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Pedro e Paulo Markun

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Imagem de Trump preso prova que IA já ameaça nosso conhecimento da verdade

Imagem gerada por inteligência artificial coloca Donald Trump no que parece ser uma cela de presídio - Reprodução/ Twitter/ @EliotHiggins
Imagem gerada por inteligência artificial coloca Donald Trump no que parece ser uma cela de presídio Imagem: Reprodução/ Twitter/ @EliotHiggins

Pedro e Paulo Markun

Colunistas do UOL

30/03/2023 04h00Atualizada em 30/03/2023 11h22

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O fundador do coletivo de jornalismo independente Bellingcat, Elliot Higgins cansou de esperar e decretou ele mesmo a prisão do ex-presidente americano Donald Trump.

As imagens, geradas com a inteligência artificial Midjourney, concretizam algo que já vem sendo debatido faz algum tempo: o impacto que essas tecnologias generativas têm e terão no universo das fake news.

A thread no Twitter de Elliot traz uma longa reflexão sobre mídia, fake news e inteligência artificial, mas as fotos rapidamente saíram do Twitter dele e se espalharam por outras redes sociais, sem o devido contexto.

Mais do que isso, o que meses atrás ainda era um trabalho relativamente complexo, com um passo a passo que só nerds de programação conseguiam entender ou na dependência de softwares de procedência duvidosa, está cada vez mais acessível para qualquer pessoa.

Os bloqueios e travas de segurança de softwares como Midjourney e Dall-E não são suficientes agora e as soluções livres, como o Stable Diffusion, estão maduras.

Para além de uma solução técnica, vamos precisar de muita engenharia social. Será preciso que nós, seres humanos, coletivamente revisemos o nosso pacto com a verdade.

Só acredito vendo.

Essa frase popular que remonta lá a São Tomé, que precisou ver Jesus ressuscitado antes de acreditar, tem também uma interpretação recorrente na nossa sociedade:

Se eu vi, então é verdade."

Agora essa verdade entrou em xeque.

Ver uma foto e, muito em breve, ver um vídeo não serão mais instrumentos garantidores da verdade.

Não que isso já não estivesse em disputa. Em 2018, na eleição para governador de São Paulo, vazou na internet um suposto vídeo de sexo do então candidato João Dória.

O vídeo, com baixa resolução, não permitia afirmar com clareza que se tratava do então candidato, e o caso seguiu nas notícias com idas e vindas de peritos de vários lados. Mas a dúvida estava lançada.

Uma busca rápida na internet mostra montagens com vários graus de sofisticação com imagens de todos os presidentes (e candidatos) do Brasil colocados em situações degradantes e/ou feitas para gerar rejeição do eleitor.

Não vamos reproduzir essas imagens porque acreditamos que —em parte— a solução desse dilema depende dos próprios comunicadores se colocarem no papel de impedir a circulação desse tipo de material.

Mas resolvemos compartilhar algumas outras imagens, menos danosas e mais divertidas com vocês.

(In)felizmente a base de treino do Midjourney não tem imagens suficientes das nossas principais figuras políticas para gerar resultados consistentes, mas como já falamos aqui outras vezes, é questão de tempo. E treinar um modelo específico não é mais uma grande operação técnica.

Lula, Jair Bolsonaro  e Dilma Rousseff  - Reprodução - Reprodução
Lula, Jair Bolsonaro e Dilma Rousseff criados pelo Midjourney
Imagem: Reprodução

Como vocês podem ver, os resultados não dão muita margem para preocupação e, ao mesmo tempo, é possível ver que já existe ali algum aprendizado.

Imagens criadas por IA - Reprodução - Reprodução
Imagens de IA: Trump com Michael Jordan; Keanu Reeves lavando louça; Gandhi usando óculos de RV
Imagem: Reprodução

O problema é sério e só vai crescer.

Precisamos urgentemente colocar educação para a mídia como uma peça fundamental do pensamento crítico das nossas crianças e das próximas gerações.

Já estamos atrasados na briga pela reinstituição da verdade.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado, foi São Tomé que, segundo os Evangelhos, precisou tocar nas chagas de Jesus Cristo para acreditar na Ressureição, e não São Tomás de Aquino.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL