Jovem desafia internet fraca e boletos para viver cultura gamer na quebrada
Com um celular na mão, internet limitada e boletos para pagar, jovem da zona sul de São Paulo sonha em ser gamer profissional no universo Free Fire, jogo mobile de ação e aventura que faz parte do cotidiano da juventude periférica.
Jogar Free Fire para curtir um lazer, passar o tempo para fugir das neuroses e ainda chamar os parças da família para formar o time e colaborar na criação de táticas que só eles conhecem. Esses são os principais atrativos para muitos jovens da quebrada, que estão tendo oportunidade de acessar o universo gamer agora com a popularização do smartphone nas periferias e favelas de São Paulo.
Um dos jovens que fazem parte desta cultura é Yago Brito, 21, morador do Jardim Santa Lúcia, bairro da zona sul de São Paulo. Foi sua namorada que apresentou o jogo. Ele logo fez o download, mas não conseguiu jogar por problemas com o seu dispositivo.
A cultura gamer sempre esteve distante das periferias devido ao alto valor dos consoles e dos jogos. Como o Free Fire é disponível para mobile, isso aproximou e cativou muitos jovens como Yago, que transformou o jogo em um hábito na sua rotina da quebrada. "Eu fui aprofundando, me especializando cada vez mais, e fiquei viciado no Free Fire".
Ele passa, em média, duas a três horas por dia jogando Free Fire. "Tem vezes que eu acho que não estou numa média boa, que estou ruim, aí eu me esforço mais, fico algumas horas a mais", afirma.
O jovem conta que hoje sua patente é a Diamante 2, classificação que serve para posicionar os jogadores com mais habilidades. Yago está a duas posições do mestre, uma das mais altas patentes do jogo. "O objetivo é alcançar ela, eu estou quase lá, uma hora eu chego lá", diz.
Essa experiência de ter uma patente Diamante e estar em busca de conseguir a classificação de mestre está sendo vivenciada há apenas um ano. Foi em 2019 que Yago conseguiu acessar essas tecnologias e experimentar a cultura gamer na quebrada.
"Eu venho descobrindo essa parada de videogame e jogo de celular agora, sabe? Na minha infância, meu pai e minha mãe não tinham condições de proporcionar um videogame ou um celular para que eu e meus irmãos pudéssemos jogar. Foi depois de mais velho que pude ter essas paradas. E foi agora que foi despertando esse interesse", afirma.
Cultura gamer, família e amigos
A possibilidade de criar uma comunidade virtual formada por amigos e parentes no Free Fire é um dos principais atrativos para Yago. Outros pontos importantes são a qualidade da computação gráfica que está acessível na tela de celular e a jogabilidade do game.
Yago atribui todas as suas conquistas no universo gamer de Free Fire à sua equipe, composta por amigos e familiares que moram próximos da sua quebrada. "É um grupo formado por mim, meu amigo Christopher, meu sobrinho Cameron e o Kauan", diz. Segundo ele, o fato do jogo ser coletivo o torna muito mais proveitoso, pois em equipe ele tem a oportunidade de formar táticas contra seu oponente.
De tempos em tempos, o jovem precisa interromper seus jogos devido à falta de internet ou de um plano de qualidade em seu território para proporcionar uma boa experiência. "Já tive que ficar vários dias sem jogar por não ter internet Consegui contratar um plano de internet para minha casa, mas antes tinha que usar a do vizinho", lembra.
Quando está chegando o dia 5 de cada mês é sempre uma apreensão para o gamer. Caso ele atrase um dia o pagamento do boleto, a internet pode ser cortada. "Eu tenho um plano aqui que o negócio é meio louco. Eu tenho que pagar até dia 5, quando o boleto vence. Passou do dia 5, se não pagar já era, a internet fica zoada até quitar", diz.
Yago conta que sonha com a oportunidade de se profissionalizar. "Se eu tivesse essa chance de poder viver dos jogos, de uma parada que eu gosto de fazer, seria ótimo, seria bacana demais. Não tem nada melhor que ganhar dinheiro fazendo uma coisa que você gosta, né".
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