Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Minecraft proibiu NFT e blockchain. E está certo: não é ambiente pra isso
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A Mojang Studios, estúdio de games pertencente a Microsoft, baniu NFT e blockchain em seu jogo mais popular, o Minecraft. Diversos desenvolvedores e admiradores de NFT passaram a criticar a postura. A minha opinião? Elogio e parabenizo a empresa pela atitude.
Ao proteger a cultura do jogo e seu ambiente, sem se preocupar com modismos ou com o lucro a qualquer custo, a empresa acertou em cheio.
Não sou contra NFT —inclusive elogiei seu uso e critiquei opiniões exageradas nesta coluna. Como todos já sabemos, não existe tecnologia boa ou ruim, existem usos bons e ruins.
No Minecraft, todos os jogadores têm acesso às mesmas funcionalidades, ao mesmo conteúdo. Isso é parte importante da cultura do jogo. E vale lembrar que ele é voltado para crianças. Manter-se longe da possível especulação ou de qualquer tipo de escassez ou marketplace só vai ajudar a preservar o jogo seguro.
Evitam, por exemplo, mecânicas de PlayToEarn, onde participantes deixam de ser jogadores e passam a usar a plataforma para ganhar dinheiro. A própria nomenclatura está errada. Play é entendido por nós como diversão. Um jogo em que se repete várias vezes a mesma atividade para ganhar dinheiro não é diversão, é trabalho.
Este é um dos motivos pelo qual a maior parte dos jogadores do Axie Infinity (o maior sucesso de PlayToEarn) estão em países subdesenvolvidos e com graves problemas socioeconômicos, como Filipinas, Venezuela, Tailândia e Brasil.
Veja, não sou contra marketplaces em jogos. Só acho uma boa notícia que o Minecraft se mantenha distante disso.
Assim, eles também evitam criar um comércio que seria muito difícil de ser controlado. Um bom exemplo disso é o Roblox, jogo que permite que outros jogadores criem e vendam minijogos, experiências, avatares e outros recursos.
No caso do Roblox, treinamento e incentivo para se ganhar dinheiro na plataforma estão por toda parte, principalmente nos canais oficiais da plataforma. A empresa adora falar sobre as histórias de sucesso de seus jovens jogadores, com adolescentes que ganharam muito dinheiro.
É como eles ganham dinheiro. Virou seu modelo de negócio. Não são mais um jogo, mas sim uma plataforma como o Uber, onde cada vez mais eles precisam de adolescentes comprando e vendendo na plataforma para crescer e fazer mais dinheiro.
Explorar uma parte disso, sejam eles entregadores ou crianças produzindo jogos, costuma até ser bom para o negócio. E quem controla isso? Ninguém.
Isso gerou problemas de todo tipo, de incentivo a jogos de azar a frustração dos jovens desenvolvedores que acabam trabalhando como executivos, mas sem sucesso nas vendas.
E pasmem, muitos desses acordos são feitos fora da plataforma, assim como acontece com muitos NFTs, com grupos contratando artistas para criarem artes por fora, com contratos leoninos e abusos de todo tipo. O ser humano sempre acha um jeito de burlar para fazer a coisa errada.
Você pode argumentar que o NFT dá mais poder para artistas e criadores (como eu mesmo defendi em artigos), mas, caramba, preciso repetir isso? São crianças.
No final, monetizar a plataforma transformou crianças e adolescentes em trabalhadores e consumidores vulneráveis.
Li vários comentários de desenvolvedores criticando a Mojang e profundamente desapontados. Ver essa comoção me fez enxergar esse pessoal como mineradores de ouro se queixando da legislação na Amazônia. É sério que vocês estão reclamando e decepcionados porque o Minecraft não vai permitir vender NFTs?
Novamente, mais uma vez, de novo e de novo. Não — podemos — esquecer — que — estamos — falando — de — crianças.
Criem vergonha na cara.
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