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Jogadora da quebrada responde a preconceito desafiando gamers machistas
Ana Luiza, 13, moradora do Parque America, no Grajaú, região sul de São Paulo, é um exemplo das pré-adolescentes que estão sempre antenadas com as novas tendências de entretenimento digital. Uma de suas recentes descobertas são os jogos online, mais especificamente o jogo de ação e aventura do gênero Battle Royale, que envolve estratégias de sobrevivência e combate entre vários jogadores.
"A primeira vez que eu joguei um jogo online foi o Among Us, que era bem famoso na época. Só depois veio o Free Fire", diz Ana Luiza, que acessa esse universo digital gamer pelo celular.
Seus amigos a influenciaram para começar a jogar Free Fire. "Na escola, meus amigos falavam muito desse jogo, que era muito bom. aí na internet falavam muito dele também, as pessoas ficavam loucas. Então um certo dia, pensei: 'por que não jogar?'", lembra.
Ana recebeu muitas críticas no início. "Você era muito julgada por não conseguir jogar direito, por causa da Skin do jogo, que são as roupas que seu personagem usa, por você não ter diamante, essas coisas", diz.
Para desenvolver suas habilidades, ela procurou referências assistindo outras mulheres jogando "porque elas têm um jeito melhor de explicar", afirma.
"Esse processo de aprendizagem foi bem difícil, porque fui julgada até por amigos, que hoje já não são mais meus amigos. Eu fui assistindo vídeos de pessoas que jogam Free Fire, fui treinando, e deu tudo certo. Hoje eu sou boa", diz.
"Tem muito mais meninas jogando agora do que no início. No começo eram pouquíssimas", afirma.
Ana Luiza diz que mesmo com o aumento de meninas nos jogos, ainda recebem repressão de outros garotos, principalmente quando começam a ligar o microfone e falar durante as partidas.
"Direto eu fico ouvindo essas coisas. Não aconteceu comigo ainda, mas com algumas amigas, e eu já vi também. Tem meninos que acham que as meninas não podem jogar, ficam falando que elas têm que lavar uma louça, varrer um chão, limpar uma casa, que esse jogo não é para menina", conta Ana.
"Se isso acontecesse comigo, iria ficar sem entender, para ser sincera. Eu sou meio sem paciência quando essas coisas acontecem. Eu iria discutir até a pessoa ficar quieta, entendeu", acrescenta.
Ela ainda conta que sua melhor resposta é "chamando para uma x1", que no mundo gamer significa chamar para uma partida, e ganhando do adversário. "Eu iria responder numa partida, porque tem uns que que se acham melhor que os outros, ficam chamando os outros de boot".
Incentivando outras meninas
A jovem entende que uma das questões para essas situações de machismo acontecerem é a falta de representatividade de meninas no universo gamer, principalmente garotas negras e periféricas, que não têm oportunidade de acessar essa cultura.
"Eu quero começar um canal para me mostrar jogando. Quem sabe eu possa participar de torneio", diz.
"O que seria diferente no canal seria a cor da minha pele, seria o cenário, porque é bem diferente. Seria diferente também porque eu não tenho um PC próprio para jogar, mas dá para jogar pelo celular, gravar a tela", acrescenta.
Ana Luiza também quer inspirar outras meninas. "Eu ficaria muito feliz, porque estaria inspirando outras meninas a fazerem isso, a se mostrar."
A jogadora se diverte muito montando seu personagem, criando uma nova realidade no mundo virtual, mas com elementos da sua vida pessoal. "A personagem tem um pinguim, mas tem outros pets que eu também tenho. Geralmente eu coloco um cabelo black cacheado que eu tenho, coloco uma roupa assim, mas boa, sabe? Gosto de mostrar um pouco da realidade que vivo", afirma.
Outra jovem que se diverte no universo gamer é Kauane Vitória, 12, moradora da Vila Rubi, na Cidade Dutra, zona sul de São Paulo. Ela joga Free Fire há muito tempo, tanto que nem lembra exatamente como começou, mas afirma que já é muito boa.
Ela costuma jogar mais com meninos porque eles falam mais. "Jogo com microfone ligado direto para tentar fazer novas amizades. Eu não tenho muitas amigas meninas, tenho mais meninos, porque eles falam. Menina não fala muito", afirma Kauane.
Ainda assim, a jovem lembra uma situação de machismo que enfrentou: "Eu estava jogando, não sei o que estava acontecendo que eu só morria. Os meninos falaram assim: 'vai lavar a louça, vai dobrar a roupa, vai lavar roupa, aqui não é lugar de menina'. E ficaram fazendo bullying", afirma.
Mesmo quando encontra meninas nas partidas, Kauane diz não se identificar tanto com elas. "Sinto, sim, muita falta de ter mais meninas. Eu acho assim, se as meninas não falarem mais no Free Fire, os meninos têm mais possibilidade de ganhar, sim."
Para conseguir falar mais e em mais espaços virtuais, a jovem fez um canal no Youtube e está esperando bater mil inscritos para começar a fazer lives e vídeos jogando. "Eu edito, faço meus vídeos, capa, faço tudo", conta.
A falta de equipamento a impede de seguir produzindo conteúdos mais focados em jogos para seu canal. "Estou esperando ter outro celular para fazer coisas assim. Eu gostaria de fazer live ou então gravar um vídeo", finaliza.
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