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Mesmo com falhas, quebrada adota app de compras coletivas para gastar menos
"Quando vi o aplicativo eu já gostei por causa dos valores, as coisas eram muito baratas", diz Elvira Campos, 58, moradora do Jardim Kagohara, zona sul de São Paulo, que está usando o aplicativo Facily, solução de social commerce que incentiva os usuários a realizar compras coletivas de diversos produtos, entre eles estão itens de alimentação.
A compra dos alimentos é feita pelo app com preços competitivos em relação aos mercados da quebrada, e a retirada dos produtos é feita posteriormente na casa de vizinhos credenciados como pontos de distribuição. Essa é uma nova forma de consumo nas periferias e favelas de São Paulo.
Através da criação de grupos formados por consumidores, que em sua maioria são mulheres que fazem a gestão financeira da casa, o app apresenta ofertas de produtos que chamam a atenção das usuárias, que frequentam o supermercado diariamente e conseguem fazer uma boa avaliação dos preços.
Em meio à alta da inflação que afeta diretamente os preços de produtos da cesta básica, a dona Elvira aproveita o Facily para economizar na compra de itens como arroz, leite e óleo.
Outra moradora que tem usado o aplicativo por causa dos preços baixos em relação aos supermercados é Giovanna Alves, 20, vizinha da dona Elvira. Ela relata que conseguiu produtos com até 70% de desconto nas suas últimas compras no app.
"O sabão em pó que a gente comprou era de 500 gramas, e no mercado custa em média de sete a oito reais. Lá no aplicativo eu consegui comprar por R$ 1,99. Eu vi o preço do ovo também, pois agora está mais caro, e lá no Facily eu encontrei 30 ovos por R$ 10, só que eu fiquei com medo de comprar e estragar ou quebrar", diz Giovanna.
Em meio à crise econômica que afeta muitos moradores das periferias, a jovem afirma que o app está ajudando muitas pessoas que não conseguem fazer compras no supermercado.
"Tem muitas pessoas que compram pelo aplicativo porque não conseguem encontrar o mesmo preço em um mercado normal, então é muito bom para as pessoas que são mais necessitadas, que não conseguem fazer a compra do mês e não recebem um salário inteiro no final do mês", afirma.
A única ponderação que ela faz em relação ao aplicativo é em relação à dificuldade para realizar os processos de compra e os pontos de distribuição que ainda precisam aumentar na quebrada.
"Como ele não é tão objetivo não é tão fácil usar. Acho que uma pessoa que não sabe mexer com tecnologia não consegue comprar. E o fato de não ter muitos pontos de entrega também dificulta bastante se a pessoa tem dificuldade de se locomover", diz.
Embora os valores sejam bem atrativos, a dona Elvira, que tem um ponto de distribuição, concorda com Giovanna e conta que a entrega dos itens comprados ainda é um ponto a ser melhorado pelo app.
"O ponto de entrega era aqui perto de casa, mas a mulher responsável pelo ponto desistiu, por isso eu quis pegar para mim. Já que minha casa é um ponto de entrega, meus produtos vêm para cá mesmo", diz.
A moradora foi estratégica ao tomar a decisão de transformar a sua casa em um ponto de distribuição, no entanto, ela conta que vem lidando com problemas em relação à demora para a entrega dos produtos.
"A entrega não é rápida. Alguns produtos levam de 15 a 30 dias para chegar no ponto, mesmo assim compensa", afirma.
Por causa da questão do tempo de entrega, uma estratégia é comprar algo que não esteja precisando no momento. "Você sabe que vai demorar, mas que vai chegar", afirma dona Elvira.
Por dia, ela recebe em sua casa de duas a três compras realizadas no app, porém ainda não considera que o aplicativo visa beneficiar os moradores que disponibilizam as suas casas para fazer esse trabalho de distribuição no bairro.
"Ser um ponto de entrega não tem muita vantagem, é só para ser um ponto de entrega mesmo, para entregar para o povo. Não tem vantagem nenhuma, na verdade. Mas quando eu compro os produtos fica mais fácil", afirma.
As comissões pelas entregas também desagradam a Elvira. "A gente não recebe desconto. O que você compra é o que você paga. A gente ganha por entrega: cada entrega que faço eu ganho 10 centavos, 3 centavos, depende da entrega. O valor maior é R$ 1. O valor é muito pouco", diz a moradora.
Mesmo com essas desvantagens, para pessoas que querem contribuir com a logística do aplicativo, Elvira diz que a ideia de economia em produtos é muito vantajosa, principalmente por causa dos preços abusivos nos supermercados da quebrada.
"Os ponto de entrega são muito bons porque têm a agilidade de receber na porta de casa o produto que você compra. As pessoas vêm aqui pegar o produto que compraram pelo aplicativo. Elas estão elogiando o ponto de entrega, falando que é muito bom, que o atendimento é muito bom, todo mundo está gostando. Quando chega o produto, eu já lanço. As pessoas ficam sabendo e já vêm logo buscar. É bem prático", afirma.
Reclamações no Procon
Segundo dados do Procon, as reclamações contra o app Facily aumentaram de maneira expressiva em 2021. No primeiro semestre de 2020 foram registradas cinco reclamações, mas no primeiro semestre deste ano o número subiu para mais de 11 mil reclamações.
Segundo Fernando Capez, diretor executivo do Procon-SP, em setembro 10 mil reclamações foram registradas. "São de 15 a 20 mil reclamações por mês", afirmou em reportagem do Tilt. O número de reclamações fez o Procon-SP recomendar que as compras pela plataforma fossem evitadas.
Já a reportagem desta coluna identificou que uma grande parcela de moradores das periferias e favelas estão recorrendo a este formato de compra coletiva, porque não é mais possível fazer a compra mensal nos supermercados.
"Eu comprei umas coisas pelo Facily, as primeiras compras demoraram a chegar, até cancelei e pedi estorno. Na segunda vez, alguns produtos foram cancelados por eles mesmos. Agora fiz outro pedido, mas veio faltando produtos. Pedi seis cremes de leite e só vieram três", diz Edinete Ferreira, moradora do bairro Parque Santo Amaro, na zona sul de São Paulo.
A experiência problemática com compras no aplicativo e a demora para a entrega dos produtos incomodam a usuária, assim como foi relatado pela dona Elvira e pela jovem Giovanna. Mas a economia de dinheiro tem pesado na gestão das compras de casa e, por isso, ela ainda prefere usar o app. "Tirando a demora, a principal vantagem é que as coisas são mais econômicas", diz.
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