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Pedro e Paulo Markun

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

ChatGPT vai virar o CDF da turma que passa cola ou que ajuda a ensinar?

ChatGPT foi proibido em algumas escolas públicas, mas, por outro lado, foi incorporado no processo pedagógico em universidades - wayhomestudio/ Freepik
ChatGPT foi proibido em algumas escolas públicas, mas, por outro lado, foi incorporado no processo pedagógico em universidades Imagem: wayhomestudio/ Freepik

Pedro e Paulo Markun

Colunistas do UOL

31/01/2023 04h00

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O ChatGPT, mais recente versão do modelo de linguagem —uma IA capaz de produzir textos— da OpenAI, foi assunto nessa coluna algumas outras vezes. Para quem ainda está por fora e não experimentou gastar algumas horas conversando com o futuro, vale acessar o site da ferramenta —que segue gratuito por enquanto— e se surpreender.

Enquanto isso, o mundo começa a reagir a essa nova e estranha tecnologia. Esse incrível modelo de linguagem desenvolvido pela OpenAI está causando polêmica entre as instituições educacionais ao redor do mundo. Ninguém sabe direito o que fazer diante do uso pelos alunos.

Algumas escolas públicas, como as de Queensland, na Austrália, simplesmente proibiram o uso do ChatGPT, enquanto universidades da África do Sul estão decididas a incorporar o uso dessa tecnologia no processo pedagógico.

Fato é que a tecnologia —ainda engatinhando— tem potencial para mudar completamente a forma como ensinamos e aprendemos.

A ferramenta pode produzir respostas corretas para questões de múltipla escolha em diferentes campos do conhecimento e até mesmo escrever trabalhos discursivos inteiros.

Tiago Tavares, pesquisador e professor no Insper, fez experimentos recentemente e descobriu que o ChatGPT teria uma nota de 614 no Enem 2022, suficiente para entrar em diversos cursos incluindo Ciências Biológicas, Engenharia Elétrica e Psicologia.

Na Wharton, uma renomada escola de administração da Universidade da Pensilvânia, o professor Christian Terwiesch resolveu testar o ChatGPT-3. Submeteu o dispositivo a uma prova e concluiu que ele receberia notas entre B e B- no exame. E com isso, Terwiesch sugere que sejam revisadas as políticas de provas, o design do currículo e o ensino.

Em Paris, os dirigentes da Sciences Po, cujo campus principal fica em Paris, proibiram o uso do chatbot. A punição de quem avançar o sinal pode ir até à expulsão do aluno da universidade ou mesmo do ensino superior francês.

Vale notar que para além de "acertar" a resposta, como um oráculo moderno, o robô é capaz de explicar o porquê daquela resposta trazendo, muitas vezes, uma explicação bastante didática e satisfatória.

No entanto, o ChatGPT também tem o potencial de ser usado de maneira indevida, a antiga "cola" reinventada no século 21.

Essa é uma preocupação real para as instituições educacionais e é por isso que algumas escolas, como as de Queensland na Austrália, estão proibindo seu uso pelos alunos.

Respaldadas no fato de que os termos de uso da plataforma explicitam que, para usar a ferramenta é preciso ser maior de idade, adotaram uma solução técnica —bloquear o acesso ao site nos computadores e redes da escola— para tentar retardar um problema que, seguramente, vão precisar enfrentar de novo logo mais.

Já algumas universidades australianas, como a Flinders University, a University of Adelaide e a University of South Australia, tomaram outra rota, atualizaram suas políticas para permitir o uso de inteligência artificial (IA) desde que seja declarado.

Ao invés de proibir completamente o uso da ferramenta, essas universidades buscam "ajudar os professores e alunos a usar ferramentas digitais para apoiar o aprendizado", como disse a professora Romy Lawson, vice-reitora da Flinders University. Isso mostra como é possível encontrar um equilíbrio entre os benefícios do ChatGPT e a preocupação com a fraude acadêmica.

O debate por lá, no entanto, só está começando e ao mesmo tempo que decidiram permitir o uso dessa tecnologia, existe uma proposta de retomar com mais ênfase tarefas com escrita à mão (!!!) enquanto buscam uma forma de incorporar a tecnologia no processo de aprendizagem.

Por enquanto são exemplos pontuais, instituições que estão atentas a uma questão que vai ficar cada vez mais presente no nosso cotidiano. Mas já apontam que, logo mais, vamos ter que enfrentar esse dilema por aqui. Estamos preparados?