança e a centralização de dados. Ela permite aos usuários controlar suas próprias informações e interações na rede, sem depender de intermediários. Além disso, a tecnologia é mais segura e resistente a ataques cibernéticos, pois utiliza criptografia avançada e protocolos de consenso para validar as transações.
Outra vantagem é a possibilidade de criar aplicações descentralizadas (dApps), que são projetadas para rodar diretamente em blockchain e não dependem de servidores ou data centers. Isso torna as aplicações mais seguras e escaláveis, além de permitir que elas sejam acessadas de qualquer lugar do mundo.
Essa tecnologia está sendo considerada como uma das principais tendências da atualidade e tem sido amplamente discutida em diversos fóruns de tecnologia e inovação.
Tudo muito bonito? Na teoria
Na prática, a realidade é outra.
Para explicar o estado da Web3 em 2022, vale retomar um assunto sobre o qual o colunista de Tilt Ricardo Cavallini já falou por aqui algumas vezes.
O Hype Cycle é um modelo criado pelo Gartner Group, empresa de pesquisa e consultoria em tecnologia, que busca acompanhar o ciclo de vida de tecnologias emergentes. Ele é composto por cinco fases:
- Gatilho Tecnológico
- Pico das Expectativas Infladas
- Vale da Desilusão
- Ladeira do Encantamento
- Planalto de Produtividade
Os nomes instigantes pretendem corresponder aos altos e baixos do desenvolvimento dessas novidades.
Na fase de Gatilho Tecnológico, uma nova tecnologia é apresentada ao mercado e gera muita expectativa. É nesse momento que ela começa a ser conhecida e discutida amplamente.
Na fase seguinte, o Pico das Expectativas Infladas, o frisson em torno da tecnologia atinge seu pico, mas ainda há muitas dúvidas e incertezas em relação à sua viabilidade e ao seu impacto real. Muitas vezes, nessa fase, empresas e investidores começam a aplicar seus recursos em projetos relacionados à tecnologia, o que pode gerar uma bolha especulativa.
No Vale da Desilusão, a tecnologia começa a ser testada e, muitas vezes, não atende às esperanças iniciais, o que gera frustração e desconfiança. É aqui que muitos projetos relacionados à tecnologia são abandonados ou fracassam.
Na etapa seguinte, a Ladeira do Encantamento, a tecnologia começa a ser compreendida melhor e a ser utilizada de maneira mais eficiente. Empresas e investidores passam a entender melhor como aplicá-la, e os projetos relacionados começam a ser mais bem-sucedidos.
Por fim, é no Planalto da Produtividade que a tecnologia se torna amplamente aceita e passa a ser utilizada de maneira diversa e eficiente. É nessa fase que ela atinge seu potencial e começa a gerar resultados concretos.
Obviamente, essa curva não é sempre a mesma: varia de projeto para projeto, e a percepção de onde está exatamente cada tecnologia em um determinado momento é difusa.
Ainda assim, uma passada de olho mais atenta pelos portais de tecnologia coloca Web3, NFT, Metaverso e essas novas tecnologias emergentes em algum lugar entre o Pico das Expectativas Infladas e o Vale da Desilusão, com diversos projetos surgindo e fracassando de forma espetacular.
Uma parte do problema está nas encrencas que surgiram em torno dos NFTs, ou tokens, que devem ser a base monetária capaz de sustentar projetos da Web3. No final de 2021, essa parecia ser uma estrada asfaltada e plana, mas este ano as coisas se complicaram.
Para começar, o volume de NFTS em todos os mercados, que girava em torno de US$ 6 bilhões em janeiro de 2022, caiu para menos de US$ 1 bilhão, em outubro, segundo o relatório "The State of NFT Markets", da empresa de blockchain Consensys.
Maracutaias e fracassos retumbantes contribuíram para esse mau resultado. Os dois criadores do projeto NFT Frosties, uma coleção de 8.888 NFTs com tema de sorvetes, foram parar na cadeia depois de transferirem os fundos arrecadados pelos compradores, atraídos pela promessas de mercadorias, rifas e um prêmio milionário.
Dinheiro que é bom, nada.
Em fevereiro, surgiu o projeto Pixelmon NFT, composto por 10.005 peças de NFTS de personagens pixelados, inspirados no universo dos Pokemóns. A equipe acenava com um currículo que incluía passagens por empresas como a Disney.
Em uma hora, venderam a primeira leva, que resultou no equivalente a US$ 70 milhões. Mas a apresentação das obras decepcionou geral, o preço despencou, e o projeto inteirou deu com os burros (sem pixel) n'água.
Há outros casos, como os da OpenSea e da FTX. Após uma denúncia de fraude envolvendo a segunda empresa, as 15 maiores criptomoedas perderam mais de US$ 176 bilhões em capitalização de mercado em apenas três dias.
Algumas empresas envolvidas com as criptomoedas demitiram fortemente. A americana Coinbase cortou 18% de sua equipe em junho; a BlockchainCom demitiu 25%; e a OpenSea, 20%.
Conclusão de tudo?
O fato é que, apesar de todos os benefícios da Web3, ainda há muitos desafios a serem superados antes que ela se torne uma tecnologia mainstream.
A falta de padrões e regulamentação é um dos principais obstáculos - e a causa dos rolos envolvendo NFTs. Cada projeto Web3 atual tem suas próprias regras e protocolos. Além disso, ainda há um longo caminho a percorrer no que diz respeito a usabilidade e integração com aplicações existentes.
No entanto, as perspectivas futuras são animadoras, e a tecnologia tem o potencial de revolucionar a forma como as pessoas se conectam e utilizam a internet. Com a continuação do desenvolvimento e a maturação dessa tecnologia, é possível que ela se torne um componente fundamental da próxima geração da internet.
Veremos o que vai acontecer em breve.
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