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Pelado, largado e muito mais: qual é o reality show mais bizarro do mundo?
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Qual é o reality show mais bizarro do mundo? - Pergunta de Marieta Gomes, Rio Real (BA) - quer enviar uma pergunta também? Clique aqui.
Esqueça todo e qualquer reality "normal", mainstream, por constrangedor que seja.
"BBB", "A Fazenda", "Largados e Pelados", "Casamento às Cegas", "Casa dos Artistas" (esse foi para denunciar a idade do colunista) ou qualquer outro programa de confinamento ou de exposição de situações da vida real diante de câmeras não passam de entretenimento pueril perto do que os japoneses —ah, esses meus ancestrais— cometeram no programa "Susunu! Denpa Shonen" (algo como "Não Prossiga! Juventude Louca", em tradução livre).
Imagine um misto de Jackass com CQC em seus momentos mais vexatórios, elevado ao cubo, e ainda estará longe de imaginar as situações a que o semanal nipônico submetia seus participantes, que, na maior parte das vezes, eram humoristas iniciantes em busca de estrelato.
Aproveitando-se da vulnerabilidade de artistas sedentos por fama, custasse o que custasse, os produtores do programa inventavam desafios desumanos e documentavam tudo, alcançando audiências na casa das dezenas de milhões de espectadores a custa do sofrimento alheio.
A escalada de sadismo chegou ao ponto de exigir intervenção do governo japonês, cancelando o programa por práticas de tortura. Com tudo isso, a atração esteve no ar na Nippon TV entre janeiro de 1998 e setembro de 2002.
Para exemplificar a insanidade deste reality surreal, cara rio-realense, vou me ater a descrever somente quatro das pegadinhas de longa duração do programa (que duravam vários episódios), em ordem crescente de bizarrice e de trauma causado aos competidores:
4. Torcida fiel
Essa era para testar o "amor" dos participantes por seus times de beisebol de coração. Três torcedores eram confinados numa pequena sala com uma TV que só passava jogos do time deles —as agremiações eram o Yomiuri Giants, o Hanshin Tigers e o Chunichi Dragons.
Eles começavam a temporada totalmente anônimos, com o rosto escondido do público. A cada vitória de seu time, o participante recebia comida e tinha parte do rosto revelado para a audiência —lembra que um dos atrativos para os participantes era a busca pela fama, né?
Se o time perdesse, contudo, nada de rango —sim, até o time volta a ganhar— e nem de energia elétrica - até o próximo jogo. Ou seja, um jejum de vitórias transformava o quarto em uma solitária, com jejum literal. Uma sequência de vitórias, por outro lado, garantia não só comida como um upgrade na qualidade dela, bem como mais e mais exposição da identidade do confinado torcedor.
3. Ilha deserta
Dois comediantes foram largados numa ilha deserta, sem comida nem informações sobre a localização deles. O desafio era construir algo (jangada, canoa, o que fosse) que os levasse nauticamente até Tóquio.
Depois de quatro meses, quando conseguiram finalmente sair da ilha, foram presenteados com um pedalinho, daqueles em forma de cisne, e desafiados a ir da Índia até a Indonésia montados nele!
2. Carona extrema
Num desafio transcontinental, o comediante Takashi Ito e o DJ Tse Chiu-Yan, de Hong Kong, tinham que ir, somente de carona, do Cabo da Boa Esperança, no extremo sul da África do Sul, até Nordkapp, no extremo norte da Noruega.
Sem poder usar dinheiro nem nada, os desafiados passaram fome, desidaratação e quase morreram —já no "meio do caminho", no deserto do Saara, Ito precisou ser levado de helicóptero para um hospital.
1. Um ano e três meses de solidão...
Se a bizarrice não estava suficiente, prepare-se para o ápice, a apoteose da falta de noção em um reality show, senhoras e senhores: ao longo de 15 meses, o humorista Tomoaki Hamatsu ficou pelado em um apartamento sem mais nada além de revistas (sabe aqueles volumes de páginas de papel impressas e encadernadas que eram objetos populares de leitura no milênio passado?) para fazer companhia.
O desafio imposto ao comediante era o de acumular o valor de 1 milhão de ienes (cerca de R$ 38,5 mil no câmbio atual) somente participando de promoções divulgadas nelas —focado na missão, chegou a escrever mais de 61 mil cartas.
Por causa do formato comprido do seu rosto, foi apelidado de Nasubi, "berinjela" em japonês. Na onda do apelido, a tarja televisiva utilizada para cobrir seu genital era, muitas vezes, uma versão ilustrada do legume.
Durante todo esse tempo, Nasubi ficou não somente confinado como também incomunicável (sem telefone, rádio, TV ou computador) e acreditando estar sendo filmado para um piloto, um teste, que só iria ao ar, em versão editada, se tudo corresse bem.
Alheio à exposição nua e crua (literalmente) que passou durante mais de um ano em tempo real (ou quase isso), Nasubi viveu do que os cupons ofereciam: comeu arroz cru, ração de cachorro e ganhou presentes de que não pôde usufruir para não deixar o confinamento, como ingressos para o cinema e uma bicicleta.
Não à toa, passou a apresentar transtornos mentais severos que nem a produção e nem a audiência identificaram —pelo contrário, exploraram e fizeram cada vez mais graça da situação, respectivamente.
Para piorar, quando Nasubi atingiu a meta, os produtores mudaram as regras do programa: no 335º dia, quando ele finalmente atingiu 1 milhão de ienes (somando o valor dos prêmios que acumulou), recebeu de volta suas roupas, foi vendado e enviado, de surpresa, para a Coreia do Sul.
Lá, curtiu um dia num parque de diversões com comida à vontade e, no dia seguinte, foi despido e confinado novamente. O desafio da vez era conseguir recursos, via promoções de revistas de novo, para bancar uma passagem aérea até o Japão.
Como Nasubi atingiu a meta rapidamente, as regras foram mudando e ficando mais difíceis: o valor teria que cobrir uma passagem na classe executiva; depois, de primeira classe.
Como ele já era um rato de concursos, conseguia os recursos rapidamente.
Quando não teve mais jeito de segurar, vendaram o comediante novamente e o transferiram para um apartamento em Tóquio. Quando tiraram sua venda, ele se despiu para continuar o desafio e, de repente... as paredes do apartamento caem e se revela que ele está em um estúdio de TV, com plateia ao vivo.
Imagina o choque do cara ao descobrir, dessa maneira, que estava sendo observado ao vivo por 17 milhões de espectadores esse tempo todo...
O resultado menos negativo dessa saga de tortura televisiva foi a inclusão de Nasubi no Guinness Book como pessoa recordista em se sustentar pelo período mais longo à base de prêmios conquistados.
A parte boa da história é que ele, aparentemente, superou a pegadinha mais sem noção de todos os tempos: a fim de arrecadar recursos para as vítimas do tsunami que atingiu Fukushima (sua cidade-natal) em 2011, Nasubi chegou ao topo do Everest em 2016.
Em 2020, o comediante evocou sua experiência de confinamento para estimular outras pessoas a se manter em casa no início da pandemia de covid-19.
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