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Ricardo Cavallini

Pandemia mostra que precisamos montar espaços maker nos nossos hospitais

Tela de notebook exibe molde enquanto peças produzidas por impressora 3D são dispostas à mesa - Pixabay
Tela de notebook exibe molde enquanto peças produzidas por impressora 3D são dispostas à mesa Imagem: Pixabay

26/03/2020 04h00

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Já escrevi sobre as diversas iniciativas makers para criar e produzir equipamentos para os profissionais da saúde. São iniciativas maravilhosas que não apenas demonstram que qualquer pessoa pode ajudar e mudar o mundo a nossa volta para melhor, mas também trazem conforto psicológico, mostrando que existe colaboração e muita empatia, fundamental nessa época sombria.

Porém alguns destes projetos, os mais complexos, só ficarão prontos depois que a emergência acabar. E muitos deles serão produtos descartáveis ou sem certificação que não poderão (nem devem) ser usados após a crise passar.

Em algum momento devemos discutir os aprendizados e na sequência planejar e nos preparar para a próxima crise. Nesta discussão, o que já era claro para mim talvez agora fique claro para muitas outras pessoas, é preciso montar um espaço maker em cada grande hospital e em cada pequena cidade.

Vários hospitais pelo mundo já têm espaço assim e eles já são usados para criar soluções de problemas pontuais. Usam impressoras 3D, cortadoras a laser, circuitos e sensores para soluções das mais simples, como, por exemplo, aumentar o conforto de um paciente, as mais complexas, como imprimir em 3D um suporte para a traqueia de um recém-nascido com problemas para respirar sozinho.

Este uso não é restrito aos médicos. Enfermeiros e outras equipes também podem fazer bom uso do espaço maker. É o caso de Anna Young, cofundadora da MakerNurse, comunidade norte-americana de enfermeiros inventores que estão criando soluções para melhorar o cuidado ao paciente todos os dias.

Para fazer direito, é necessário ir além do espaço maker, precisamos um esforço coordenado para alimentar o hospital com materiais e projetos para se produzir todas as necessidades do local.

É preciso fazer um projeto de respirador que seja testado e validado. É preciso ter o desenho técnico de todas as válvulas e componentes necessários.

Uma iniciativa que pode ser global, não apenas local. O equipamento criado por uma universidade pode servir para o mundo inteiro, precisando apenas de validação local para materiais e equipamentos.

É preciso que os órgãos públicos de certificação trabalhem para validar quando e em qual situação cada aparelho e cada peça poderá ser usada, pois nem todas terão a certificação obrigatória para o dia a dia em tempos normais, fora de situações de calamidade.

E o que mais além do respirador? Quais outros equipamentos poderão ser necessários? Por exemplo, uma possível necessidade poderá ser comprar uma grande quantidade de equipamentos que servirão de fonte de energia, com todas as saídas possíveis para alimentar vários tipos de equipamento. Talvez uma mistura de peças prontas, materiais disponíveis e peças a serem produzidas ou montadas no local.

Para tanto, uma das coisas mais importantes serão especialistas e pensadores discutindo quais serão as possíveis crises do futuro. As próximas crises serão similares ou as necessidades serão completamente diferentes? E nestes casos, que tipo de material, equipamento, peças, processos ou profissionais serão necessários?

Vale a pena treinar mais gente para este tipo de emergência? Claro que sim. Nós já fazemos isso em grande escala para situações muito específicas. Todo prédio e toda empresa grande têm uma equipe que é treinada para lidar com incêndios. É um treinamento muito mais simples, obviamente, mas muito mais chato também. Você prefere fazer parte do CIPA ou ser treinado para usar uma impressora 3D?

E em cidades menores, não existem voluntários já agendados para diversos tipos de emergência? Por que não podemos ter isso já organizado? Grupos de modeladores 3D, engenheiros mecânicos e outras habilidades poderiam ter grupos prontos para situações de emergência? Esses grupos já estão se formando na crise, mas algo organizado seria muito mais eficaz.

Não tem o Programa Mais Médicos? O que eu proponho é um Programa Mais Makers, mas formando nossos próprios profissionais.

Se acontecer, todos irão perceber que praticamente tudo à nossa volta pode ser melhorado, inclusive os equipamentos mais complexos feitos pelas mais avançadas empresas. Imagine o benefício que podemos ter para um país como o Brasil, com soluções melhores e custos mais baixos para o SUS.

A boa notícia é que este treinamento não seria útil apenas para as crises. Formar novos makers iria gerar inovação como nunca vimos antes, criando novos produtos, novas empresas e novos empregos.

E se tem algo que precisaremos desesperadamente após a crise, será movimentar a economia. É a famosa e rara situação ganha ganha ganha.

Os makers serão verdadeiramente úteis para o Brasil quando a nomenclatura perder o sentido. Quando a maior parte de nós virar maker, chamar alguém de maker será tão esquisito quanto chamar alguém de internauta.

Go, makers, go.

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