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Estudo aponta novas doenças e desilusão de jovens como ameaças pós-pandemia
Há tempos que temos conversado aqui sobre cidades mais inteligentes e o quanto elas colaboram para suportar o dia a dia de comunidades e mitigar problemas corriqueiros. Falamos, por exemplo, da startup carioca que tem mirado nos alagamentos e até um sistema de transporte coletivo do futuro. Tudo isso já era uma tendência, a pandemia de covid-19 somente acelerou o processo.
Fato é que mais do que nunca quase o mundo inteiro está falando sobre novas tecnologias aplicadas e também está consumindo mais recursos tecnológicos. Não é surpresa, então, que o Relatório Global de Riscos 2021 do Fórum Econômico Mundial tenha questões ambientais, sociedade e tecnologia lado a lado entre as principais conclusões do levantamento.
Para que você tenha uma ideia, entre os riscos de maior probabilidade de acontecerem nos próximos dez anos estão condições meteorológicas extremas, falha em ações para mitigá-las, danos ambientais causados pelo homem, concentração de poder digital, desigualdade digital e falha de segurança cibernética.
Ao falar sobre os riscos de maior impacto na próxima década, doenças infecciosas ocupam o primeiro lugar na lista. Mas engana-se quem pensa que o alerta veio somente após a pandemia que vivemos.
Treze anos antes de que se ouvisse falar sobre covid-19, em 2006, o Relatório Global de Riscos chamou atenção para uma "gripe letal, com sua propagação facilitada pelos padrões de viagens globais e não contida por mecanismos de alerta insuficientes" que teria "grave comprometimento de viagens, turismo e outros setores de serviços, bem como cadeias de suprimentos de manufatura e varejo".
No ano seguinte, o estudo apresentou um cenário de pandemia e o papel amplificador dos "infodêmicos" —de acordo com a Organização Mundial de Saúde, a infodemia é o "dilúvio de informações —precisas ou não— que dificultam o acesso a fontes e orientações confiáveis".
Incrível, não? Estava lá para quem quisesse ouvir (na verdade, ler), mas ninguém deu atenção, de empresas a governos. Mas então, o que é o Relatório Global de Riscos e como ele consegue ser tão certeiro em algumas de suas projeções?
Antes de mais nada, precisamos falar sobre quem o publica, o Fórum Econômico Mundial, organização internacional de cooperação público-privada que reúne os principais líderes políticos, empresariais, culturais e outros da sociedade com o intuito de moldar agendas globais, regionais e industriais. De acordo com sua missão, eles acreditam que "o progresso acontece ao reunir pessoas de todas as esferas da vida que têm o ímpeto e a influência para fazer mudanças positivas".
A entidade publica anualmente uma série de relatórios que examinam em detalhes questões globais com o objetivo de melhorar o mundo. Entre eles, o Relatório Global de Riscos, que está em sua 16ª edição, analisa questões ligadas à sociedade, tecnologia, meio ambiente, economia e geopolítica.
Nas próximas semanas, nós vamos abordar aqui alguns dos tópicos do relatório de 97 páginas para não só difundirmos seu conteúdo, mas também trazermos as análises para a nossa realidade.
Como já era de se esperar, com o coronavírus batendo na porta de todos diariamente, doenças infecciosas aparecem como risco número um em um curto período de tempo para 58% dos entrevistados. E o "corona" também teve reflexo no que é listado como risco: "desigualdade digital", "desilusão juvenil" e "erosão da coesão social", recentemente incluídos na Pesquisa de Percepção de Riscos Globais, foram todos identificados pelos entrevistados como ameaças críticas de curto prazo. Também pudera.
Confira os dados:
Quando os entrevistados preveem que os riscos se tornarão uma ameaça crítica para o mundo? (em % dos entrevistados)
Com a economia de diversos países do mundo parada por meses, pessoas perderam trabalho e recursos, o que fez com que todas as conquistas para redução da pobreza e da desigualdade no mundo feitas até agora retrocedessem radicalmente com o novo cenário.
Segundo a Organização Internacional do Trabalho, as horas de trabalho perdidas no segundo trimestre de 2020 equivalem a 495 milhões de empregos, ou 14% de toda a força de trabalho do mundo.
É muita gente, mas a lista de afetados não se limita a trabalhadores: os mais velhos estão mais vulneráveis à doença, os mais jovens enfrentam problemas de aprendizado, há questões de saúde mental, a incerteza da economia do âmbito individual a global, além das questões ambientais que têm nos acompanhado há anos.
A parte boa é que sabemos que uma hora esta pandemia irá acabar. A questão que fica é: outras podem surgir?
Um levantamento do Instituto Internacional de Pesquisa de Política Alimentar não é muito animador: em média, uma doença infecciosa surge em humanos a cada quatro meses, sendo que 75% delas são provindas de animais.
Com isso em mente, o relatório do Fórum Econômico Mundial elenca a autoridade institucional, financiamento de risco, coleta e compartilhamento de informações e equipamentos e vacinas como quatro áreas-chave na resposta ao covid-19 que podem ser levadas para o futuro. Mas, infelizmente, não é só aprendizado que vamos levar conosco.
Apesar da desilusão juvenil também ser vista como um risco de curto prazo que seguirá, a pesquisa descobriu que o tema está sendo amplamente negligenciado pela comunidade global e alerta: caso a geração atual não veja saída para oportunidades futuras e perca a fé nas instituições econômicas e políticas de hoje, todas as conquistas de hoje serão em vão.
A "geração pandemia", do inglês pandemials, corre o risco de ficar perdida, já que a falta de oportunidades para participação econômica, social e política pode ter consequências duradouras.
Ainda temos muito o que falar sobre as 97 páginas do relatório. Até lá, que tal deixar nos comentários o seu ponto de vista sobre o que abordamos até agora? Nos vemos na próxima semana.
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