Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Mais um escândalo do Facebook? Não é surpresa, mas é preciso dar um basta
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Precisamos falar sobre o Facebook. Este mês o jornal norte-americano The Wall Street Journal publicou uma série de artigos em um especial chamado The Facebook Files (os arquivos do Facebook), mostrando que a plataforma sabia com profundidade de falhas e dos sérios problemas causados por sua plataforma.
Com acesso a documentos internos, incluindo relatórios de pesquisa, discussões online de funcionários e até apresentações feitas para a alta administração, o jornal mostrou a existência de um programa interno chamado de XCheck, voltado para contas de alta repercussão.
Na prática essa atenção especial significa permitir que essas contas burlem as regras da plataforma à vontade. Os documentos internos dizem exatamente isso em todas as palavras, "para alguns membros selecionados de nossa comunidade, não estamos aplicando nossas políticas e padrões. Ao contrário do resto da nossa comunidade, essas pessoas podem violar nossos padrões sem quaisquer consequências".
Políticos disseminando fake news ou fazendo apologia a crimes são o melhor exemplo disso. Mas o grupo também conta com algumas celebridades.
A reportagem citou como exemplo o fato de Neymar ter postado fotos nuas da mulher que o acusou de estupro. O fato de o astro ter dezenas de milhões de fãs, sendo muitos deles adolescentes e crianças é um agravante neste caso.
Apesar da empresa ter como regra a idade mínima de 13 anos, sabemos que isso também não é respeitado.
Para que fique bem claro para alguns, a questão não é a injustiça dos meros mortais não poderem fazer o mesmo, mas de permitir que algumas pessoas usem a rede —uma ferramenta extremamente poderosa— para causar mal para outras pessoas e para a sociedade.
Os documentos também mostraram que Mark Zuckerberg negou propostas de melhorias e sugestões feitas por seus funcionários. Deixar a plataforma menos agressiva poderia diminuir a interação com a plataforma.
Também mostrou que tiveram resposta inadequada ou inexistente a incitações de violência ou abuso contra mulheres e etnias, bem como tráfico de drogas, órgãos e pessoas, mesmo quando essas situações já haviam sido identificadas pela equipe.
Como exemplo, um cartel de drogas mexicano que usou o Facebook para recrutar, treinar e pagar pistoleiros para matar um homem. Apesar dos posts evidentes e chocantes, a empresa não proibiu o cartel de continuar postando no Facebook e no Instagram.
Os documentos também mostraram que o Facebook sabe com profundidade como o Instagram está sendo tóxico para as meninas adolescentes, gerando frustrações relacionadas a beleza, atratividade, dinheiro, amizades, solidão e depressão, causando ou agravando severamente a saúde mental e a autoestima das adolescentes.
Os estudos realizados pelos profissionais da empresa concluíram que alguns desses problemas eram específicos do Instagram, não das redes sociais como um todo.
Não é escândalo, mas consistência
Não existe nenhuma surpresa nisso. Nem nos males nem no fato de seus executivos terem consciência do problema. Também não surpreende o fato de não terem interesse em resolver. Você se surpreende?
E se eu disser que a empresa, com todo esse conhecimento, tinha planos para lançar uma versão do Instagram para crianças?
É apenas mais um escândalo (ou mais alguns), o correto nem seria chamar de escândalo, mas sim de consistência.
E justamente por essa consistência, e nos assuntos mais relevantes dos tempos atuais, como privacidade, depressão e o ataque à democracia, é que precisamos falar sobre isso.
É preciso dar um basta.
Multas bilionárias que parecem enormes aos olhos dos mortais, mas que não causam cócegas perto do faturamento brutal da empresa não estão resolvendo o problema.
A empresa precisa ser dividida, Zuckerberg e seus executivos responsabilizados e multas com valores que realmente causem impacto.
Não parece ser uma tarefa fácil. Apesar da administração Biden parece estar olhando isso com muito mais atenção, falta entendimento, ação e coragem do congresso.
Esta discussão vale também para os outros países, como o Brasil. Obviamente, não podemos ter muita expectativa, até porque, boa parte dos políticos fazem parte do grupo de poderosos que a rede permite burlar as regras.
Permitir que o Facebook continue sendo maléfico é benéfico para alguns, justamente parte do legislativo, executivo e do judiciário que poderia — e deveria — fazer algo a respeito.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.