Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Opinião: Queda do Facebook mostra como monopólio prejudica a sociedade
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Como todos vocês já sabem, no dia 4 de outubro todas as plataformas do Facebook (Facebook, Instagram e WhatsApp) pararam de funcionar durante praticamente todo o dia.
O primeiro impacto foi o mais óbvio, a explosão de memes no Twitter. Em seguida, algumas teorias da conspiração, de ataques hacker até a possibilidade de Zuckerberg ter feito de propósito, para tentar desviar atenção do último escândalo que continua tendo bastante repercussão.
Mas esqueçam as teorias da conspiração, a resposta mais provável é também a mais simples. Problemas acontecem. Sistemas saem do ar. Códigos têm bugs, processos têm falhas, humanos erram. Resumindo em inglês, para não soar tão agressivo, shit happens.
O vazamento de informações deixou claro que a empresa nem sempre é transparente, então nunca saberemos com certeza o que realmente rolou, mas quer saber, isso é o menos relevante.
Não quero desmerecer a gravidade da situação. Não concordo com os que postaram com ironia sobre ter sido o dia mais produtivo do ano.
Eu entendo o impacto. Para milhões de brasileiros, foi um dia perdido. Para muitos empreendedores e profissionais liberais, cada dia conta. Um país cuja economia nos cobra cada minuto de trabalho para igualar as contas, bater as metas ou, simplesmente, sobreviver.
Enquanto uma parte das pessoas usa as redes apenas para se divertir, outra usa para trabalhar, divulgar, vender e se relacionar com seus clientes.
Empresas que ao longo dos anos passaram a acreditar que não valia mais a pena ter um site, pois o Instagram resolvia. Que não valia mais a pena ter uma lista de emails, pois seguidores nas redes era mais fácil. Não valia mais a pena ter um sistema de atendimento, pois o histórico do WhatsApp era mais fácil. Não valia mais a pena ter um e-commerce, pois a dupla WhatsApp e Instagram era mais que suficiente.
O principal meio de comunicação do Brasil ficou fora do ar. Muita gente ficou sem falar com amigos, família, colegas de trabalho e até receber notícias. Sim, porque infelizmente as três plataformas da empresa são a principal fonte de notícia para muitos brasileiros.
E como acontece com outras big techs, muitos sites e serviços usam a autenticação do Facebook, ou seja, muitos sites de comércio eletrônico também pararam de funcionar para boa parte de seus clientes.
No dia, viajei a trabalho e os dois motoristas contratados pela empresa (o de São Paulo e o de Salvador) não responderam SMS e não tinham Telegram ou Signal instalados. Não cito isso pelo incomodo de ter que ligar para falar com eles. Isso é besteira. Cito isso para mostrar como as pessoas ficaram dependentes de uma única solução.
É claro que redes sociais e aplicativos de mensagem são imensamente úteis e práticos. O problema não está em usar tudo isso, está em usar só isso. Em apostar todas as fichas em uma única solução, uma única empresa.
Quem centralizou toda a comunicação e suporte da empresa no WhatsApp ficou às cegas. Quem divulga produtos unicamente pelo Instagram idem. Quem lê notícias unicamente pelo Facebook, também.
Por isso afirmo que ficar fora do ar não é a parte mais relevante. Não desmereço o problema, mas acredito que a parte mais relevante é o alerta de como um monopólio pode prejudicar a economia, o mercado e, principalmente, as pequenas empresas e a sociedade.
Somos 7,7 bilhões de pessoas no mundo. Destas, 4,6 estão na internet. Destas, 2,79 estão na mão de uma única pessoa. Não sou historiador, mas muito provavelmente é a primeira vez na história que isso acontece.
Repito aqui meu apelo do último artigo. É preciso fazer algo a respeito.
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