Não vá perder a conta: como sabemos quantas estrelas há no céu?
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Pergunta de Estela Ribeiro, de Contagem, MG - quer enviar uma pergunta também? Clique aqui
A dona da sua resposta é a astrônoma Ana Carolina Posses, formada pelo Observatório do Valongo (UFRJ) e doutoranda na Universidad Diego Portales, do Chile. Recomendo segui-la no Twitter: @astroposses.
Ela me contou que "ainda na Antiguidade, as pessoas passavam mais tempo contemplando o céu noturno e as estrelas eram usadas como instrumentos de localização, para contar histórias (que hoje chamamos de mitologia) e para medir a passagem do tempo, identificando épocas de colheitas, de chuvas e de secas".
Nada mais natural, portanto, que em algum momento alguém se aventurasse a contar quantos desses pontos luminosos havia no céu. Posses me explicou também que, dessas contagens antigas, a que mais se consagrou foi a do grego Hiparco, no século 2 a.C.
Hiparco foi o primeiro a catalogar as estrelas e chegou ao número de 850 pontos luminosos no céu. Além de enumerar, ele também classificou os corpos luminosos de acordo com o brilho aparente. "Hiparco dividiu as estrelas em seis grupos, sendo as estrelas de magnitude 1 as mais brilhantes e as estrelas de magnitude 6 as menos brilhantes. Ou seja, quanto mais brilhante a estrela fosse, menor o número da magnitude", diz Posses.
"Esse feito foi tão importante que até hoje nós, astrônomos, o utilizamos como forma de classificação", completa. Com o passar do tempo, contudo, a escala teve que ser ampliada de acordo com os avanços da observação astronômica. O Sol, por exemplo, tem um brilho aparente tão maior do que o estabelecido pela escala de Hiparco que sua magnitude é negativa: -26,74.
Dezenove séculos mais tarde, já beneficiado pela invenção do telescópio, o astrônomo alemão naturalizado inglês William Herschel enxergou mais longe. Em sua tentativa de contar as estrelas observáveis, ele acabou descobrindo o formato da nossa galáxia, a Via Láctea, como mostra esse mapa publicado em 1781 —mesmo ano em que Herschel foi o primeiro a avistar o planeta Urano:
Herschel desenvolveu novos telescópios e aperfeiçoou o instrumento para as gerações seguintes seguirem investigando o céu e aumentando a quantidade de estrelas que podemos ver.
Atualmente, sabe-se que há cinco mil estrelas visíveis a olho nu a partir da Terra. "Só que uma pessoa nas melhores condições possíveis, em uma noite fora dos grandes centros, o mais escuro possível, em regiões serranas e montanhosas, só consegue ver metade disso, ou seja, até 2,5 mil estrelas. É que enquanto é noite em uma metade do planeta, é dia do outro lado do globo", afirma Posses.
De acordo com alguns estudiosos, em áreas urbanas afastadas de grandes centros, o número de estrelas visíveis a olho nu cai para cerca de 450. Na cidade grande, vemos, no máximo, umas 35. Com uma luneta ou telescópio amador, o número pode chegar a algumas dezenas de milhares de pontos luminosos observáveis.
Com a evolução dos telescópios, tanto terrestres como espaciais —o maior deles, aliás, foi batizado em homenagem ao Herschel e operou no espaço entre 2009 e 2013—, e dos cálculos astronômicos, o tanto de Universo que conseguimos enxergar também se expandiu. Outros telescópios que merecem menção nessa busca por conhecermos e contarmos as estrelas são o Hiparco —olha só outra homenagem a um astrônomo das antigas— e o Gaia, que já analisou quase dois bilhões de estrelas.
E olha que ainda é pouco. Nas estimativas mais atualizadas que encontrei com a ajuda da querida Posses, só a nossa galáxia teria até 400 bilhões de estrelas. Agora, imagine que o número estimado de galáxias existentes no Universo, de acordo com a Agência Espacial Europeia, equivale ao número de grãos de areia aqui no nosso planeta. Pense nisso da próxima vez que for à praia (de preferência quando acabar a quarentena, minha filha).
No fim das contas, o total estimado de estrelas no Universo que somos capazes de sondar é de pelo menos 1.000.000.000.000.000.000.000.000 estrelas (ou um septilhão, como se lê esse número com 24 zeros)
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