Do que é feito um buraco negro? Acredite, você tem a resposta
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Pergunta de Tainá Cecatto, de Munique, na Alemanha - quer enviar uma pergunta também? Clique aqui
Brilhante, Tainá! Que pergunta densa e massiva. Para explorar a profundidade de seu questionamento, convoquei o astrônomo Ricardo Ogando, do Observatório Nacional. Por complexo que pareça, a resposta é até bem simples: "Os buracos negros são compostos pela mesma matéria de que somos feitos, dos elementos que estão na tabela periódica", explica Ogando. "Resumindo, eles são feitos da mesma matéria comum que há em mim, em você, em bicicletas, casas, planetas e estrelas", completa poeticamente.
Ogando segue a aula: "Os elementos são sintetizados por meio de fusão nuclear (por exemplo, a combinação de quatro átomos de Hidrogênio em um de Hélio), que acontece nas estrelas até acabar esse 'combustível nuclear'. No caso de estrelas de grande massa (com mais de cinco vezes a massa do Sol) elas explodem como supernovas. Aqui surge uma encruzilhada: o resto da explosão das de menor massa vira estrela de nêutrons, enquanto as maiores (mais do que 20 massas solares) se transformam em buracos negros".
Mas nem só de matéria ordinária, como cantaria o compadre Washington, se sustenta um buraco negro. Tem um pouquinho de matéria escura também. Apesar de ela existir em mais abundância (olha o Tchan aí de novo) do que a matéria comum no Universo, ela tem densidade baixíssima e só interage gravitacionalmente. "Ela não bate, não gruda, simplesmente atravessa as coisas", simplifica Ogando.
Aproveitando sua questão, Tainá, perguntei ao astrônomo como é que ele sabe tudo isso, uma vez que os buracos negros não emitem luz, ou seja, são invisíveis. Ele respondeu assim: "Realmente eles não emitem luz. E mesmo que emitissem, ela não conseguiria escapar de sua gravidade intensa. Mas existem maneiras diretas e indiretas de observar os buracos negros".
"Hoje, graças à recente capacidade de detecção de ondas gravitacionais, temos uma maneira direta, embora não visível, de detectar buracos negros", explica Ogando. A observação indireta, porém, é mais comum. "A observação indireta se aproveita do fato de os buracos negros não serem solitários no Universo. Outras estrelas podem orbitá-los e, quando próximas o suficiente, a matéria delas pode cair dentro do buraco negro. A fricção das partículas nesse fluxo de matéria é tão intensa que ela é aquecida a milhões de graus e emite raios-x, que são identificados por satélites em órbita", complementa.
Já o registro da primeira imagem de um buraco negro, divulgada em abril de 2019, revela um monstro totalmente diferente. O gigante com estimadas 6,5 bilhões de massas solares, fica no meio da galáxia Messier 87 (M87), a 55 milhões de anos-luz da Terra. A imagem dele foi composta por sinais eletromagnéticos gerados por elétrons acelerados na vizinhança do buraco negro e recebidos por oito radiotelescópios, espalhados pela Terra - inclusive no Pólo Sul.
Diante desse buraco negro supermassivo da M87, também inquiri Ogando sobre quão pequeno pode ser um buraco negro. Ele respondeu que, em teoria, ele poderia ter qualquer massa, mas na prática, em 2008, foi observado o menor de todos, com 3,8 massas solares.
E para aproveitar o máximo da boa vontade do gentil astrônomo, assim como um buraco negro que não deixa escapar nada que chega perto dele, vamos a uma última rodada de conhecimentos gerais e desmistificações sobre esses misteriosos astros.
Ogando esclarece que "muita gente pensa que buracos negros são aspiradores de pó galáticos, sugando tudo em volta, mas isso não é verdade. Estrelas e planetas podem orbitá-lo, assim como orbitam o Sol, sem cair nele. Além disso, o raio de ação de um buraco negro é muito pequeno. Se a massa for 18 vezes a massa do Sol, por exemplo, o raio de ação seria de 80 km, um tamanho ínfimo em comparação com as dimensões galácticas e o espaço entre as estrelas", arremata Ogando, cheio de axé.
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