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REPORTAGEM

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Pelo WhatsApp, ele realiza sonho de criança falar com herói na quebrada

Criança olha o animador de festas infantis José Luís Fernandes caracterizado como Homem-Aranha pelo celular - Arquivo pessoal/ José Luís Fernandes
Criança olha o animador de festas infantis José Luís Fernandes caracterizado como Homem-Aranha pelo celular Imagem: Arquivo pessoal/ José Luís Fernandes

Tamires Rodrigues

12/05/2021 04h00

Antes da pandemia, José Luís Fernandes, 28, morador do Jardim São Bernardino, localizado no município de Suzano, em São Paulo, trabalhava como animador de festa se fantasiando de super-herói. Mas com as medidas de isolamento impostas pela pandemia da covid-19, ele ficou sem opções de trabalho e renda.

Ao ver os boletos chegarem, Fernandes começou a pensar algumas alternativas para usar seu talento como animador de festa para conseguir sobreviver durante a pandemia.

Ao perceber que muitas crianças estão em casa sem poderem ir à escola, tendo o celular como uma de suas maiores fontes de entretenimento, o morador optou por improvisar: decidiu se conectar com essa turminha do barulho por meio de videochamadas no WhatsApp.

"Já vi pessoas que fazem videochamadas, mas não são muitas, né? Aqui em São Paulo, só eu faço", diz Fernandes.

Ele se caracteriza como um personagem que a criança deseja e conversa com ela durante 10 minutos. Os valores pelo trabalho variam de acordo com a complexidade para usar e adquirir a vestimenta dos super-heróis.

Os personagens mais pedidos pelas crianças são o Hulk, Batman, Capitão América e Mickey. O trabalho com essas fantasias custa R$ 20, já com o Homem-Aranha custa R$ 10.

"A diferença dos preços dos heróis é que o Homem-Aranha é mais fácil de fazer, agora o Hulk, Batman, Capitão América e o Mickey são mais difíceis, preciso de duas pessoas para me ajudar a vestir", afirma.

Muitos pais chegam até ele em busca de um diálogo diferenciado com seus filhos com a intenção de ajudar as crianças nas tarefas diárias, que muitas vezes os pais não conseguem entrar em acordo com os filhos.

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Pais buscam o trabalho de José Luís Fernandes para ele também aconselhar os filhos a fazerem as tarefas diárias, como estudar e tomar remédios
Imagem: Arquivo pessoal/ José Luís Fernandes

"Nas videochamadas eu já conversei com muita criança: criança especial, criança que não come, não obedece, criança que faz xixi na cama e a mãe pede minha ajuda para dar uns conselhos", diz.

"A história mais legal é de um menino que não tomava remédio, ele estava com a garganta inflamada, estava ruim. Aí eu liguei para ele vestido de Homem-Aranha falando que tinha que tomar o remédio para ficar forte, para ele me ajudar a lutar com os vilões. Então ele foi lá e tomou o remédio na mesma hora", acrescenta.

Atualmente o animador divulga seu trabalho e obtém seus contatos por meio de conteúdos que ele mesmo produz e posta em seu perfil no Facebook, mas ele conta que enfrenta constantemente o desafio da internet de baixa qualidade, quando o tempo está chuvoso em Suzano.

Com o seu trabalho em alta, ele revela que já chegou a fazer dez videochamadas por dia.

"A videochamada não é minha única renda, eu também faço festa infantil, só que está meio devagar", afirma Fernandes, fazendo uma referência ao impacto da pandemia na sua atividade profissional.

"Eu gosto é de trabalhar com festa infantil e com heróis. Gosto mais desse trabalho do que outros empregos que já tive", conclui.